São Paulo, sexta-feira, 28 de outubro de 2005

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ESTIAGEM

Medição do nível das águas do Paraguai, que chegou a registrar 6,64 m nas cheias, era de 95 cm em Ladário (MS)

Seca já ameaça o principal rio do Pantanal

Sérgio Galdino/Embrapa
Trecho do rio Paraguai, em MS; nível do rio, hoje em 95 cm, só não supera a estiagem de 2001


EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O rio Paraguai, um dos principais rios de planície do país e do Pantanal, estava ontem em um dos seus níveis mais baixos nos últimos 32 anos. Segundo dados do 6º Distrito Naval da Marinha, a medição em Ladário (MS) marcava 95 cm de altura.
O rio costuma atingir seu nível máximo em maio e junho, a partir de quando começa sua vazante.
Na opinião de Balbina Soriano, climatologista da Embrapa, a distribuição irregular e a menor quantidade de chuvas nos últimos anos é uma das causas para a baixa no rio.
Segundo dados do Cptec/Inpe (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), tem chovido menos desde 2000 na porção que vai do centro-sul de Mato Grosso à parte central de Mato Grosso do Sul.
A situação piorou particularmente nas estações chuvosas dos biênios 2003/2004 e 2004/ 2005, quando a redução média das chuvas passou de valores de 10% a 15% para de 25% a 30%.
Outro pesquisador da Embrapa, Sérgio Galdino disse que o Pantanal "pode estar diante de um novo ciclo de seca". "A ocorrência consecutiva de dois anos de seca no Pantanal determina o início de um ciclo de seca."
O pesquisador Guilherme Mourão, que desenvolve estudos sobre o impacto da estiagem, observou aumento da mortandade de jacarés e peixes nos últimos anos na região central do Pantanal sul-mato-grossense. Ele também verificou redução na quantidade de ninhos de jacarés. Na fauna, a pesquisadora Suzana Sales observou que a seca favorece a proliferação da espécie curatella-americana, uma árvore conhecida como "lixeira", que melhor se adapta nas regiões não inundáveis do ecossistema pantaneiro.

Conseqüência
A principal conseqüência da estiagem é o aumento das queimadas no Pantanal. Dados da Embrapa indicam que de julho a outubro (época mais crítica) deste ano ocorreram 6.129 incêndios.
No mesmo período do ano passado, foram 3.605 queimadas, contra 1.395 ocorridas em 2003.
A última grande redução do rio abaixo de 1 m havia sido em 2001, quando o nível chegou a 90 cm. A marca atual está abaixo da média de 96 cm verificada de 1964 a 1973, quando o Pantanal enfrentou sua pior estiagem desde 1900, início do acompanhamento.
A maior baixa já verificada ocorreu em 1964, quando o nível da água chegou a ficar 61 cm abaixo do zero da régua -ela não toca o fundo do leito.
A profundidade real, levada em conta a marcação atual, varia de 2 m a 2,5 m, devido à irregularidade no leito do rio, segundo a Marinha. O maior pico, de 6,64 m, foi atingido em 1988.
O Pantanal, maior planície alagável do mundo, é o elo entre as duas maiores bacias fluviais da América do Sul: a do Prata e a Amazônica.

Amazonas
Pescadores do Amazonas prejudicados pela mortandade de peixes causada pela seca atípica nos rios do Estado poderão ser beneficiados pelo seguro-defeso por até seis meses. O anúncio foi feito ontem, em Manaus, pelo ministro da Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca, José Fritsch.
Ele disse que a seca provocou perdas de até 30% nos estoques naturais do pescado.
Para recuperar as espécies de peixes mais prejudicadas pela mortandade em lagos e paranás, que secaram durante a estiagem, o governo pagaria mais dois meses do benefício, em vez dos quatro meses estipulados durante o defeso -período de reprodução e crescimento dos peixes. Para algumas espécies ameaçadas, fica proibida a captura.


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