São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2010

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Polícia usa falso político contra tráfico em favela

Cosme da Vila se passava por candidato a deputado pelo fictício partido PLM

Até a noite de ontem, 25 pessoas haviam sido presas sob suspeita de ligação com o tráfico de drogas em Heliópolis

ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

Cosme da Vila sempre ostentou no seu carro de som santinhos, bandeiras e nas camisetas de cabos eleitorais a sigla do seu partido, o PLM, e seu número de candidato a deputado estadual, o 70.171.
Apesar de o seu número já dizer muito, ninguém nunca desconfiou quando Cosme da Vila e seus aliados escolheram a favela de Heliópolis, uma das maiores do país, para montar sua base política.
No Código Penal, o artigo 171 fala sobre o crime de estelionato e suas variáveis. Nas ruas, 171 é sinônimo, entre outras coisas, de "falsário".
Ao escurecer ontem em Heliópolis, zona sul de São Paulo, Cosme da Vila pôs fim na sua atividade política.
Armado e cercado de cabos eleitorais, tão falsos quanto ele, Cosme da Vila revelou quem era: um policial infiltrado para prender suspeitos de traficar drogas na favela de Heliópolis.
Durante cerca de 60 dias, policiais civis do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) usaram o falso político para enganar o sistema de vigilância dos traficantes de Heliópolis e mapear pontos de tráfico e pessoas ligadas ao esquema.

SANTINHOS
No período da operação para levantar informações sobre o tráfico em Heliópolis, Cosme da Vila ia sempre na frente do seu carro de som, cercado de cabos eleitorais que, na verdade, também eram policiais disfarçados.
Ao circular pela favela sob a identidade de candidato a deputado, os policiais do Garra filmaram e fotografaram pontos usados para traficar e também quem movimentava a droga no lugar.
Para não chamar a atenção, Cosme da Vila e seus cabos eleitorais distribuíram santinhos, pediram votos e até fizeram promessas.
A opção em usar um falso político para acessar pontos mais críticos de Heliópolis foi, segundo o delegado Gonçalves, o fato de que os traficantes têm um forte esquema de comunicação para sempre alertá-los sobre a presença de estranhos na região, principalmente carros das polícias Civil e Militar.

25 PRESOS
Até o fechamento desta edição, 25 pessoas haviam sido presas sob a suspeita de fazer parte do tráfico de drogas em Heliópolis.
Um dos presos, segundo o delegado responsável pela operação, Osvaldo Nico Gonçalves, é tido como chefe do tráfico na favela. Ao ser surpreendido pelos policiais do Garra, ele tinha três identidades diferentes, que agora são investigadas pela polícia.


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