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Urbanistas estrangeiros veem uma cracolândia sem crack em visita a São Paulo
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma cracolândia sem
crack, uma Luz sem prostitutas, um centro sem assaltos e
ruas sem lixo. Foi essa a São
Paulo que um grupo de urbanistas estrangeiros trazido
pelo IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil), em parceria com a prefeitura, conheceu ontem.
Da Sala São Paulo, o grupo
saiu escoltado por dois guardas civis armados na direção
da Estação da Luz e da Pinacoteca. Em vez do trajeto original previsto pela prefeitura,
que incluía ruas do reduto do
tráfico de drogas, o grupo estrangeiro passou pela tangente da cracolândia e só viu de
longe a degradação dos prédios da região.
No meio do caminho, um
homem com um tubo de cola
na mão interrompeu a turma,
pedindo dinheiro e uma "ajuda pelo amor de Deus". Em
dois tempos, foi enxotado pela escolta armada.
A justificativa dos organizadores para a mudança de
itinerário foi "a falta de tempo". "Área degradada é área
degradada. Não sentimos a
necessidade de entrar naquela região porque temos dados
que falam dela", disse a presidente do IAB de São Paulo,
Rosana Ferrari.
"Saio da Sala São Paulo e
vejo aquele horror. Parece o
"Ensaio sobre a Cegueira".
Agora, o pessoal não viu isso.
Eles estão preocupados com
o desenho urbano da cidade",
afirmou Nadia Somekh, titular do Brasil na UIA (União
Internacional de Arquitetos),
da qual boa parte do grupo faz
parte, e responsável por trazer os estrangeiros ao país para discutir o projeto de revitalização da Nova Luz.
"A vizinhança precisa ser
limpada. Tem muito problema social. Quero voltar daqui
a dez anos e ver como ficou",
disse o cingapuriano Chong
Chia Goh, que riu ao saber do
antigo projeto de reurbanização de favelas que leva o nome do seu país.
À tarde, no auditório da
prefeitura, os arquitetos estrangeiros da UIA ouviram
alfinetadas de lado a lado do
secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Luiz
Bucalem, e da arquiteta petista Nadia Somekh.
Para ela, "as operações urbanas tomam 20% do mapa
da cidade e só são voltadas para os carros". Para ele, "não
cabe importar modelos e tentar transportar para cá, não
vai funcionar".
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