São Paulo, quinta-feira, 28 de julho de 2005

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VIOLÊNCIA

Advogado afirma que Gaby Boulos é inocente; juiz aceita denúncia de atentado violento ao pudor e cárcere privado

Acusado de abusar de menina se apresenta

ALEXANDRE HISAYASU
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Acusado de abusar sexualmente de uma garota de 12 anos que jogava malabares em um semáforo de São Paulo, Gaby Boulos, 27, se apresentou ontem à Justiça. Segundo seu advogado, Cristiano Maronna, ele se diz inocente da acusação. De acordo com o advogado, Boulos se apresentou para "esclarecer os fatos".
No final da tarde, o juiz Rodolfo Pellizari, da 14ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva de Boulos (até o julgamento) e aceitou a denúncia do Ministério Público contra o acusado. Ele responderá por atentado violento ao pudor e cárcere privado, e a pena máxima de prisão se houver condenação pode chegar a 18 anos.
Por causa da decretação de prisão preventiva, Boulos, que está no 77º DP, será transferido, segundo a Folha apurou, ainda nesta semana para a carceragem do 4º DP (Consolação), onde ficam os detidos acusados de praticar crimes sexuais. Maronna diz que pedirá um habeas corpus para que seu cliente responda ao processo em liberdade.
O crime aconteceu no último dia 20. Dois dias depois, a Justiça decretou a prisão temporária do acusado, que mora em uma casa de alto padrão no Morumbi (zona oeste) e é filho de uma advogada. Os pais de Boulos divulgaram, ontem, nota à imprensa na qual dizem confiar na inocência do filho (leia íntegra nesta página).
O acusado se apresentou por volta das 16h30 no fórum criminal da Barra Funda (zona oeste da capital), onde tramita o processo. Ele evitou falar com jornalistas.
De lá, o acusado saiu algemado em um carro da Polícia Civil e foi levado para a carceragem do 77º DP (Santa Cecília, no centro), onde chegou às 17h45.

O crime
A garota e um amigo de 13 anos estavam em um semáforo na Vila Sônia (zona oeste) quando um homem em um Peugeot cinza parou e ofereceu um lanche. Eles entraram no carro, mas o menino foi obrigado a sair pouco depois.
Em seguida, a garota relata ter sido violentada dentro do veículo. Ela foi abandonada em frente a um restaurante, anotou a placa do veículo e pediu ajuda a um funcionário, que chamou a polícia.
O laudo do hospital Pérola Byington confirmou que a menina foi vítima de atentado violento ao pudor. Pelas placas do carro, a polícia chegou até Boulos e pediu sua prisão na última sexta. A garota e o menino também reconheceram Boulos em fotografias.
A notícia da prisão foi recebida com cautela pelas crianças e suas famílias. "Senti mais alívio, mas me sinto ameaçada. Tenho medo de que a família dele mande alguém me pegar", disse a garota.
Já seu amigo de 13 anos contou ter pulado de alegria ao ver na TV a imagem do acusado sendo preso. "É ele mesmo. Achei bom." A mãe do garoto foi mais cautelosa. "É melhor ele estar preso, mas o medo é maior porque alguém pode vir atrás das crianças."
Na última segunda, eles ficaram assustados com a visita de dois homens que chegaram em um carro importado. Segundo a mãe do menino, eles disseram que eram da polícia, mas não apresentaram identificação. De acordo com ela, a dupla entrou na casa da vítima, confirmou quem era a garota e, em seguida, deixou o local.

Assédio comum
Meninas que trabalham em semáforos da capital dizem ser comum o assédio de motoristas. Segundo contaram, alguns oferecem lanche, compras no shopping e passeios. Outros propõem pagar um programa.
Há três anos em semáforos, Laura (nome fictício), de 14 anos, diz que já fez malabares e hoje vende bala em um dos cruzamentos da avenida Professor Francisco Morato, na Vila Sônia. A garota afirma já ter ouvido muitas insinuações de motoristas.
Sua irmã de oito anos é a mais assediada. "Eles perguntam se ela quer ir ao shopping." O irmão de 12 anos, apesar de ser menino, também não escapa do assédio. Os três começaram a trabalhar depois de o pai ter saído de casa há cerca de três anos.
Com Marina (nome fictício), de 13 anos, que faz acrobacias no cruzamento da avenida Nove de Julho com a rua Espéria, nos Jardins (zona oeste), a abordagem é um pouco diferente. "Eles perguntam o que a gente gosta e dizem que vão comprar." Ela diz já ter atirado pedras em carros depois que os motoristas fizeram gestos obscenos.
Ela e uma irmã de dez anos saem de São Bernardo do Campo (ABC) para ganhar dinheiro no semáforo. O arrecadado ajuda a manter a família. As duas irmãs mais velhas, de 16 e 18 anos, conta Marina, fugiram de casa porque não agüentavam mais ter que trabalhar nos cruzamentos.


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