|
Próximo Texto | Índice
INFÂNCIA
Servidores são acusados de espancar adolescentes e traficar drogas na unidade Parelheiros, que já foi desativada
Justiça manda prender 14 da Febem-SP
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma decisão inédita no Estado de São Paulo, a Justiça determinou a prisão preventiva de 14 funcionários da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) por prática de tortura, formação de quadrilha e tráfico
de drogas.
Os crimes teriam ocorrido entre março e abril deste ano, na unidade da Febem de Parelheiros (zona
sul de São Paulo). A unidade foi
desativada em julho. Dezenove
adolescentes teriam sido agredidos pelos funcionários.
A decisão da juíza Leyla Maria
da Silva Lacaz, da 18ª Vara Criminal de São Paulo, tem data do dia
23 de agosto, mas só foi entregue
ontem ao cartório. A prisão por
crime de tortura, determinada a
partir da denúncia do promotor
criminal Alfonso Presti, é inédita
na história da Febem.
Dezesseis funcionários já tinham sido denunciados por tortura em um suposto espancamento na unidade Raposo Tavares (zona oeste de São Paulo),
ocorrido em novembro de 2000,
mas ninguém foi preso.
Na decisão, a juíza disse que determinou a prisão preventiva porque "há indícios suficientes de autoria e materialidade dos delitos"
e porque testemunhas foram
ameaçadas. Um funcionário, que
confirmou as agressões, disse à
Justiça que teve de mudar de Estado por causa das ameaças. Um
adolescente também afirmou que
sofreu represálias.
Tiveram a prisão preventiva decretada: Marcos Pereira de Oliveira, Cláudio Lima dos Santos, Marcelo Pereira de Oliveira, Marco
Antônio Sanches, Silvano de Jesus
Francelino, Edilson Bezerra Leite,
Alexandre Soares, Joel Miguel,
Sérgio Aparecido Almeida, Valter
dos Santos, José Clóvis Monteiro
Martins, Wilson Tadeu de Oliveira, Márcio Soares de Almeida e
Armando Leandro dos Santos.
Segundo o Tribunal de Justiça, a
18º Vara Criminal encaminhou
ontem ao Dipo (Departamento de
Inquéritos Policiais) os mandados de prisão. O Dipo, por sua
vez, vai repassar esse pedidos para
a Divisão de Capturas (Decap) da
Polícia Civil.
A juíza também aceitou a denúncia do promotor Alfonso
Presti e determinou abertura de
processo criminal para apurar os
crimes de tortura, formação de
quadrilha e tráfico de drogas.
Episódios
No pedido de prisão, o promotor relatou dois episódios de
agressões e um de tráfico. O primeiro teria ocorrido em 15 de
março deste ano, quando 14 adolescentes teriam sido espancados
na unidade Parelheiros.
As outras duas situações teriam
ocorrido no dia 14 de abril deste
ano. Segundo a denúncia, aceita
pela juíza, o funcionário Alexandre Soares teria oferecido maconha pela manhã para cinco adolescentes da Febem.
A intenção era fazer um flagrante do grupo. Isso foi feito à noite, o
que teria motivado novas agressões nos menores. As lesões são
apontadas nos laudos de exame
de corpo de delito.
Nos relatos, os adolescentes
afirmaram que receberam socos,
pontapés e golpes com barras de
ferro e de madeira. No final, segundo os menores, eles recebiam
um banho de água fria para amenizar os hematomas.
O promotor Alfonso Presti afirmou que a descoberta de "objetos
de tortura" em uma sala da unidade, no dia 29 de abril passado,
possibilitou a comprovação dos
crimes de tortura e também de
formação de quadrilha.
Promotores da Infância e Juventude de São Paulo localizaram
cassetetes de metal, barras de madeira, uma chave chinesa, um "espancador" feito com bico de um
extintor de incêndio e uma corrente grossa de ferro.
"Esses instrumentos mostram
que existia uma associação estável
de agentes com objetivo de cometer crimes. Isso nada mais é que
cometer o delito de formação de
quadrilha", disse Presti.
O promotor afirma que a determinação da prisão tem um "caráter pedagógico". "Isso mostra que
as instituições e a sociedade não
compactuam com esses crimes",
disse Presti.
A assessoria da Febem informou que dos 14 funcionários que
tiveram a prisão decretada, apenas cinco continuam vinculados à
fundação. Segundo o órgão, existe
uma sindicância em andamento
que ainda não comprovou o envolvimento desses cinco nas
agressões, mas que eles estão em
serviços administrativos.
Em nota oficial, a Febem reconheceu que a "unidade de Parelheiros, que teve de ser usada de forma emergencial, não era adequada e, por isso, fechou definitivamente o local".
Próximo Texto: Outro lado: "Decisão pune o lado mais fraco", diz sindicalista Índice
|