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Países pobres concentrarão mortos por fumo, diz estudo
Estimativa é que, em 2010, 72% das mortes ocorrerão em nações de baixa e média renda
Tabaco mata 6 milhões de pessoas por ano, segundo catálogo com dados de
160 países elaborado por
2 entidades de saúde dos EUA
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase três quartos das mortes provocadas pelo fumo no
próximo ano -exatos 72%-
vão ocorrer em países de baixa
e média renda, segundo estimativa do "The Tobacco Atlas"
(atlas do tabaco), um catálogo
com dados de 160 países publicado pela Fundação Mundial
do Pulmão e Sociedade Americana de Câncer.
São justamente esses países
os mais despreparados para
tratar as cerca de 50 doenças
relacionadas ao tabaco, como
câncer de pulmão, enfisema e
doenças cardíacas, de acordo
com as duas entidades.
O tabaco mata 6 milhões de
pessoas por ano, mais de um
terço das mortes provocadas
por todos os tipos de câncer, segundo a publicação.
No Brasil, onde não há dados
precisos sobre mortes causadas
pelo fumo, o Inca (Instituto
Nacional de Câncer) estima
que morrerão em 2010 cerca de
200 mil pessoas de doenças relacionadas ao cigarro.
Pobres à frente
O tabagismo é cada vez mais
uma doença de pobres, segundo Tania Cavalcanti, chefe da
divisão de controle do tabagismo do Inca. "O consumo de cigarro está migrando para os
países pobres e nos países ricos
são sempre os mais pobres que
fumam mais. Os pobres são os
mais mal informados sobre as
doenças, são os mais vulneráveis e os mais facilmente seduzidos pela indústria do cigarro."
Ela usa um dado da OMS (Organização Mundial de Saúde)
para frisar como o cigarro se
tornou um problema dos países
mais pobres: dos 100 mil jovens
que começam a fumar todo dia
no mundo, 80% vivem em países pobres ou em desenvolvimento. "Os países pobres já
têm mais fumantes do que os
países ricos. A tendência óbvia
é que as mortes acompanhem
esse consumo. Isso demora um
tempo porque o tabaco leva
mais de 30 anos até provocar a
morte", afirma.
O tratamento dessas doenças
custa US$ 500 milhões (R$ 933
bilhões), o que equivale a um
terço das riquezas produzidas
no Brasil em 2008.
Segundo o atlas do tabaco, o
custo das doenças relacionadas
ao cigarro reduzem a riqueza
de um país em 3,6% do PIB
(Produto Interno Bruto, ou a
soma de todas as riquezas produzidas). Se esse percentual estiver certo para países como o
Brasil, o tabaco teve um custo
de R$ 104 bilhões em 2008,
quando o PIB brasileiro atingiu
R$ 2,9 trilhões.
A OMS inclui nos custos do
tabaco o tratamento de doenças, as horas de trabalho perdidas por conta de hospitalização
e os anos de vida perdidos com
o fumo.
Desigual
A versão eletrônica do atlas
(www.tobaccoatlas.org) permite comparar dados de dois
países. O Brasil, apontado pela
OMS como um país modelo no
combate ao tabagismo, aparece
como um país desigual quando
cotejado com os EUA no site do
atlas. O país tem menos homens fumantes do que os EUA
(20,3% versus 26,3%), menos
mulheres (12,8% ante 21,5%) e
o consumo anual de cigarro para os que tem mais de 15 anos é
muito menor aqui (580 contra
1.196). Mas o número de profissionais de saúde que fumam é
três vezes maior no Brasil do
que nos EUA (17% contra 4%).
O preço do cigarro no Brasil
também é muito mais baixo do
que nos EUA. Um maço de
Marlboro custa US$ 4,8 no
mercado norte-americano, enquanto no Brasil ele vale o
equivalente a US$ 1,6.
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