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ARTIGO
O que funciona na educação: as lições segundo a McKinsey
Para consultoria, escolas precisam obter os melhores professores, extrair o máximo dos docentes e intervir quando os alunos começam a ficar para trás
DA "ECONOMIST"
O governo britânico, diz Sir
Michael Barber, antigo assessor do ex-primeiro ministro
Tony Blair, mudou quase todos
os aspectos da política educacional na Inglaterra e no País
de Gales, e em muitos casos
mais de uma vez. "As verbas das
escolas, a gestão, os padrões
curriculares, os sistemas de
avaliação, o papel dos governos
local e nacional, o alcance e a
natureza das agências nacionais, a política de admissão escolar" -pode escolher: tudo isso foi mudado, e em certos casos posteriormente devolvido à
forma original.
A única coisa que não mudou
foram os resultados. De acordo
com a Fundação Nacional de
Pesquisa Educacional britânica, não houve (até recentemente) melhora mensurável nos
padrões de alfabetização e de
domínio da matemática nas escolas básicas -e isso ao longo
dos últimos 50 anos.
A Inglaterra e o País de Gales
não estão sozinhos. A Austrália
quase triplicou seus gastos por
aluno, de 1970 para cá. Nenhuma melhora. Nos Estados Unidos, os dispêndios quase dobraram depois de 1980, e os tamanhos das turmas são os menores de todos os tempos. Uma
vez mais, resultado algum. Não
importa o que se faça, aparentemente, os padrões se recusam a mudar. Parafraseando
Woody Allen: quem não faz ensina; quem não consegue ensinar se torna diretor de escola.
Certamente há quem deva
imaginar por que tanto esforço.
Nada parece fazer efeito. Mas é
certo que algo deve funcionar.
Existem grandes variações nos
padrões educacionais dos países. Elas foram avaliadas e reavaliadas pelo Pisa (Programa
de Avaliação Internacional de
Estudantes), da OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico),
e isso serviu para estabelecer,
primeiro, que os países de desempenho mais forte se saem
muito melhor do que os piores
e, segundo, que os mesmos países lideram essas avaliações, a
cada vez que são realizadas: Canadá, Finlândia, Japão, Cingapura, Coréia do Sul.
Essas constatações provocam uma pergunta que deveria
ser bastante frutífera: o que os
países de maior sucesso têm em
comum? Mas encontrar a resposta parece ser tarefa das mais
complicadas. Não se trata de
maior investimento: Cingapura gasta menos dinheiro por
aluno do que a maioria dos demais países. Tampouco de períodos mais longos de estudo:
os alunos finlandeses começam
as aulas mais tarde, e estudam
menos horas, do que os dos demais países ricos.
Outro olhar
Agora, uma organização que
vem de fora do setor de educação -a consultoria McKinsey,
que assessora empresas e governos- decidiu que audaciosamente iria ao lugar que raros
educadores ousaram visitar e
faria recomendações estratégicas com base nas constatações
do Pisa.
Segundo a empresa (em
"How the world's best performing schools systems come out
on top" [como os melhores sistemas escolares do mundo chegam ao topo]), as escolas precisam fazer três coisas: obter os melhores professores, extrair o
máximo deles e intervir quando os alunos começam a ficar
para trás. Isso talvez não pareça
exatamente uma recomendação "sem precedentes" (a definição usada por Andreas
Schleicher, diretor de pesquisa
educacional da OCDE, para a
abordagem da McKinsey): as
escolas com certeza já devem
agir dessa maneira. Mas a verdade é que não o fazem. Se essas idéias fossem realmente levadas a sério, seria possível mudar a educação radicalmente.
O primeiro passo é contratar
os melhores. Não resta dúvida
de que, como declarou um funcionário do governo sul-coreano, "a qualidade de um sistema
educacional não pode superar a
qualidade de seus professores".
Estudos feitos no Tennessee
e em Dallas mostraram que, se
alunos de capacitação média
forem entregues a professores
que estão entre os 20% mais
competentes de sua profissão,
terminam se posicionando entre os 10% de estudantes com
melhor desempenho; caso os
professores que os ensinam venham dos 20% menos competentes, os alunos terminam entre os 10% de pior desempenho.
A qualidade dos professores
exerce a maior influência sobre
o desempenho dos alunos.
Mas a maioria dos sistemas
escolares não se esforça demais
para selecionar os melhores. A
Nova Comissão sobre a Capacitação da Força de Trabalho dos
Estados Unidos, uma organização sem fins lucrativos, diz que
as escolas norte-americanas tipicamente recrutam professores que estão no terço mais baixo de desempenho, entre os
formandos das universidades.
A cidade de Washington recentemente contratou como
diretora-geral de suas escolas
públicas uma integrante da organização Teach for America,
que identifica os melhores formandos e os contrata para lecionar por dois anos. Tanto a
indicação da diretora quanto a
organização que ela representa
geraram grande controvérsia.
Falta de dinheiro
A predisposição contra os
mais capazes surge em parte
pela falta de dinheiro (os governos temem que não terão verba
para contratá-los) e em parte
porque outros objetivos interferem. Quase todos os países ricos vêm tentando reduzir os tamanhos de suas turmas escolares, nos últimos anos. Mas, se
não houver outras variações,
turmas menores querem dizer
mais professores a serem contratados com a mesma verba, o
que reduz o salário médio e o
status profissional da categoria.
Isso pode explicar o paradoxo
de que, depois da educação básica, parece haver pouca ou nenhuma correlação entre o tamanho das turmas e as realizações educacionais.
A McKinsey argumenta que
os sistemas de educação que
apresentam melhor desempenho mesmo assim conseguem
atrair os melhores profissionais. Na Finlândia, todos os novos professores precisam ter
mestrado. A Coréia do Sul contrata professores de ensino básico entre os 5% de formandos
com melhor desempenho, Cingapura e Hong Kong entre os
30% de melhor desempenho.
E esses países o fazem de maneira surpreendente. Seria possível imaginar que as escolas
oferecem o máximo de dinheiro possível para tentar atrair
um grande quadro de interessados em formação educacional, o que permitiria selecionar
os melhores dentre eles.
Mas não é assim, segundo a
McKinsey. Se o dinheiro fosse
tão importante, então os países
com os melhores salários para
os professores -Alemanha, Espanha e Suíça- teriam presumivelmente sistemas de ensino
posicionados entre os melhores. E isso não procede. Na prática, os países com melhor desempenho pagam salários não
superiores à média.
E eles tampouco tentam
atrair um grande quadro de interessados para selecionar entre eles os mais bem sucedidos.
Quase que o contrário. Cingapura avalia os candidatos rigorosamente antes de admiti-los
aos cursos de formação de professores e aceita apenas o número de candidatos suficiente
para cobrir as vagas nos quadros da educação.
A Finlândia também limita a
oferta de cursos de treinamento de professores à demanda.
Em ambos os países, o ensino é
uma profissão de status elevado (porque é altamente competitiva), e os fundos destinados a
cada professor em treinamento
são generosos (porque o número deles é baixo).
A Coréia do Sul demonstra
como os dois sistemas produzem resultados diferentes.
Seus professores de ensino básico têm de obter um diploma
de graduação em uma de apenas 12 universidades. A admissão requer notas altas; o número de vagas é racionado de acordo com o número de postos de
ensino em aberto. Em contraste, os professores de escolas secundárias podem obter seus diplomas em qualquer uma das 350 faculdades do país, e os critérios de seleção são mais frouxos. Isso gera um enorme excedente de professores secundários recentemente qualificados
-cerca de 11 por vaga, de acordo com as mais recentes estatísticas. Como resultado, o ensino secundário é uma profissão com menos status na Coréia do Sul, onde todo mundo
prefere trabalhar no ensino básico. A lição parece ser a de que
a admissão aos sistemas de treinamento de professores precisa ser difícil, e não fácil.
Ensinando os professores
Depois de selecionar pessoal
de boa qualidade, a tentação é a
de trancá-los nas classes e deixar que eduquem. Por motivos
compreensíveis, os professores
raramente recebem muito treinamento nas salas de aula em
que lecionam (enquanto os médicos, em contraste, treinam
muito nos hospitais). Mas os
países de maior sucesso no ramo podem fazer muito para superar essa dificuldade.
Cingapura provê cem horas
de treinamento aos seus professores a cada ano e aponta
professores veteranos para supervisionar o desenvolvimento
profissional em cada escola.
No Japão e na Finlândia, grupos de professores visitam as
classes de colegas e planejam
aulas juntos. Na Finlândia, professores têm uma tarde de folga
semanal com esse objetivo.
Em Boston, cidade cujo sistema educacional demonstra um
dos melhores ritmos de progresso nos EUA, os cronogramas de aulas são organizados
de forma a permitir que os professores das mesmas disciplinas tenham períodos de folga
coincidentes, para que possam
planejar juntos. Isso ajuda a difundir as melhores idéias.
Como apontou um educador,
"quando um professor norte-americano brilhante se aposenta, quase todos os planos de aula e práticas que ele desenvolveu também são aposentados.
Quando um professor japonês
se aposenta, deixa um legado".
Por fim, os países de maior
sucesso são singulares não só
no que tange às pessoas que
contratam para que as coisas
saiam bem mas também com
relação àquilo que fazem quando as coisas vão mal.
Nos últimos anos, quase todos os países começaram a dedicar mais atenção aos processos de avaliação, a mais comum maneira de verificar se os padrões estão em queda. A pesquisa da McKinsey é neutra
quanto à utilidade do método,
apontando que, embora Boston
teste todos os alunos anualmente, a Finlândia em larga
medida abriu mão de exames
nacionais.
De maneira semelhante, escolas na Nova Zelândia e na Inglaterra são testadas a cada três
ou quatro anos, e os resultados
são divulgados em público, enquanto a Finlândia, líder mundial na educação, não tem processo formal de revisão e mantém sigilo sobre os resultados
de suas auditorias informais.
Mas existe um padrão quanto ao que os países fazem quando os alunos e as escolas começam a falhar. Os países de melhor desempenho não hesitam
em intervir, e o mais cedo possível. A Finlândia dispõe de
mais professores de educação
especial encarregados de ensinar os alunos retardatários do
que qualquer outro país -em
certas escolas, chega a ser um
professor em cada sete.
A cada dado ano, um terço
dos alunos recebe educação suplementar em sessões individuais. Cingapura oferece aulas
adicionais aos 20% de alunos
com desempenho mais fraco, e
existe a expectativa de que os
professores fiquem na escola
depois das aulas -ocasionalmente por horas- a fim de ajudar os alunos.
Nada disso é muito complexo. Mas são práticas que contrariam algumas das suposições silenciosas da política educacional. Quando professores,
dirigentes de escolas ou até pais
são convidados a se expressar
sobre a questão, muitas vezes
dizem que é impossível obter os
melhores professores sem pagar salários altos; que os professores de Cingapura, digamos,
têm status elevado devido aos
valores confucianos; ou que os
estudantes asiáticos são bem
comportados e atentos por motivos culturais.
As conclusões da McKinsey
parecem mais otimistas: obter
bons professores depende de
como você os seleciona e treina; lecionar pode se tornar uma
carreira para os melhores formandos mesmo que não sejam
oferecidos salários milionários;
e, com as políticas corretas, as
escolas e os alunos não estão
condenados ao atraso.
Tradução de Paulo Migliacci
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