São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 2006

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Geladeira diminui câncer de estômago

Em 25 anos, esse foi o tipo que mais caiu; para especialista, uma das explicações é a diminuição do sal para conservar alimentos

Entre os homens, redução foi de 29,4% e entre o sexo feminino, de 35,1%, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos 25 anos, o tipo de câncer que mais diminuiu no Brasil, tanto em homens quanto em mulheres, foi o de estômago. Entre mulheres, a taxa de mortalidade por essa causa caiu de 7,49 mortes por 100 mil para 4,86, uma redução de 35,1%. Entre homens, a redução foi de 16,52 para 11,67, uma variação negativa de 29,4% entre 1979 e 2004.
O diretor-geral do Inca (Instituto Nacional de Câncer), Luiz Antonio Santini Silva, disse ontem, na divulgação de dados sobre a doença no Brasil, que um dos principais fatores a influenciar essa queda foi o aumento no acesso à energia elétrica, especialmente no Norte e no Nordeste. Com a possibilidade de conservar alimentos na geladeira, explicou ele, a população diminuiu o consumo de sal em excesso, usado na conservação da carne -o que pode levar ao câncer. "A diminuição no número de casos ocorreu no mesmo período em que aumentou o acesso à energia."
Outra explicação foi o melhor combate à bactéria Helicobacter pylori, isolada pela primeira vez em 1982. A descoberta de que ela poderia causar o câncer no estômago facilitou o tratamento com antibióticos.
De 1979 a 2004, o tipo de câncer que mais aumentou entre homens foi o de próstata, enquanto entre as mulheres a maior variação ocorreu em casos de câncer de pulmão. Em 1979, a taxa de mortes por 100 mil homens por câncer de próstata estava em 7,08. Vinte e cinco anos depois, essa taxa aumentou para 13,84, uma variação de 96% no período.
Entre as mulheres, a taxa de mortes por câncer de pulmão aumentou de 3,61 para 7,11, uma variação de 97%. Silva explica que o aumento no número de mortes por câncer de próstata entre homens está relacionado ao envelhecimento populacional (já que a doença é mais comum entre os mais velhos) e também à melhoria do diagnóstico. No caso das mulheres, a principal explicação é o aumento do consumo de cigarros, principal fator de risco.
O professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, Miguel Srougi, diz que o envelhecimento, fatores ambientais e uma maior busca por casos podem estar contribuindo para o aumento de câncer de próstata. Mas ele relativiza os números do Inca e diz acreditar que o total de pessoas com câncer é subestimado.
"Vejo com respeito, mas acho que são dados imperfeitos porque temos um sistema de saúde indigente." O presidente do Hospital do Câncer de São Paulo, Ricardo Brentani, diz que a subnotificação de casos deve-se ao desconhecimento da população sobre a doença, à falta de preparo dos médicos, entre outros fatores. Ele destaca a discrepância entre dados norte-americanos e brasileiros. Os EUA têm mais de 1 milhão de casos diagnosticados, enquanto aqui as estimativas falam em 472 mil. "Repito, ou Deus é brasileiro ou não sabemos diagnosticar."

Maior incidência
Com exceção do câncer da pele não-melanoma (o mais comum no Brasil), a maior incidência em homens está relacionada à próstata (26% dos casos), pulmão, traquéia ou brônquio (10%) e estômago (8%).
Entre as mulheres, os casos mais comuns são da mama (28%), colo do útero (11%) e cólon e reto (8%). Especialistas salientam a necessidade de detecção precoce do câncer. "Mais de 50% dos casos de câncer de pulmão e da mama são detectados tardiamente", afirma Nise Yamaguchi, presidente da seção São Paulo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.


Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local


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