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CAMUFLAGEM
Receio de assaltos e furtos, principalmente na zona sul, leva engravatados a abandonar a maleta preta de couro
Mochila ajuda executivo a disfarçar laptop
SIMONE HARNIK
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Combinar o tradicional terno e
gravata com bolsas de ginástica,
mochilas escolares e até sacolas de
feiras. O modismo tem sido adotado por parcela de empresários e
profissionais liberais de São Paulo
para proteger seus laptops dos
olhos atentos dos ladrões.
Alvo freqüente de assaltos e furtos, especialmente em regiões como a avenida Luís Carlos Berrini e
o aeroporto de Congonhas (zona
sul), cada vez menos o equipamento é transportado na tradicional maleta de couro preta. Em julho, segundo a polícia, foram registrados 11 roubos e 32 furtos na
parte nobre da zona sul.
A estratégia já consta até das recomendações feitas por empresas
a seus funcionários, para evitar
prejuízos de cerca de R$ 10 mil
-valor médio de um notebook.
É o caso de Rodrigo Aquira, 22,
gerente de tecnologia de uma empresa localizada na região da Berrini. Aquira, que já foi vítima de
assalto, disse que existe uma recomendação da empresa para que
os funcionários carreguem seus
notebooks em mochilas, "preferencialmente esportivas".
"É estranho alguém de terno e
gravata com uma mochila assim.
Infelizmente, tivemos de abrir
mão da estética em nome da segurança", lamenta ele.
Mas há quem ache que a tática
da mochila já está obsoleta e prefira abrir mão da dupla terno e gravata para tentar driblar os ladrões.
O gerente de uma consultoria
de tecnologia, que preferiu não se
identificar, disse que há uma recomendação para que os funcionários também evitem usar o traje
durante a visita a clientes na região da Berrini.
"Nós estamos conversando
com os nossos clientes para que
eles não exijam o uso do terno. É
que o terno e a mochila deixam a
pessoa marcada", disse.
Para ele, a estratégia é disfarçar
mais. "É melhor usar sacolas que
não aparentem conter o equipamento. Maleta preta, nem pensar.
Sacolas grandes, que poderiam
ser usadas com roupas de academia, dão mais segurança", afirmou o gerente.
Disfarce
Recentemente, ao chegar de
manhã ao escritório, o empresário Bob Wollheim, 42, deparou-se
com seu sócio carregando uma
sacola de feira. "Era daquelas que
as avós costumavam ter, toda colorida. Perguntei se ele tinha ido à
feira e ele respondeu que não, que
era o laptop que estava no interior
da sacola, para evitar assaltos."
Wollheim conhece de perto o
problema. Ele próprio foi vítima
de um roubo, em um semáforo
próximo à avenida Berrini, região
onde fica seu escritório.
"No final do dia, um motoqueiro bateu com a arma no vidro do
táxi. Eu estava falando ao celular e
só tive tempo de dizer a um cliente: "Está tudo bem, mas estou sendo assaltado". Peguei a mochila
em que levava o laptop e a entreguei ao assaltante. Ele não pediu
mais nada. Sabia o que queria."
Desde então, o empresário só leva seu equipamento dentro do
porta-malas do carro.
Substituir a maleta preta, feita
especialmente para os notebooks,
por mochilas e bolsas de ginástica
também é a tática antiassaltos utilizada por José Renato Raposo,
45, diretor de uma empresa de
marketing, com sede no edifício
World Trade Center da avenida
das Nações Unidas.
"Andar com aquela maleta é sinônimo de dizer que está carregando um laptop. É como comprar um relógio de R$ 5.000 e pendurar no pescoço. Mas o que tem
de ser visto, em relação a esse problema, é que, se há tantos assaltos,
é porque muita gente compra os
equipamentos roubados", afirmou Raposo.
Aeroporto
A área de desembarque do Aeroporto de Congonhas, na zona
sul, costuma ser bastante propícia
para o roubo dos computadores.
Por isso, o engenheiro civil José
Carlos Horita, 39, sempre deixa
um espaço na mala, onde será
acomodado o laptop.
"Antes de sair do aeroporto,
quando estou em São Paulo, coloco o aparelho na mala, entre as
roupas, assim ele não aparece. E,
antes de embarcar, retiro da mala,
para não correr risco de quebrar."
De acordo com o engenheiro,
que mora em Maringá, no Paraná, e viaja com freqüência para
Minas Gerais, Pará, Brasília e outros Estados, São Paulo é a única
capital que exige esse cuidado extra com o equipamento.
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