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Fuzis e pistolas são furtados de Nissan de policial em SP
Proprietário do armamento é um dos investigados por suposta tortura ocorrida em sala do Deic no dia 14 de agosto
Dois dias após o sumiço das armas, um "desocupado"
e um "morador de rua",
segundo a polícia, foram
presos acusados do crime
KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de estarem num carro estacionado numa área extremamente vigiada em São
Paulo, seis armas de alto poder
destrutivo foram furtadas do
Nissan Frontier de um policial
civil do Deic (Departamento de
Investigações Sobre o Crime
Organizado), no Carandiru, zona norte de São Paulo.
Dois fuzis AR-15 (de uso das
Forças Armadas), quatro pistolas e 204 munições foram levados na noite de 10 de agosto da
picape importada, modelo
2004, que pertence ao investigador Neurides Feitosa Ferreira, 47, da 1ª Divecar (Delegacia
de Investigações sobre Furto e
Roubo de Veículos), do Deic.
Além do veículo, que pela cotação de ontem do mercado está avaliado em cerca de R$ 60
mil, Ferreira admitiu ser dono
do armamento, conforme os
boletins de ocorrência 109 e 111,
feitos na delegacia onde ele trabalha e obtidos pela Folha.
Segundo o presidente do Sindicato dos Investigadores de
Polícia de São Paulo, João Batista Rebouças, um investigador com cerca de 20 anos de
carreira, como Ferreira, ganha,
em média e dependendo da categoria, R$ 2.500.
Rebouças também disse que
o policial só tem autorização
para trabalhar com revólveres
calibres 38 ou 32 ou pistolas .45
ou .40. "Ninguém pode portar
armas dessas no carro. Os órgãos responsáveis dão autorizações apenas em casos especiais para colecionar, mas em
casa. Não dá para sair por aí fazendo estripulias."
O coronel José Vicente da
Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública,
tem a mesma interpretação.
"Não pode sair investigando
com um fuzil desses no porta-malas. Seria uma aberração."
Conforme o BO 111, registrado por Ferreira dois dias após o
sumiço do material, a maior
parte das armas -exceção feita
a uma pistola- foi recuperada.
Um "desocupado" e um "morador de rua" foram presos e acusados pelo furto. As prisões foram feitas por Ferreira.
No dia 14, o Deic organizou a
Operação Inverno Quente, amplamente divulgada por sua assessoria, contra quadrilhas de
seqüestradores, de roubos a
banco, cargas e carros, desmanches, pirataria e estelionato na Grande SP e na capital. A
ação teve 2 supostos seqüestradores mortos, 13 pessoas presas e 4 armas apreendidas.
A Corregedoria da Polícia Civil investiga se os dois presos
acusados pelo furto já estavam
no Deic quando a operação
ocorreu e se foram incluídos na
lista dos 13. A prisão do "desocupado" José Jorge Silva, 29, e
do "morador de rua" Wellington Pereira de Souza, 18, só foi
comunicada à Justiça três dias
depois de ocorridas.
Pelo BO 111, Silva confessa o
crime, mas Souza nega a co-autoria. Ambos teriam usado um
alicate para arrombar o carro.
Uma das testemunhas das prisões é Dorival Balbino dos Santos, 39, também da 1ª Divecar.
Gritos no Deic
Ferreira é um dos policiais
que será ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil por suposta tortura a um possível preso
em 14 de agosto, dentro de uma
sala da Divecar, no Deic, durante a Inverno Quente, como publicou a Folha no dia 15 -a reportagem ouviu e gravou
ameaças de um policial a um
suposto criminoso.
Em outras ocasiões, entre
processos arquivados ou em
andamento, o investigador já
foi acusado de concussão (extorsão cometida por empregado público), lesão corporal,
abuso de autoridade, prevaricação (não agir como exigido
na função pública) e tortura.
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