São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2004

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MASSACRE NO CENTRO

Medo de novos ataques em São Paulo leva a mudança de comportamento, detectada pela pastoral

Moradores de rua migram ou se armam

FLÁVIA MANTOVANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Com medo da violência, moradores de rua que dormiam na região central estão se armando ou migrando para outros locais da cidade. De acordo com o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, as migrações vêm acontecendo por temor de agressões como as que ocorreram na semana passada, deixando seis mortos, mas também por medo da própria polícia, que se concentra na região.
Segundo Diocene de Oliveira, coordenadora do Albergue Pousada da Esperança, que fica no Alto da Boa Vista, na zona sul da cidade, nos últimos dias aumentou o número de pessoas que dormiam no centro e que foram para lá. "Eles estão inclusive andando armados com paus e facas para se defender", observou ela.
Fábio Romano, 23, dorme com mais sete jovens na praça da Sé. Mostrando um grande pedaço de madeira que usam para se prevenir, Romano conta que um deles sempre fica acordado à noite. "Temos que nos defender. Ficamos só esperando o ataque", diz.
Edinaldo Fernandes da Silva, 33, dormia na praça da Sé e conhecia o "Pantera", uma das vítimas do massacre. Há três dias, conseguiu uma vaga no Albergue Pousada da Esperança.
"O centro está muito perigoso. Quero ficar longe", afirma Silva, que veio da Paraíba há 12 anos para trabalhar como pintor. Hoje, está desempregado.
Todas as noites, Eduardo Campos Almeida, 26, dorme perto de um chafariz na praça da Sé. Ele diz que não tem medo porque acha que os agressores "não vão voltar a atacar tão cedo no mesmo lugar", mas conta que várias pessoas que dormiam por perto saíram de lá após os ataques.
O padre alertou que a prefeitura deveria monitorar essas migrações, pois os moradores de rua estariam correndo riscos em locais menos policiados. Cita como exemplo um homem que teve o corpo coberto por gasolina na madrugada de ontem, na Vila Guilherme (na zona norte), em uma tentativa de queimá-lo.
A Secretaria Municipal de Assistência Social disse que não faz esse monitoramento e que o fato de a população de rua ser muito flutuante dificulta o controle.
Dados da secretaria mostram que, após os ataques em série, o número de pessoas atendidas pela Central de Atendimento Permanente da prefeitura cresceu. Entre as 7h de quinta-feira e as 7h de ontem, 591 moradores de rua foram levados para albergues. A média, em épocas de frio, é de 450 atendimentos por dia. Somente 12 se recusaram a ir para os abrigos com o carro da prefeitura. Geralmente ocorrem 50 recusas diárias.


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