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SAÚDE/MULHER
Mulheres usam injeção para estimular ponto G
Procedimento, que visa aumentar zona erógena, não é recomendado pela Anvisa
Nos EUA, no termo de consentimento que as pacientes assinam antes da injeção, há uma lista com 68 possíveis complicações
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto o mundo ainda
discute se o ponto G feminino
existe de fato ou não, os americanos inventaram uma injeção
de colágeno -o mesmo usado
para preenchimento de rugas-
que promete ampliar essa zona
erógena e melhorar a performance sexual das mulheres.
A injeção, chamada "G-Shot", já está sendo oferecida
por cirurgiões plásticos e ginecologistas brasileiros, mesmo
sem nenhuma comprovação
científica da eficácia ou da segurança. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)
não recomenda o uso do colágeno para tal fim, mas também
não o proíbe. O órgão diz que a
responsabilidade é do médico.
Especialistas consultados
pela Folha se mostraram contrários ao procedimento, que
não tem aval da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Até
a existência do ponto G é controversa no meio científico.
Nos EUA, no termo de consentimento que as pacientes
assinam antes da injeção, há
uma lista com 68 possíveis
complicações associadas ao
procedimento -entre elas, infecção, perda da sensibilidade e
retenção urinária.
O produto da injeção é o ácido hialurônico, usado para o
preenchimento de rugas e lábios. A aplicação é feita na parede anterior da vagina, a cerca
de 4 cm da abertura, onde supostamente estaria o ponto G.
A promessa é que o produto
aumente essa área, tornando-a
mais sensível durante a penetração do pênis, o que possibilitaria orgasmos mais intensos.
O procedimento é feito no consultório médico, com anestesia
local, e custa R$ 2.500 a sessão.
Atrito
O cirurgião plástico Murilo
Caldeira Ribeiro, de São Paulo,
um dos primeiros a oferecer a
técnica no Brasil, afirma que a
injeção é indicada para mulheres com "disfunção de orgasmo". "Muitas mulheres só conseguem ter orgasmo clitoriano,
não o vaginal. Com o ácido hialurônico, o ponto G fica mais
saliente. Durante a penetração,
há mais atrito e, então, dispara
o orgasmo vaginal, o que melhora muito a vida sexual. Você
volta a ter um orgasmo pleno."
Injeção na vagina não dói,
doutor? "Nada, nada. Damos
um pontinho de anestésico antes de aplicar a injeção e já está
pronto. Os efeitos podem durar
até um ano, mas o tempo pode
variar de mulher para mulher",
afirma o médico.
E a falta de comprovação
científica da eficácia e da segurança? "Nos EUA e na Europa,
especialmente na Itália, eles fazem amplamente esse procedimento, é seguro. No Brasil, as
coisas demoram um pouco para acontecer. Controvérsia
existe em tudo na medicina."
Ribeiro garante que o resultado é "fantástico". "Todo
mundo está adorando o resultado. Todo mundo está se programando para, quando acabar
[o efeito], fazer de novo." O "todo mundo" a que ele se refere
são 70 pacientes que já receberam a injeção na sua clínica.
Segundo ele, mulheres acima
dos 40 anos tendem a apresentar flacidez no canal vaginal, o
que diminuiria o ponto G. A injeção só funcionaria nesses casos. "Se o problema for psicológico, não resolve", diz ele.
Elogios
A esteticista Mara, 48, diz
que há 20 anos, quando se casou, tinha "muito prazer" durante as relações sexuais com
marido. "Mas, depois, as coisas
foram ficando mais mornas, fui
perdendo o tesão."
Mãe de dois filhos, um de oito
anos e outro de 12, ela conta
que há sete meses seguiu o conselho de uma amiga e resolveu
tentar melhorar sua vida sexual
com a injeção no ponto G. A injeção foi dada por um cirurgião
plástico. "Melhorou uns 100%.
Agora tenho vontade de transar. Meu marido está adorando
essa nova Mara", brinca.
Eliane (nome fictício), 37, casada e mãe de dois filhos, também aprovou o procedimento.
"Meu marido questionava
por que eu não tinha vontade
de ter relações sexuais. Eu até
tinha, mas na hora H não conseguia gozar", conta.
"Acho que antes eu nunca tinha tido orgasmo. Achava que
tinha tido, mas não é nada perto do que eu sinto agora. Antes
meu marido me procurava
uma, no máximo duas vezes
por semana. Agora fazemos sexo de quatro a seis vezes. Ele já
falou que, depois que passar um
ano, vou ter que fazer de novo."
Colaborou BRUNA SANIELE
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