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Saneamento para todos só em 2122, diz FGV
Estimativa foi feita com base na taxa de crescimento do nível de coleta de esgoto no país, que atualmente está em 1,59% por ano
Fundação calculou que, em 2006, apenas 46,77% da população brasileira possuía rede de coleta de dejetos domésticos
DA SUCURSAL DO RIO
Com o atual nível de investimento em saneamento básico,
só em 2122, daqui a 115 anos, a
totalidade da população brasileira terá acesso à rede de coleta de esgoto, revela pesquisa da
FGV (Fundação Getúlio Vargas) divulgada ontem. Mais da
metade dos brasileiros não tem
esgoto recolhido.
Encomendada pelo Instituto
Trata Brasil, organização sem
fins lucrativos fundada em julho deste ano em São Paulo, a
pesquisa "Trata Brasil: Saneamento e Saúde" foi feita com
base nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios) do IBGE.
A FGV calculou que, em
2006, somente 46,77% da população brasileira era beneficiada por rede de recolhimento
de dejetos domésticos. Há 14
anos, era de 36,02% o percentual dos brasileiros com acesso
a rede de esgoto.
Coordenador da pesquisa, o
economista Marcelo Néri estimou que, a se manter o nível de
crescimento das redes coletoras em todo o país observado a
partir de 1992, somente daqui
a, no mínimo, 56 anos, metade
da população terá acesso a esgoto encanado. A atual taxa de
crescimento da rede de esgoto
nacional é de 1,59% por ano.
Mortalidade infantil
Ainda de acordo com a pesquisa, a mortalidade infantil na
faixa de um a seis anos de idade
é maior nas regiões do país onde não há esgoto coletado. Ao
analisar os dados da Pnad, Néri
concluiu que a falta de saneamento básico tem responsabilidade direta na mortalidade registrada nessa faixa etária.
A incidência de morte entre
um ano e seis anos decorre do
contato direto das crianças
com as aglomerações de esgoto,
afirma o pesquisador. Antes de
completar o primeiro ano, o bebê ainda permanece mais tempo sob os cuidados de adultos.
Segundo Marcelo Néri, depois disso, os meninos, mais do
que as meninas, passam a ficar
mais soltos, pois começam a
andar e a brincar fora de casa.
Muitas vezes descalços e nus,
circulam em meio à imundície
acumulada em poças e valões. A
maioria deles até bebe a água
contaminada por coliformes
fecais. Acabam vitimados por
diarréias e outras doenças relacionadas à carência de saneamento básico.
Baixo investimento
Conforme divulgou o Instituto Trata Brasil, sete crianças
brasileiras morrem por dia em
conseqüência da falta de saneamento básico no local onde vivem. O instituto considera que
o ideal seria investir em saneamento o equivalente a 0,63%
do PIB (Produto Interno Bruto). Hoje, o investimento na
área é de 0,22%.
Outras vítimas em potencial
da ausência de rede coletora de
esgoto são as gestantes, pois a
falta de saneamento aumenta
as chances de os filhos nascerem mortos. De acordo com a
pesquisa, em áreas sem saneamento, aumenta em cerca de
30% a possibilidade de grávidas
virem a parir natimortos.
A pesquisa mostra ainda que,
apesar da gravidade da situação
constatada nos índices oficiais
do governo federal, a velocidade da expansão do saneamento
básico é inferior à oferta de outros serviços públicos, como rede de distribuição de água, coleta de lixo e eletricidade.
O levantamento da FGV indica também que São Paulo é o
Estado brasileiro com maior
cobertura em saneamento básico -84,24% da população
paulista é atendida por rede de
esgoto. O Amapá convive com
situação oposta. É o pior Estado brasileiro em termos de recolhimento de esgoto. Só 1,42%
dos habitantes têm o benefício.
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