São Paulo, domingo, 28 de agosto de 2011

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Infratoras buscam sonho de consumo 'cor-de-rosa'

Meninas de rua vagam na Vila Mariana em busca de celulares e lentes coloridas

Perfil psicológico das infratoras mostra a mesma situação de rua experimentada por suas mães e até avós

ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO

Alisante de cabelo e lentes de contato coloridas são itens visados nos arrastões protagonizados por meninas de rua, com idade entre 9 e 15 anos, nas lojas da Vila Mariana, na zona sul São Paulo.
"Quero ser bonita, tia", disse uma delas para a conselheira tutelar Ana Paula Borges, 29, em uma das mais de 20 vezes em que foi encaminhada para atendimento pela polícia no último ano.
Negras e mulatas de cabelos crespos, elas dizem querer alisar as madeixas para ficarem bonitas conforme padrão de beleza estabelecido. Usam os produtos na rua.
A mudança do visual chega à cor do olhos. Elas furtaram um kit de lente de contato verde de R$ 100. Como não dava para todas ficarem com duas lentes cada, dividiram o pacote. Algumas usavam só uma lente ao serem levadas recentemente à delegacia.
Nas fotos do grupo que ilustram o dossiê das sete garotas no Conselho Tutelar da Vila Mariana, as meninas fazem pose de modelo. Usam casacos rosa e acessórios.
"Como toda criança e adolescente, querem consumir, comer e passear no shopping. Elas pedem. Se não ganham, furtam", afirma Ana Paula.
Elas circulam nos metrôs Paraíso e Ana Rosa em busca dos ícones do consumo infantojuvenil: celulares, especialmente os cor-de-rosa.
"Pego o celular das lourinhas que já olham pra mim com medo", diz a garota negra, gorro rosa. Ela tem 11 anos, não se acha bela. "Bonita, eu? Olha a cor da minha pele", corta, diante do elogio.
O perfil psicológico e socioeconômico do grupo foi desenhado ao longo de uma série de contatos com conselheiros tutelares e monitores do programa Presença Social nas Ruas, da prefeitura.
Todas elas têm um histórico de abandono há gerações. "As mães delas viveram a mesma realidade de rua", diz Kátia de Souza, conselheira.
"É uma segunda e até terceira geração na rua. É como se fosse hereditário", confirma Ana Paula.

FAMOSAS
Desde o início de julho, os furtos das meninas na região começaram a chamar a atenção. Atraídas pela repercussão, outras crianças resolveram fazer o mesmo.
Segunda-feira, cinco meninas e dois meninos fizeram um arrastão num hotel, do Paraíso. Levados ao Conselho Tutelar da Vila Mariana, promoveram também um quebra-quebra no local.
Um terceiro grupo também agiu no Itaim Bibi (zona oeste) na última terça.


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