São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Mulher diz ter sido ignorada ao acusar médico há 15 anos

Denúncia de abuso contra Roger Abdelmassih foi levada ao Cremesp, à Promotoria e à polícia

Em 1998, outra mulher apresentou denúncia ao conselho regional; médico está preso desde o dia 17, acusado de 56 estupros


ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN

DA REPORTAGEM LOCAL

Documentos guardados por duas mulheres mostram que as denúncias contra o médico Roger Abdelmassih são conhecidas por instituições como Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Ministério Público Estadual e Polícia Civil há pelo menos 15 anos.
No fim de 1993, a ex-estilista Vanuzia Leite Lopes, 49, procurou as três entidades para acusar o médico. Para ela, caso sua denúncia tivesse sido investigada com rigor, o médico não teria feito novas vítimas.
Outra paciente de Abdelmassih, Cristina (que pede para não ter o nome publicado), uma consultora de viagens, apresentou em 1998 sua reclamação formal ao Cremesp e relatou ataques que teria sofrido na clínica do médico.
Abdelmassih, que está preso, nega todas as acusações.
Vanuzia conta que, em 1993, procurou o médico para tentar engravidar. Pagou cerca de R$ 150 mil (o dinheiro estava reservado para a compra de um apartamento na praia). Hoje, diz enfrentar graves consequências físicas e psicológicas pelo abuso que diz ter sofrido.
Segundo Vanuzia, na última das três sessões do tratamento, Abdelmassih praticou sexo anal e vaginal enquanto ela estava sedada, provocando uma contaminação bacteriana que fez com que ela perdesse as trompas. "Hoje, não tenho mais condições psicológicas de tentar ser mãe", diz.
Em março, diz ela, resolveu procurar a polícia e reapresentar a denúncia.
Vanuzia é uma das 39 denunciantes. Os demais crimes atribuídos ao médico na denúncia aceita pela Justiça são posteriores ao período em que Vanuzia o acusou.
A outra denunciante, Cristina, entregou ao Cremesp, em 4 de abril de 2001, um documento em que acusa o médico.
"Ele trancava-se comigo na sala. Me abraçava fazendo carícias em meus seios, tentando me beijar, enfiando sua língua em minha boca. Eu ficava emudecida, sem reação, só me afastando e tentando sair. Dizia no meu ouvido que iria me dar o filho que tanto queria."

Prisão
Abdelmassih está preso desde o dia 17, sob a acusação de ter cometido 56 estupros contra 39 mulheres -a denúncia foi feita com base em legislação que passou a vigorar no último dia 7, segundo a qual o antigo ato libidinoso passa a ser considerado como estupro; pela legislação anterior, seriam 53 atentados violentos ao pudor (atos libidinosos) e três estupros (quando há conjunção carnal). Seus advogados estão recorrendo.
No dia 18, o Cremesp suspendeu o registro profissional de Abdelmassih. Ontem, a Câmara Municipal de São Paulo revogou o título de cidadão paulistano dado a Abdelmassih.


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