São Paulo, quarta-feira, 28 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Escolas são parte da revitalização

FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Assim como as pessoas, as escolas nascem, crescem e morrem. Em busca da vida eterna, é comum que algumas instituições de ensino particulares das grandes metrópoles mudem de endereço atrás da migração do dinheiro. Ou melhor, elas se transferem de olho nos alunos de famílias endinheiradas que são atraídas para áreas periféricas.
O fenômeno não é novo: em São Paulo isso ocorreu desde os anos 1960. A partir desta época, algumas instituições de ensino privadas que nasceram na região central transferiram-se para a periferia tendo como eixo a expansão sudoeste da cidade. O Porto Seguro, nascido na praça Roosevelt, ou o Pio 12, originário da Bela Vista, são dois exemplos: construíram generosos campi no Morumbi.
Até mesmo o governo entrou na onda: o tradicional Caetano de Campos saiu da praça da República e se instalou na Aclimação. As escolas que ficaram tiveram bons motivos para isso: instalações apropriadas e sólidos vínculos com as comunidades.
Contudo, nas últimas décadas, impotentes, elas observam o inevitável: a degradação da vizinhança, o envelhecimento da comunidade e a consequente queda da demanda por novas vagas. Grosso modo, os colégios da região da avenida Paulista, a cada ano que passa, possuem mais dificuldade de encontrar novos alunos. A alternativa de mudança não é mais viável: inverteu-se a relação de preço entre o centro e as zonas afastadas. Em última instância, resta fechar as portas. Na lista recente, morreu o São José, na Liberdade. Entres os que resistem, está o tradicional Liceu Coração de Jesus.
Contudo, existe o paradoxo: se o fechamento das escolas é sintoma da degradação da área central da cidade, para conter a mesma degradação é necessária a existência de boas escolas na região. Isso porque qualquer revitalização imaginada inclui necessariamente diversidade de usos. Ou seja, misturar lugares de trabalho e de moradia, inclusive para a classe média. E cada dia mais, diante do caos da mobilidade urbana, a proximidade de colégios de qualidade é um dos fatores que a classe média leva em conta para a escolha de um imóvel.
Por enquanto, a estratégia do governo para tentar reverter o processo de decadência da região não deu certo: investiu pesado nos últimos 15 anos em instalações culturais pontuais de alto nível, principalmente da área da Luz -próximo ao Liceu. Paralelamente, mudanças de zoneamento aumentam o potencial construtivo, mas não foram capazes de atrair investidores imobiliários.
Agora, a estratégia governamental mudou: a desapropriação de grande parte do bairro da Luz pode mudar completamente a região, com novos prédios de apartamentos e escritórios. Se o Liceu conseguir esperar, ele será uma peça importante para que o plano urbanístico de revitalização do centro dê resultado.


FERNANDO SERAPIÃO é arquiteto e editor-executivo da revista "Projeto Design"


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