São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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Professores de SP decidem manter greve

Docentes recusaram por unanimidade as alterações feitas pelo governo do Estado no decreto que deu início à paralisação

Em nota, Secretaria da Educação diz lamentar que o sindicato insista em "proposta que não obteve o apoio da ampla maioria"

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Na avenida Paulista, professores protestam contra decreto


CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os professores da rede estadual de ensino de São Paulo decidiram ontem à tarde em assembléia no vão livre do Masp, na avenida Paulista, centro da capital, manter a greve que já dura duas semanas. Pela terceira sexta-feira consecutiva, fizeram passeata até a sede da Secretaria de Estado da Educação, na praça da República.
Os manifestantes recusaram por unanimidade as propostas do governo desta semana. A greve começou por causa de um decreto do governador José Serra (PSDB), de 28 de maio, com dois pontos principais.
O primeiro limita a possibilidade de transferências de professores -a secretaria diz que, só neste ano, dos 130 mil efetivados, 51 mil se transferiram. O segundo impõe uma prova para classificar a ordem dos professores temporários na escolha de classes, até então estabelecida por experiência.
Nesta semana, Serra publicou outro decreto que altera o anterior em três pontos. Pode pedir transferência quem: faltar até 12 vezes ao ano; tirar licença; ou estiver em estágio probatório (efetivados há menos de três anos). "Isto [não] significa nada", diz o presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro.
Em nota, a secretaria disse lamentar que o sindicato insista "em uma proposta que não obteve o apoio da ampla maioria dos cerca de 250 mil professores" e diz que, embora pequena, a greve prejudica os alunos.
Segundo a pasta, o decreto "visa melhorar as condições de ensino, a relação entre mestres e alunos e a continuidade dos processos pedagógicos".
Muitos professores, no ato, disseram que o decreto foi apenas a "gota d'água". "A paralisação é pela melhoria da qualidade da educação", diz Geralda de Souza Carvalho, 47, que dá aula de geografia em São José dos Campos (97 km de SP). Ela disse trabalhar com classes com até 50 alunos. "Neste ano, o governo mandou uma apostila para os professores, mas não temos como fazer cópias para aplicar para os alunos."
O governo ainda concedeu 5,41% de aumento mais a incorporação de uma gratificação que pode chegar a R$ 80. O piso de um professor iniciante de primeira a quarta série que trabalha 40 horas semanais passará a R$ 1.309,17, e o salário final, com gratificações, a R$ 1.617.
Os professores reclamam que este é o primeiro aumento do atual governo. O último havia sido em 2005, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), e, desde então, a inflação foi de 13,6%.
A adesão à greve, segundo a Apeoesp, é de 70% das escolas, enquanto o governo fala em 2% dos professores.
De manhã, houve uma audiência de conciliação no Ministério do Trabalho, mas a Secretaria da Educação não enviou representante. A procuradora Oksana Boldo pediu aos professores que apresentem as razões da greve até terça-feira.
A secretaria disse que não foi à audiência porque não pode resolver questões de dissídio e que a PGE (Procuradoria Geral do Estado) a representa em questões judiciais. A PGE diz que não recebeu a convocação -que chegou à secretaria.

Trânsito
Provocado pela Polícia Militar, o Ministério Público Estadual instaurou inquérito para apurar se as passeatas atendem às exigências legais para realização de protestos em locais públicos. A Apeoesp afirma que tomou todas as precauções antes de realizar o protesto e que fará outra passeata com o mesmo trajeto na próxima sexta.
De acordo com o sindicato, 60 mil pessoas participaram da passeata. O tenente-coronel Paulo Telhada diz que o número não passou de 8.000.


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