São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2005

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CÓDIGO DA ADRENALINA

Hoje só dois locais têm legislação específica; maioria das operadoras terá dificuldades, afirma dirigente

País cria regras para esportes radicais

Eduardo Knapp/Folha Imagem
A estudante Martha Ribeiro, 16, pratica alpinismo indoor em academia especializada em alpinismo


AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Descer um rio abraçado a uma bóia pode ser uma experiência bem emocionante -mais ainda se, ao avistar as primeiras pedras, o esportista radical lembrar de que não existe nenhuma regulamentação nacional voltada à segurança no turismo de aventura.
A partir do próximo ano, porém, será possível exigir das operadoras que realizam esse tipo de atividade um certificado de qualidade. As duas primeiras normas para a regulamentação do setor, que estabelecem os parâmetros de segurança que a empresa deve cumprir e os requisitos mínimos para os guias e instrutores, serão publicadas dentro de 30 dias pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Até novembro, uma terceira norma, relacionada às informações mínimas que o cliente deve receber antes de comprar o passeio, deve ser publicada.
Essas são as primeiras ações para a implementação do sistema de certificação em turismo de aventura, afirma Maria Luisa Leal, que coordena o projeto no Ministério do Turismo. Só o Rio Grande do Sul e a cidade de Brotas (SP) possuem legislações relacionadas à prática no país, segundo Leal.
Ao todo, 19 normas estão sendo elaboradas. Seis delas (entre as quais estão as três que devem ser publicadas neste ano) abrangem todas as atividades do setor.
As demais devem ficar prontas no início de 2006. Cada uma delas estabelecerá as regras para uma modalidade específica (cavalgada, rafting etc), afirma Gustavo Timo, do Instituto de Hospitalidade, uma das entidades envolvidas na elaboração das regras.
Apenas as operadas que atenderem às seis normas gerais e às regras específicas das atividades oferecidas terão acesso ao certificado de qualidade.
A grande maioria das operadoras, porém, não deve conseguir atender às exigências, afirma Felipe Aragão Júnior, presidente da Abate (Associação Brasileira de Empresas de Turismo de Aventura). "Há operadoras boas, mas elas não são a regra. A maioria apresenta deficiências nas áreas de segurança e qualificação."
As empresas que não se adequarem não serão fechadas, pois as normas não serão obrigatórias. "Não teríamos condições de fiscalizar todos", explica Leal.
Para incentivar as operadoras a adotar os novos parâmetros, o ministério está elaborando um sistema de benefícios para as empresas que tiverem o certificado.
Uma das propostas é oferecer financiamentos com juros mais baixos para essas empresas. Outra idéia, que o ministério analisa com a Fenaseg (entidade que reúne seguradoras), prevê um preço mais barato do seguro de responsabilidade civil para as operadoras com certificado de qualidade. O seguro indeniza clientes que se machuquem durante o passeio.
Além disso, o Ibama está definindo diretrizes para esportes de aventura nos parques nacionais.
Uma das ações em estudo é que apenas operadoras com certificado possam atuar nesses locais. Além disso, o governo pretende realizar uma campanha para que os clientes exijam a adequação.
Para o presidente da Abate, as mudanças podem tornar o Brasil mais competitivo internacionalmente. Hoje, apesar dos atrativos naturais, o setor não atrai muitos estrangeiros, diz Aragão Jr. "Por falta de normas, não consideram o Brasil um destino confiável."
Não se pode dizer que eles estejam errados. Em julho, a estudante Letícia Santarém Amaro Rodrigues, 20, morreu durante salto de bungee jump, em Araguari (MG).


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