São Paulo, sexta-feira, 28 de agosto de 2009

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Países pobres concentrarão mortos por fumo, diz estudo

Estimativa é que, em 2010, 72% das mortes ocorrerão em nações de baixa e média renda

Tabaco mata 6 milhões de pessoas por ano, segundo catálogo com dados de 160 países elaborado por 2 entidades de saúde dos EUA


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase três quartos das mortes provocadas pelo fumo no próximo ano -exatos 72%- vão ocorrer em países de baixa e média renda, segundo estimativa do "The Tobacco Atlas" (atlas do tabaco), um catálogo com dados de 160 países publicado pela Fundação Mundial do Pulmão e Sociedade Americana de Câncer.
São justamente esses países os mais despreparados para tratar as cerca de 50 doenças relacionadas ao tabaco, como câncer de pulmão, enfisema e doenças cardíacas, de acordo com as duas entidades.
O tabaco mata 6 milhões de pessoas por ano, mais de um terço das mortes provocadas por todos os tipos de câncer, segundo a publicação.
No Brasil, onde não há dados precisos sobre mortes causadas pelo fumo, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) estima que morrerão em 2010 cerca de 200 mil pessoas de doenças relacionadas ao cigarro.

Pobres à frente
O tabagismo é cada vez mais uma doença de pobres, segundo Tania Cavalcanti, chefe da divisão de controle do tabagismo do Inca. "O consumo de cigarro está migrando para os países pobres e nos países ricos são sempre os mais pobres que fumam mais. Os pobres são os mais mal informados sobre as doenças, são os mais vulneráveis e os mais facilmente seduzidos pela indústria do cigarro."
Ela usa um dado da OMS (Organização Mundial de Saúde) para frisar como o cigarro se tornou um problema dos países mais pobres: dos 100 mil jovens que começam a fumar todo dia no mundo, 80% vivem em países pobres ou em desenvolvimento. "Os países pobres já têm mais fumantes do que os países ricos. A tendência óbvia é que as mortes acompanhem esse consumo. Isso demora um tempo porque o tabaco leva mais de 30 anos até provocar a morte", afirma.
O tratamento dessas doenças custa US$ 500 milhões (R$ 933 bilhões), o que equivale a um terço das riquezas produzidas no Brasil em 2008.
Segundo o atlas do tabaco, o custo das doenças relacionadas ao cigarro reduzem a riqueza de um país em 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto, ou a soma de todas as riquezas produzidas). Se esse percentual estiver certo para países como o Brasil, o tabaco teve um custo de R$ 104 bilhões em 2008, quando o PIB brasileiro atingiu R$ 2,9 trilhões.
A OMS inclui nos custos do tabaco o tratamento de doenças, as horas de trabalho perdidas por conta de hospitalização e os anos de vida perdidos com o fumo.

Desigual
A versão eletrônica do atlas (www.tobaccoatlas.org) permite comparar dados de dois países. O Brasil, apontado pela OMS como um país modelo no combate ao tabagismo, aparece como um país desigual quando cotejado com os EUA no site do atlas. O país tem menos homens fumantes do que os EUA (20,3% versus 26,3%), menos mulheres (12,8% ante 21,5%) e o consumo anual de cigarro para os que tem mais de 15 anos é muito menor aqui (580 contra 1.196). Mas o número de profissionais de saúde que fumam é três vezes maior no Brasil do que nos EUA (17% contra 4%).
O preço do cigarro no Brasil também é muito mais baixo do que nos EUA. Um maço de Marlboro custa US$ 4,8 no mercado norte-americano, enquanto no Brasil ele vale o equivalente a US$ 1,6.


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