São Paulo, terça-feira, 28 de julho de 2009

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Protesto na marginal une gerentes, secretárias e analistas

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi o protesto dos gerentes de marketing, das secretárias executivas, dos analistas financeiros e de RH. O que se viu ontem por volta das 18h, interrompendo o trânsito na via de acesso para a marginal Pinheiros, altura do Brooklin (zona sul), tinha aparência bem diferente do típico militante de passeata. Em vez de barbas por fazer, eram homens bem escanhoados, vestindo ternos. As mulheres, em cima de saltos 5, usavam tailleurs. A polícia, chamada para restabelecer o fluxo do trânsito, ficou de olho, perfilada, mas não encostou um dedo no pessoal corporativo.
"A gente não é favelado nem estudante da USP", disse o administrador de website Robson Estevão Baptista, para explicar a inação da PM. "A maioria aqui votou no [Gilberto] Kassab. Não dá para entender por que ele está nessa."
Ruth Silva, analista de recursos humanos, trabalha há mais de dez anos na avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini, um dos polos financeiros e de serviços de São Paulo, vizinha dali de onde ocorreu o protesto. Moradora em Santana, na zona norte da cidade, ela demora em média uma hora para fazer o percurso casa-trabalho. Ontem, demorou duas horas.
"É uma palhaçada. Os usuários dos fretados são aqueles que sempre chegam na hora, faça chuva, faça sol, tenha greve de ônibus ou de metrô. E é essa confiabilidade que o prefeito Kassab quer que a gente perca."

Empregos
Segundo a profissional de RH, muitas empresas da região da Berrini preferem candidatos ao emprego que declaram pretender usar ônibus fretados. "Agora, com a confusão que eles criaram, o que era um fator a favor, está se tornando contra. Quero ver qual a empresa que se disporá a contratar alguém de Guarulhos ou de São Bernardo, sabendo que esse profissional ficará à mercê do transporte coletivo comum e do trânsito de São Paulo. Até na empregabilidade essa lei ridícula vai influir."
"Fretado! Fretado!", chegou, gritando, Isilda Scabacino, profissional de marketing. Moradora em Santo André, ela paga R$ 250 mensais para ir e voltar ao trabalho todos os dias. Antes da restrição ao tráfego dos fretados, a viagem de ida demorava duas horas. A de volta, outras duas. Ontem, foram 3,5 horas para ir. Ela chegou atrasada.
À tarde, a profissional de marketing esquadrinhava a fila de ônibus fretados no meio da via de acesso à marginal. Procurava o dela, mas nem sinal -e ele estava atrasado duas horas.
O protesto começou porque todos os ônibus que servem o pessoal da Berrini, em vez de recolherem seus passageiros em vários pontos, como ocorria antes, foram concentrados em um único local, na rua Guilherme Barbosa de Mello.
Só que o tal "bolsão" -pequeno para a demanda- logo ficou lotado. Os fretados, que chegavam para recolher seus passageiros, não conseguiam estacionar. Os que, já tendo feito o embarque, tentavam sair do bolsão, não o conseguiam. Ficavam presos no trânsito intenso da marginal.
"Você acha que está ruim agora? Espera o fim das férias escolares. Aí sim, ninguém conseguirá embarcar", desafiava Regina Cassia Agustini, do setor financeiro de uma empresa da região da Berrini.


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