São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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CAMUFLAGEM

Receio de assaltos e furtos, principalmente na zona sul, leva engravatados a abandonar a maleta preta de couro

Mochila ajuda executivo a disfarçar laptop

SIMONE HARNIK
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Combinar o tradicional terno e gravata com bolsas de ginástica, mochilas escolares e até sacolas de feiras. O modismo tem sido adotado por parcela de empresários e profissionais liberais de São Paulo para proteger seus laptops dos olhos atentos dos ladrões.
Alvo freqüente de assaltos e furtos, especialmente em regiões como a avenida Luís Carlos Berrini e o aeroporto de Congonhas (zona sul), cada vez menos o equipamento é transportado na tradicional maleta de couro preta. Em julho, segundo a polícia, foram registrados 11 roubos e 32 furtos na parte nobre da zona sul.
A estratégia já consta até das recomendações feitas por empresas a seus funcionários, para evitar prejuízos de cerca de R$ 10 mil -valor médio de um notebook.
É o caso de Rodrigo Aquira, 22, gerente de tecnologia de uma empresa localizada na região da Berrini. Aquira, que já foi vítima de assalto, disse que existe uma recomendação da empresa para que os funcionários carreguem seus notebooks em mochilas, "preferencialmente esportivas".
"É estranho alguém de terno e gravata com uma mochila assim. Infelizmente, tivemos de abrir mão da estética em nome da segurança", lamenta ele.
Mas há quem ache que a tática da mochila já está obsoleta e prefira abrir mão da dupla terno e gravata para tentar driblar os ladrões.
O gerente de uma consultoria de tecnologia, que preferiu não se identificar, disse que há uma recomendação para que os funcionários também evitem usar o traje durante a visita a clientes na região da Berrini.
"Nós estamos conversando com os nossos clientes para que eles não exijam o uso do terno. É que o terno e a mochila deixam a pessoa marcada", disse.
Para ele, a estratégia é disfarçar mais. "É melhor usar sacolas que não aparentem conter o equipamento. Maleta preta, nem pensar. Sacolas grandes, que poderiam ser usadas com roupas de academia, dão mais segurança", afirmou o gerente.

Disfarce
Recentemente, ao chegar de manhã ao escritório, o empresário Bob Wollheim, 42, deparou-se com seu sócio carregando uma sacola de feira. "Era daquelas que as avós costumavam ter, toda colorida. Perguntei se ele tinha ido à feira e ele respondeu que não, que era o laptop que estava no interior da sacola, para evitar assaltos."
Wollheim conhece de perto o problema. Ele próprio foi vítima de um roubo, em um semáforo próximo à avenida Berrini, região onde fica seu escritório.
"No final do dia, um motoqueiro bateu com a arma no vidro do táxi. Eu estava falando ao celular e só tive tempo de dizer a um cliente: "Está tudo bem, mas estou sendo assaltado". Peguei a mochila em que levava o laptop e a entreguei ao assaltante. Ele não pediu mais nada. Sabia o que queria."
Desde então, o empresário só leva seu equipamento dentro do porta-malas do carro.
Substituir a maleta preta, feita especialmente para os notebooks, por mochilas e bolsas de ginástica também é a tática antiassaltos utilizada por José Renato Raposo, 45, diretor de uma empresa de marketing, com sede no edifício World Trade Center da avenida das Nações Unidas.
"Andar com aquela maleta é sinônimo de dizer que está carregando um laptop. É como comprar um relógio de R$ 5.000 e pendurar no pescoço. Mas o que tem de ser visto, em relação a esse problema, é que, se há tantos assaltos, é porque muita gente compra os equipamentos roubados", afirmou Raposo.

Aeroporto
A área de desembarque do Aeroporto de Congonhas, na zona sul, costuma ser bastante propícia para o roubo dos computadores. Por isso, o engenheiro civil José Carlos Horita, 39, sempre deixa um espaço na mala, onde será acomodado o laptop.
"Antes de sair do aeroporto, quando estou em São Paulo, coloco o aparelho na mala, entre as roupas, assim ele não aparece. E, antes de embarcar, retiro da mala, para não correr risco de quebrar."
De acordo com o engenheiro, que mora em Maringá, no Paraná, e viaja com freqüência para Minas Gerais, Pará, Brasília e outros Estados, São Paulo é a única capital que exige esse cuidado extra com o equipamento.


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