São Paulo, sábado, 28 de agosto de 2010

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Até trechos "limpos" do Tietê têm metais pesados

Pesquisa mostra que fundo do rio está contaminado em toda a sua extensão

Contaminação ocorre por esgoto doméstico e industrial e fertilizantes e agrotóxicos trazidos por enxurrada

MAURÍCIO SIMIONATO
DE CAMPINAS

Mesmo em trechos considerados limpos, onde pescar é algo comum, o Tietê esconde riscos à saúde como em pontos poluídos. Cromo, zinco, cobre, níquel, cobalto, cádmio e chumbo, entre outros metais pesados, estão depositados no fundo do rio.
Pesquisa do Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba (160 km de SP) constatou excesso desses elementos ao longo dos 1.150 km do rio, que atravessa o Estado e, em vários pontos, é usado para pesca e turismo.
O estudo coletou sedimentos em 12 pontos, da nascente à foz -no rio Paraná. Em dois anos de pesquisa -financiada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)-, foram 15 mil análises químicas.
Metais como cromo, por exemplo, chegam a estar quatro vezes acima do limite de contaminação estabelecido pela pesquisa nas regiões de Bariri e Ibitinga.
Em Nova Avanhandava, a concentração de cobre é duas vezes maior que o índice que indica início de contaminação. Em Pirapora do Bom Jesus, famosa pela espuma gerada pela poluição, o zinco no fundo do rio está duas vezes além do limite.
O trecho do Tietê que corta a capital paulista não foi pesquisado pelo fato de o sedimento do fundo ter sido mexido nos últimos anos em ações de desassoreamento.
Segundo o professor Jefferson Mortatti, coordenador do estudo, os metais pesados são levados ao rio com o despejo de esgoto doméstico e industrial sem tratamento e com o uso de fertilizantes e agrotóxicos em plantações -trazidos pela enxurrada.
"Nas regiões de Tietê e de Anhembi, fortemente agrícolas, aparece bastante metal pesado por causa de práticas como adubação e do próprio esgoto doméstico."

BARRAGENS
A concentração de cobre em Nova Avanhandava está na faixa de 350 microgramas por grama de sedimento coletado, considerada altíssima -a contaminação ambiental começar a partir de 200 microgramas por grama.
Nesse ponto, o alto índice do metal se deve ao uso de algicidas para evitar a proliferação de algas nas barragens.
"Elas são controladas com sulfato de cobre, pois afetam os motores de geração de energia. Só que o cobre do algicida se degrada e vai para os sedimentos. O peixe se alimenta desse sedimento."
Como no país não há lei específica sobre contaminação em sedimentos, a pesquisa usou critérios estabelecidos pela legislação canadense.


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