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Em crise, Masp tem telefones cortados
Falta de pagamento levou ao desligamento de duas linhas auxiliares do museu; foi o segundo corte de serviços no ano
Em reunião anteontem, o presidente da instituição, Júlio Neves, anunciou que os funcionários devem perder alguns de seus benefícios
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise do Masp (Museu de
Arte de São Paulo) continua.
Duas linhas telefônicas do museu foram cortadas pela Telefônica por falta de pagamento na
semana passada, segundo a Folha apurou. O público não percebeu o corte porque o número
do PABX do museu (0/xx/11/
3251-5644) não foi afetado. As
duas linhas auxiliares foram religadas dois dias depois.
Foi o segundo corte de serviços sofrido pelo Masp neste
ano. Em 23 de maio, a AES Eletropaulo desligou o fornecimento de luz do museu por
causa de uma dívida de R$ 3,47
milhões, acumulada nos últimos sete anos.
Cinqüenta e três dias antes,
no dia 31 de março, o INSS (Instituto Nacional de Seguridade
Social) havia publicado a sua
lista de devedores, na qual o
Masp aparece com um débito
de R$ 3.919.899,87. Segundo o
INSS, o processo do museu está
em fase de penhora -um quadro, cujo autor não é informado, foi oferecido pelo museu como garantia caso a dívida não
seja quitada. O Masp contesta o
débito judicialmente.
Em 17 de novembro do ano
passado, a Heating & Cooling
Tecnologia Térmica, empresa
que instalou o ar-condicionado
do museu, protestou o Masp
por causa de uma dívida de R$
43.506,94. O débito não foi quitado quase um ano depois do
protesto, segundo a empresa.
Não há perspectivas de melhoras, segundo comentários
do arquiteto Júlio Neves, presidente do museu, feita em reunião mantida anteontem com
funcionários da instituição.
No encontro, Neves anunciou que os funcionários devem
perder alguns benefícios que
são pagos pelo museu. O Masp
deve deixar de pagar integralmente o seguro saúde dos dependentes dos funcionários,
disse Neves, segundo participantes da reunião que não querem ser identificados porque
temem retaliações. O museu
deve pagar 50% do seguro-saúde dos dependentes.
Houve protestos, mas o presidente do museu afirmou que
não há alternativas a curto prazo. O pagamento parcial do seguro-saúde para dependentes
significará na prática uma redução nos salários.
Neves tem apregoado que a
construção de uma torre ao lado do museu, com publicidade
da Vivo no topo, é a salvação financeira do Masp.
O Conpresp, órgão da prefeitura que cuida do patrimônio
histórico, vetou o projeto com o
argumento de que a torre afetaria um bem tombado -o próprio prédio do Masp, projetado
pela arquiteta Lina Bo Bardi. A
torre foi desenhada por Neves.
O Masp tenta na Justiça anular
a decisão da Conpresp argumentando que o projeto não está sob a jurisdição desse órgão.
Eleição
Mesmo com esse passivo de
problemas, Júlio Neves tentará
manter-se na direção do museu, cargo que ocupa desde
1997, quando venceu o bibliófilo José Mindlin por um voto de
diferença. As eleições para a
presidência do museu devem
ocorrer no próximo mês. Hoje é
o último dia para inscrições. O
museu tem um esquema para
receber as inscrições até as 17h.
Neves trabalha com três cenários: 1) pode apresentar o seu
próprio nome como candidato
a presidente; 2) pode indicar o
cardiologista e ex-ministro da
Saúde Adib Jatene, presidente
do conselho do Masp, para concorrer; 3) se sentir que a reação
a essas duas opções é muito negativa, deve indicar Manoel Pires da Costa, presidente da
Fundação Bienal. Conselheiros
do museu têm sugerido a Neves
que ele não se candidate.
Pires da Costa teria algumas
vantagens: não é identificado
automaticamente com Neves,
apesar de estar alinhado com
ele, e a fundação que preside fez
uma Bienal de sucesso -a que
está em cartaz até 17 de dezembro, com curadoria da crítica de
arte Lisette Lagnado.
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