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MASSACRE NO CENTRO
Medo de novos ataques em São Paulo leva a mudança de comportamento, detectada pela pastoral
Moradores de rua migram ou se armam
FLÁVIA MANTOVANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Com medo da violência, moradores de rua que dormiam na região central estão se armando ou
migrando para outros locais da
cidade. De acordo com o padre
Júlio Lancellotti, da Pastoral do
Povo de Rua de São Paulo, as migrações vêm acontecendo por temor de agressões como as que
ocorreram na semana passada,
deixando seis mortos, mas também por medo da própria polícia,
que se concentra na região.
Segundo Diocene de Oliveira,
coordenadora do Albergue Pousada da Esperança, que fica no Alto da Boa Vista, na zona sul da cidade, nos últimos dias aumentou
o número de pessoas que dormiam no centro e que foram para
lá. "Eles estão inclusive andando
armados com paus e facas para se
defender", observou ela.
Fábio Romano, 23, dorme com
mais sete jovens na praça da Sé.
Mostrando um grande pedaço de
madeira que usam para se prevenir, Romano conta que um deles
sempre fica acordado à noite.
"Temos que nos defender. Ficamos só esperando o ataque", diz.
Edinaldo Fernandes da Silva,
33, dormia na praça da Sé e conhecia o "Pantera", uma das vítimas do massacre. Há três dias,
conseguiu uma vaga no Albergue
Pousada da Esperança.
"O centro está muito perigoso.
Quero ficar longe", afirma Silva,
que veio da Paraíba há 12 anos para trabalhar como pintor. Hoje,
está desempregado.
Todas as noites, Eduardo Campos Almeida, 26, dorme perto de
um chafariz na praça da Sé. Ele diz
que não tem medo porque acha
que os agressores "não vão voltar
a atacar tão cedo no mesmo lugar", mas conta que várias pessoas que dormiam por perto saíram de lá após os ataques.
O padre alertou que a prefeitura
deveria monitorar essas migrações, pois os moradores de rua estariam correndo riscos em locais
menos policiados. Cita como
exemplo um homem que teve o
corpo coberto por gasolina na
madrugada de ontem, na Vila
Guilherme (na zona norte), em
uma tentativa de queimá-lo.
A Secretaria Municipal de Assistência Social disse que não faz
esse monitoramento e que o fato
de a população de rua ser muito
flutuante dificulta o controle.
Dados da secretaria mostram
que, após os ataques em série, o
número de pessoas atendidas pela
Central de Atendimento Permanente da prefeitura cresceu. Entre
as 7h de quinta-feira e as 7h de ontem, 591 moradores de rua foram
levados para albergues. A média,
em épocas de frio, é de 450 atendimentos por dia. Somente 12 se recusaram a ir para os abrigos com
o carro da prefeitura. Geralmente
ocorrem 50 recusas diárias.
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