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AREIA MOVEDIÇA
Prefeitura interditou 27 residências depois de prédio de 22 andares começar a ser construído no bairro
Casas e ruas "afundam" em Moema após obra
ALENCAR IZIDORO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
FERNANDO DONASCI
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
No quarto do industrial Fernando César Gil, 35, parte do teto desabou, ferindo sua mulher, que teve de ficar de braço engessado. As
paredes têm rachaduras, os azulejos quebraram, os armários da cozinha estão praticamente caindo.
Na casa da aposentada Genevieve Carriet Americano, 70, as portas emperram e as janelas não fecham mais. O imóvel está inclinado e ela diz que fica até com tontura em alguns cômodos do lugar
onde mora em razão do desnível.
Gil e Americano vivem em
Moema, bairro nobre da zona sul
e um dos mais caros de São Paulo.
Lá, moradores de ao menos 40 casas passaram a notar que seus pisos afundavam e paredes trincavam, dentre outros danos, depois
de começar a ser erguido um prédio de 22 andares, com dois apartamentos de 156 m2 por andar, no
primeiro semestre de 2004.
O problema afeta um quadrilátero que abrange trechos da alameda dos Tupiniquins, avenidas
Moaci e Iraí e ruas Jequitaí e Lúcio
Pavan. A prefeitura já interditou
27 residências neste ano -sendo
26 delas parcialmente, só em alguns cômodos, e uma totalmente.
A Subprefeitura da Vila Mariana, que atua na área, afirma que a
construção do edifício, na alameda dos Tupiniquins, é regular e
que não pode fazer nada além de
bloquear os imóveis sob risco.
Embora não reconheça culpa, a
Unihope Imobiliária, Administração e Construção, responsável
pela obra, já assumiu boa parte
dos custos para reformar as residências nas proximidades e alojar
seus habitantes em hotéis.
A aposentada Americano foi
uma das atendidas. "Ficamos
uma semana em um apart hotel e
depois nos mandaram voltar para
casa. Fico aborrecida aqui porque
sei que é perigoso. Um engenheiro me disse que a casa pode cair.
Mas também não quero sair e deixar as minhas coisas para trás.
Duas casas foram assaltadas enquanto as famílias ficaram fora",
afirmou.
A insatisfação no bairro nobre
chegou ao Ministério Público Estadual, que investiga os riscos no
entorno, e se estende na Justiça.
Ainda hoje oito moradores permanecem insatisfeitos e cobram
indenizações. Outros entraram
em acordo com a Unihope.
Quem passa pela região, além
de perceber desníveis em alguns
imóveis e fissuras em muros, também nota os problemas no asfalto,
que está torto, e as rachaduras em
algumas calçadas.
Solo instável
O afundamento dos pisos e os
reflexos na estrutura das residências desse quadrilátero de Moema
são motivados pela própria instabilidade do solo, que tem seu lençol freático muito próximo da superfície, segundo laudos de peritos incluídos em ações judiciais.
A camada é formada por turfa,
areia e argila e, durante as escavações, a terra cede com facilidade.
O terreno foi loteado a partir de
1915, mas teve seu desenvolvimento imobiliário nos anos 70.
Os problemas levaram moradores a pedir na Justiça um depósito
preventivo de R$ 900 mil somente
para a reforma de oito casas.
A Unihope contratou uma apólice de seguro no valor de R$ 4 milhões com a qual pretende bancar
os danos, mas chegou a ter a obra
hipotecada para assegurar a cobertura das despesas.
Moradores alegam que, diante
das peculiaridades do terreno, as
atitudes preventivas não foram
adotadas pela construtora.
Já a Unihope rebate dizendo
que esse é um problema histórico
do bairro e que não só a sua edificação, mas as outras no entorno,
podem levar a esses transtornos.
Lygia Horta, que mora há 50
anos em Moema e é presidente da
associação de moradores do bairro, diz saber de outros danos desde que está lá. "Era região de brejo, é perigoso para construir."
Entre os casos que ela já acompanhou está a queda de uma casa,
30 anos atrás, além do rompimento do asfalto da alameda dos
Jamaris, que perdurou mais de
dois anos até ser consertado pela
prefeitura paulistana em 2004.
A instabilidade não atinge toda
a região, está mais próxima desse
quadrilátero. Mas há registros de
outras reclamações de casas afetadas por obras em Moema.
Na alameda dos Nhambiquaras,
uma loja de assistência técnica para equipamentos eletrônicos acusa duas construtoras por rachaduras e movimentação de solo.
As duas ergueram prédios
na avenida Divino Salvador,
perpendicular à alameda dos
Nhambiquaras. Em protesto, a
loja pôs duas faixas em frente ao
estabelecimento.
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