São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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MARIA BARANOWSKA (1917-2008)

Quatro gerações de cariocas sob Mucha

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Maria Baranowska não esquecia o dia em que chegou ao Brasil. Foi no navio que aportou na Ilha das Flores, no Rio, em 1947. Viveu então dedicada à família -sua não, que não casou ou teve filhos. Mas foi a governanta dos Arthou por mais de 60 anos.
Como a polonesa de Varsóvia que falava cinco línguas acabou em um navio de imigrantes era história contada a contragosto. Sua família era rica (dois automóveis e casa de campo), dizia, no fim dos anos 30, quando o nazismo crescia. Sabia só que os pais foram buscar o irmão no colégio. E nunca mais os viu.
Mas viu-se sozinha: empregadas fugindo, nazistas chegando e vizinhos delatando que era judia. Não era -mas logo virou anti-semita. Presa pelos alemães, ficou quatro anos a plantar batata no campo de trabalho forçado. Até que os americanos chegaram. Ela, dizia, ajudou na triagem dos expatriados.
Só não queria dizer por que não voltou à Polônia e acabou no Rio; onde um dia, na Praça 15, encontrou uma senhora "metida" que queria uma governanta alemã". Foi. E na casa do Botafogo viveu com quatro gerações dos Arthou. Criou duas. "Nunca teve namorado, Mucha?", cutucavam as crianças. E lá vinha impropério polonês, que sem sucesso tentavam imitar. É que "saiu parafuso da cabeça", Mucha dizia.
Se chegavam cartas, chorava; se alguém perguntava, gritava, em francês e polonês: não ia voltar. Até que em 1986 foi de férias à Europa e reencontrou o irmão: "achou "chatérrimo'". Doente havia sete anos, os patrões é que cuidavam dela. Até que morreu "quietinha", de pneumonia, dia 16. Tinha 90 anos.

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