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ANÁLISE
Escolas são parte da revitalização
FERNANDO SERAPIÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Assim como as pessoas, as
escolas nascem, crescem e
morrem. Em busca da vida
eterna, é comum que algumas
instituições de ensino particulares das grandes metrópoles
mudem de endereço atrás da
migração do dinheiro. Ou melhor, elas se transferem de olho
nos alunos de famílias endinheiradas que são atraídas para
áreas periféricas.
O fenômeno não é novo: em
São Paulo isso ocorreu desde os
anos 1960. A partir desta época,
algumas instituições de ensino
privadas que nasceram na região central transferiram-se
para a periferia tendo como eixo a expansão sudoeste da cidade. O Porto Seguro, nascido na
praça Roosevelt, ou o Pio 12,
originário da Bela Vista, são
dois exemplos: construíram generosos campi no Morumbi.
Até mesmo o governo entrou
na onda: o tradicional Caetano
de Campos saiu da praça da
República e se instalou na
Aclimação. As escolas que ficaram tiveram bons motivos para
isso: instalações apropriadas
e sólidos vínculos com as
comunidades.
Contudo, nas últimas décadas, impotentes, elas observam
o inevitável: a degradação da vizinhança, o envelhecimento da
comunidade e a consequente
queda da demanda por novas
vagas. Grosso modo, os colégios
da região da avenida Paulista, a
cada ano que passa, possuem
mais dificuldade de encontrar
novos alunos. A alternativa de
mudança não é mais viável: inverteu-se a relação de preço entre o centro e as zonas afastadas. Em última instância, resta
fechar as portas. Na lista recente, morreu o São José, na Liberdade. Entres os que resistem,
está o tradicional Liceu Coração de Jesus.
Contudo, existe o paradoxo:
se o fechamento das escolas é
sintoma da degradação da área
central da cidade, para conter a
mesma degradação é necessária a existência de boas escolas
na região. Isso porque qualquer
revitalização imaginada inclui
necessariamente diversidade
de usos. Ou seja, misturar lugares de trabalho e de moradia,
inclusive para a classe média. E
cada dia mais, diante do caos da
mobilidade urbana, a proximidade de colégios de qualidade é
um dos fatores que a classe média leva em conta para a escolha
de um imóvel.
Por enquanto, a estratégia do
governo para tentar reverter o
processo de decadência da região não deu certo: investiu pesado nos últimos 15 anos em
instalações culturais pontuais
de alto nível, principalmente da
área da Luz -próximo ao Liceu. Paralelamente, mudanças
de zoneamento aumentam o
potencial construtivo, mas não
foram capazes de atrair investidores imobiliários.
Agora, a estratégia governamental mudou: a desapropriação de grande parte do bairro
da Luz pode mudar completamente a região, com novos prédios de apartamentos e escritórios. Se o Liceu conseguir esperar, ele será uma peça importante para que o plano urbanístico de revitalização do centro
dê resultado.
FERNANDO SERAPIÃO é arquiteto e editor-executivo da revista "Projeto Design"
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