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Protesto na marginal une gerentes, secretárias e analistas
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi o protesto dos gerentes
de marketing, das secretárias
executivas, dos analistas financeiros e de RH. O que se viu ontem por volta das 18h, interrompendo o trânsito na via de
acesso para a marginal Pinheiros, altura do Brooklin (zona
sul), tinha aparência bem diferente do típico militante de
passeata. Em vez de barbas por
fazer, eram homens bem escanhoados, vestindo ternos. As
mulheres, em cima de saltos 5,
usavam tailleurs. A polícia, chamada para restabelecer o fluxo
do trânsito, ficou de olho, perfilada, mas não encostou um dedo no pessoal corporativo.
"A gente não é favelado nem
estudante da USP", disse o administrador de website Robson
Estevão Baptista, para explicar
a inação da PM. "A maioria aqui
votou no [Gilberto] Kassab.
Não dá para entender por que
ele está nessa."
Ruth Silva, analista de recursos humanos, trabalha há mais
de dez anos na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, um
dos polos financeiros e de serviços de São Paulo, vizinha dali
de onde ocorreu o protesto.
Moradora em Santana, na zona
norte da cidade, ela demora em
média uma hora para fazer o
percurso casa-trabalho. Ontem, demorou duas horas.
"É uma palhaçada. Os usuários dos fretados são aqueles
que sempre chegam na hora, faça chuva, faça sol, tenha greve
de ônibus ou de metrô. E é essa
confiabilidade que o prefeito
Kassab quer que a gente perca."
Empregos
Segundo a profissional de
RH, muitas empresas da região
da Berrini preferem candidatos
ao emprego que declaram pretender usar ônibus fretados.
"Agora, com a confusão que
eles criaram, o que era um fator
a favor, está se tornando contra. Quero ver qual a empresa
que se disporá a contratar alguém de Guarulhos ou de São
Bernardo, sabendo que esse
profissional ficará à mercê do
transporte coletivo comum e
do trânsito de São Paulo. Até na
empregabilidade essa lei ridícula vai influir."
"Fretado! Fretado!", chegou,
gritando, Isilda Scabacino, profissional de marketing. Moradora em Santo André, ela paga
R$ 250 mensais para ir e voltar
ao trabalho todos os dias. Antes
da restrição ao tráfego dos fretados, a viagem de ida demorava duas horas. A de volta, outras
duas. Ontem, foram 3,5 horas
para ir. Ela chegou atrasada.
À tarde, a profissional de
marketing esquadrinhava a fila
de ônibus fretados no meio da
via de acesso à marginal. Procurava o dela, mas nem sinal -e
ele estava atrasado duas horas.
O protesto começou porque
todos os ônibus que servem o
pessoal da Berrini, em vez de
recolherem seus passageiros
em vários pontos, como ocorria
antes, foram concentrados em
um único local, na rua Guilherme Barbosa de Mello.
Só que o tal "bolsão" -pequeno para a demanda- logo
ficou lotado. Os fretados, que
chegavam para recolher seus
passageiros, não conseguiam
estacionar. Os que, já tendo feito o embarque, tentavam sair
do bolsão, não o conseguiam.
Ficavam presos no trânsito intenso da marginal.
"Você acha que está ruim
agora? Espera o fim das férias
escolares. Aí sim, ninguém conseguirá embarcar", desafiava
Regina Cassia Agustini, do setor financeiro de uma empresa
da região da Berrini.
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