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São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2003

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EDUCAÇÃO

Levantamento, realizado pelo Datafolha, mostra que opinião de pais contraria idéias generalizadas sobre o setor

Pesquisa derruba "achismos" sobre escola

DÉBORA YURI
DA REVISTA

No Brasil, educação é terra de "achismos". Todo mundo acha que a escola pública é ruim, que a particular é cara e que a mensalidade é fundamental na hora de escolher a instituição. Mas uma pequisa inédita, realizada pelo Datafolha neste mês, mostra que os pais com filhos em colégios da cidade contrariam a maioria desses pressuspostos.
Com base na pesquisa, a Revista mapeou a situação da escola paulistana e dividiu em quatro partes. Na primeira, são abordados os critérios utilizados pelos pais na hora de escolher o colégio dos filhos. A segunda e a terceira enfocam a questão financeira -os preços da mensalidade, o peso dela no orçamento familiar e o que acontece quando a crise econômica se materializa. Na última, as famílias avaliam a qualidade das escolas e dizem quais são os motivos que poderiam forçar uma troca de instituição.

Escolha
Rasgue o primeiro livro o pai ou mãe que nunca teve dúvida na hora de escolher a escola de um filho. Que critérios são mais importantes? Quais não se deve levar em conta?
Segundo a pesquisa, a qualidade da escola é o item mais importante para os pais que têm filhos na rede particular (43%). Os que optaram por colégios públicos apontam a localização como o principal critério (38%).
Famílias cujos filhos estudam em colégios privados citaram também, quase com o mesmo peso de importância, a qualidade dos professores (10%), a indicação de amigos (9%) e a localização (8%). A quinta posição para o valor da mensalidade, critério que só foi o mais importante para 7% dos entrevistados, mostra que quem pode pagar uma escola particular valoriza o ensino e não se importa em gastar com educação.
"Essa ordenação de critérios reflete mais um idealismo platônico do que a realidade. A linha pedagógica, que é o mais importante, só é eleita prioridade nas camadas mais intelectualizadas", avalia o psicólogo José Ernesto Bologna, 55, consultor de escolas e presidente da Ethos Desenvolvimento Humano e Organizacional.
Além do projeto pedagógico, Bologna enumera como itens mais importantes o corpo de professores e o que chama de "confortos para a família": mensalidade adequada às possibilidades e distância de casa. "Computadores, biblioteca e laboratórios são importantes, mas não tanto quanto os professores."
Para a psicopedagoga Raquel Caruso Whitaker, 42, que faz workshops de como escolher a escola na clínica CAD (Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento), o mais difícil é conseguir agradar a todas as gerações da família. "Um erro comum é o pai optar pelo colégio em que gostaria de estudar sem levar em conta o perfil do filho", diz. Ela afirma que a decisão deve ser "combinada". "Os pais também devem achar a sua "tribo". A escola deve se encaixar nos moldes da família."
Para as famílias com filhos na rede pública, bons professores (15%) e segurança (14%) são itens que vêm logo abaixo da localização (38%) em importância. A qualidade da escola aparece em seguida (10%). A diferença entre pais da rede particular e da pública é nítida também quando se enfoca o fator "amigos": entre os primeiros, 71% falaram com eles antes de fazer a escolha, contra 48% dos últimos.
Maria Silvia Bonini, 56, do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), diz que a chave de uma boa escola pública é o diretor, que deve manter uma relação próxima com os pais. As famílias, segundo Bonini, também "precisam complementar a educação da criança, oferecer a ela recursos como leitura e inglês". O item mais marcante para a escolha dessas famílias, a localização, pode ser educativo para os jovens, completa. "É bom deixar que eles circulem pelo bairro, vendo o que ocorre no mundo real."


Colaborou VERÔNICA FRAIDENRAICH


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