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Mulher diz ter sido ignorada ao acusar médico há 15 anos
Denúncia de abuso contra Roger Abdelmassih foi levada ao Cremesp, à Promotoria e à polícia
Em 1998, outra mulher apresentou denúncia ao conselho regional; médico está preso desde o dia 17, acusado de 56 estupros
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Documentos guardados por
duas mulheres mostram que as
denúncias contra o médico Roger Abdelmassih são conhecidas por instituições como Cremesp (Conselho Regional de
Medicina do Estado de São
Paulo), Ministério Público Estadual e Polícia Civil há pelo
menos 15 anos.
No fim de 1993, a ex-estilista
Vanuzia Leite Lopes, 49, procurou as três entidades para
acusar o médico. Para ela, caso
sua denúncia tivesse sido investigada com rigor, o médico
não teria feito novas vítimas.
Outra paciente de Abdelmassih, Cristina (que pede para não
ter o nome publicado), uma
consultora de viagens, apresentou em 1998 sua reclamação
formal ao Cremesp e relatou
ataques que teria sofrido na clínica do médico.
Abdelmassih, que está preso,
nega todas as acusações.
Vanuzia conta que, em 1993,
procurou o médico para tentar
engravidar. Pagou cerca de R$
150 mil (o dinheiro estava reservado para a compra de um
apartamento na praia). Hoje,
diz enfrentar graves consequências físicas e psicológicas
pelo abuso que diz ter sofrido.
Segundo Vanuzia, na última
das três sessões do tratamento,
Abdelmassih praticou sexo
anal e vaginal enquanto ela estava sedada, provocando uma
contaminação bacteriana que
fez com que ela perdesse as
trompas. "Hoje, não tenho
mais condições psicológicas de
tentar ser mãe", diz.
Em março, diz ela, resolveu
procurar a polícia e reapresentar a denúncia.
Vanuzia é uma das 39 denunciantes. Os demais crimes atribuídos ao médico na denúncia
aceita pela Justiça são posteriores ao período em que Vanuzia o acusou.
A outra denunciante, Cristina, entregou ao Cremesp, em 4
de abril de 2001, um documento em que acusa o médico.
"Ele trancava-se comigo na
sala. Me abraçava fazendo carícias em meus seios, tentando
me beijar, enfiando sua língua
em minha boca. Eu ficava emudecida, sem reação, só me afastando e tentando sair. Dizia no
meu ouvido que iria me dar o filho que tanto queria."
Prisão
Abdelmassih está preso desde o dia 17, sob a acusação de ter
cometido 56 estupros contra
39 mulheres -a denúncia foi
feita com base em legislação
que passou a vigorar no último
dia 7, segundo a qual o antigo
ato libidinoso passa a ser considerado como estupro; pela legislação anterior, seriam 53
atentados violentos ao pudor
(atos libidinosos) e três estupros (quando há conjunção
carnal). Seus advogados estão
recorrendo.
No dia 18, o Cremesp suspendeu o registro profissional de
Abdelmassih. Ontem, a Câmara Municipal de São Paulo revogou o título de cidadão paulistano dado a Abdelmassih.
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