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Até trechos "limpos" do Tietê têm metais pesados
Pesquisa mostra que fundo do rio está contaminado em toda a sua extensão
Contaminação ocorre por esgoto doméstico e industrial e fertilizantes e agrotóxicos trazidos por enxurrada
MAURÍCIO SIMIONATO
DE CAMPINAS
Mesmo em trechos considerados limpos, onde pescar
é algo comum, o Tietê esconde riscos à saúde como em
pontos poluídos. Cromo, zinco, cobre, níquel, cobalto,
cádmio e chumbo, entre outros metais pesados, estão
depositados no fundo do rio.
Pesquisa do Cena (Centro
de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba (160 km de SP) constatou
excesso desses elementos ao
longo dos 1.150 km do rio,
que atravessa o Estado e, em
vários pontos, é usado para
pesca e turismo.
O estudo coletou sedimentos em 12 pontos, da nascente
à foz -no rio Paraná. Em dois
anos de pesquisa -financiada pela Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo)-, foram 15
mil análises químicas.
Metais como cromo, por
exemplo, chegam a estar
quatro vezes acima do limite
de contaminação estabelecido pela pesquisa nas regiões
de Bariri e Ibitinga.
Em Nova Avanhandava, a
concentração de cobre é
duas vezes maior que o índice que indica início de contaminação. Em Pirapora do
Bom Jesus, famosa pela espuma gerada pela poluição,
o zinco no fundo do rio está
duas vezes além do limite.
O trecho do Tietê que corta
a capital paulista não foi pesquisado pelo fato de o sedimento do fundo ter sido mexido nos últimos anos em
ações de desassoreamento.
Segundo o professor Jefferson Mortatti, coordenador
do estudo, os metais pesados
são levados ao rio com o despejo de esgoto doméstico e
industrial sem tratamento e
com o uso de fertilizantes e
agrotóxicos em plantações
-trazidos pela enxurrada.
"Nas regiões de Tietê e de
Anhembi, fortemente agrícolas, aparece bastante metal
pesado por causa de práticas
como adubação e do próprio
esgoto doméstico."
BARRAGENS
A concentração de cobre
em Nova Avanhandava está
na faixa de 350 microgramas
por grama de sedimento coletado, considerada altíssima -a contaminação ambiental começar a partir de
200 microgramas por grama.
Nesse ponto, o alto índice
do metal se deve ao uso de algicidas para evitar a proliferação de algas nas barragens.
"Elas são controladas com
sulfato de cobre, pois afetam
os motores de geração de
energia. Só que o cobre do algicida se degrada e vai para
os sedimentos. O peixe se alimenta desse sedimento."
Como no país não há lei específica sobre contaminação
em sedimentos, a pesquisa
usou critérios estabelecidos
pela legislação canadense.
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