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Polícia usa falso político contra tráfico em favela
Cosme da Vila se passava por candidato a deputado pelo fictício partido PLM
Até a noite de ontem, 25 pessoas haviam sido presas sob suspeita de ligação com o tráfico de drogas em Heliópolis
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
Cosme da Vila sempre ostentou no seu carro de som
santinhos, bandeiras e nas
camisetas de cabos eleitorais
a sigla do seu partido, o PLM,
e seu número de candidato a
deputado estadual, o 70.171.
Apesar de o seu número já
dizer muito, ninguém nunca
desconfiou quando Cosme da
Vila e seus aliados escolheram a favela de Heliópolis,
uma das maiores do país, para montar sua base política.
No Código Penal, o artigo
171 fala sobre o crime de estelionato e suas variáveis. Nas
ruas, 171 é sinônimo, entre
outras coisas, de "falsário".
Ao escurecer ontem em
Heliópolis, zona sul de São
Paulo, Cosme da Vila pôs fim
na sua atividade política.
Armado e cercado de cabos eleitorais, tão falsos
quanto ele, Cosme da Vila revelou quem era: um policial
infiltrado para prender suspeitos de traficar drogas na
favela de Heliópolis.
Durante cerca de 60 dias,
policiais civis do Garra (Grupo Armado de Repressão a
Roubos e Assaltos) usaram o
falso político para enganar o
sistema de vigilância dos traficantes de Heliópolis e mapear pontos de tráfico e pessoas ligadas ao esquema.
SANTINHOS
No período da operação
para levantar informações
sobre o tráfico em Heliópolis,
Cosme da Vila ia sempre na
frente do seu carro de som,
cercado de cabos eleitorais
que, na verdade, também
eram policiais disfarçados.
Ao circular pela favela sob
a identidade de candidato a
deputado, os policiais do
Garra filmaram e fotografaram pontos usados para traficar e também quem movimentava a droga no lugar.
Para não chamar a atenção, Cosme da Vila e seus cabos eleitorais distribuíram
santinhos, pediram votos e
até fizeram promessas.
A opção em usar um falso
político para acessar pontos
mais críticos de Heliópolis
foi, segundo o delegado Gonçalves, o fato de que os traficantes têm um forte esquema
de comunicação para sempre
alertá-los sobre a presença
de estranhos na região, principalmente carros das polícias Civil e Militar.
25 PRESOS
Até o fechamento desta
edição, 25 pessoas haviam sido presas sob a suspeita de
fazer parte do tráfico de drogas em Heliópolis.
Um dos presos, segundo o
delegado responsável pela
operação, Osvaldo Nico Gonçalves, é tido como chefe do
tráfico na favela. Ao ser surpreendido pelos policiais do
Garra, ele tinha três identidades diferentes, que agora são
investigadas pela polícia.
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