São Paulo, terça-feira, 28 de agosto de 2007

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Fuzis e pistolas são furtados de Nissan de policial em SP

Proprietário do armamento é um dos investigados por suposta tortura ocorrida em sala do Deic no dia 14 de agosto

Dois dias após o sumiço das armas, um "desocupado" e um "morador de rua", segundo a polícia, foram presos acusados do crime

KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de estarem num carro estacionado numa área extremamente vigiada em São Paulo, seis armas de alto poder destrutivo foram furtadas do Nissan Frontier de um policial civil do Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado), no Carandiru, zona norte de São Paulo.
Dois fuzis AR-15 (de uso das Forças Armadas), quatro pistolas e 204 munições foram levados na noite de 10 de agosto da picape importada, modelo 2004, que pertence ao investigador Neurides Feitosa Ferreira, 47, da 1ª Divecar (Delegacia de Investigações sobre Furto e Roubo de Veículos), do Deic.
Além do veículo, que pela cotação de ontem do mercado está avaliado em cerca de R$ 60 mil, Ferreira admitiu ser dono do armamento, conforme os boletins de ocorrência 109 e 111, feitos na delegacia onde ele trabalha e obtidos pela Folha.
Segundo o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia de São Paulo, João Batista Rebouças, um investigador com cerca de 20 anos de carreira, como Ferreira, ganha, em média e dependendo da categoria, R$ 2.500.
Rebouças também disse que o policial só tem autorização para trabalhar com revólveres calibres 38 ou 32 ou pistolas .45 ou .40. "Ninguém pode portar armas dessas no carro. Os órgãos responsáveis dão autorizações apenas em casos especiais para colecionar, mas em casa. Não dá para sair por aí fazendo estripulias."
O coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, tem a mesma interpretação. "Não pode sair investigando com um fuzil desses no porta-malas. Seria uma aberração."
Conforme o BO 111, registrado por Ferreira dois dias após o sumiço do material, a maior parte das armas -exceção feita a uma pistola- foi recuperada. Um "desocupado" e um "morador de rua" foram presos e acusados pelo furto. As prisões foram feitas por Ferreira.
No dia 14, o Deic organizou a Operação Inverno Quente, amplamente divulgada por sua assessoria, contra quadrilhas de seqüestradores, de roubos a banco, cargas e carros, desmanches, pirataria e estelionato na Grande SP e na capital. A ação teve 2 supostos seqüestradores mortos, 13 pessoas presas e 4 armas apreendidas.
A Corregedoria da Polícia Civil investiga se os dois presos acusados pelo furto já estavam no Deic quando a operação ocorreu e se foram incluídos na lista dos 13. A prisão do "desocupado" José Jorge Silva, 29, e do "morador de rua" Wellington Pereira de Souza, 18, só foi comunicada à Justiça três dias depois de ocorridas.
Pelo BO 111, Silva confessa o crime, mas Souza nega a co-autoria. Ambos teriam usado um alicate para arrombar o carro. Uma das testemunhas das prisões é Dorival Balbino dos Santos, 39, também da 1ª Divecar.

Gritos no Deic
Ferreira é um dos policiais que será ouvido pela Corregedoria da Polícia Civil por suposta tortura a um possível preso em 14 de agosto, dentro de uma sala da Divecar, no Deic, durante a Inverno Quente, como publicou a Folha no dia 15 -a reportagem ouviu e gravou ameaças de um policial a um suposto criminoso.
Em outras ocasiões, entre processos arquivados ou em andamento, o investigador já foi acusado de concussão (extorsão cometida por empregado público), lesão corporal, abuso de autoridade, prevaricação (não agir como exigido na função pública) e tortura.


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