|
Próximo Texto | Índice
País tem mais ex-fumantes que fumantes
Pesquisa do IBGE mostra que 25 milhões de brasileiros com mais de 15 anos fumam; vício é maior entre os mais pobres
Para a especialista Vera Luíza da Costa e Silva, é possível dizer que o índice de fumantes caiu pela metade em 20 anos
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Em 2008, 24,6 milhões de
brasileiros com 15 anos ou mais
de idade eram fumantes. Isso
representa 17,6% da população
nessa faixa etária. Outros 26
milhões (18,2%) eram ex-fumantes, sendo que cerca de 2
milhões deles tinham largado o
cigarro há menos de um ano.
Os dados constam da Pesquisa Especial de Tabagismo, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Foram ouvidos
39,8 mil residentes, o que torna
a pesquisa a mais abrangente já
feita sobre o tema. Outros 13
países realizam o levantamento sob orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Pesquisa feita em 1989 apontava que o país tinha 33,1% de
fumantes. Vera Luíza da Costa
e Silva, que ocupou a direção de
controle de tabagismo da OMS,
diz que, apesar da metodologia
e da amostra diferente, dá para
dizer que o índice de fumantes
caiu pela metade em 20 anos.
O índice de 17,6% de fumantes coloca o Brasil ao lado do
Canadá, país apontado pela
OMS como modelo no combate
ao tabagismo. Lá, os fumantes
eram 18% no ano passado. Não
há dados dos EUA de 2008.
O levantamento mostra que
os mais pobres são os que mais
fumam. Entre os que não têm
rendimento ou ganham menos
de 1/4 de salário mínimo, os fumantes são 22,9%. Já na faixa
dos que ganham dois salários
mínimos ou mais esse índice
recua para 13,3%.
"Isso mostra que os mais pobres não têm acesso à informação e ao sistema de saúde", diz
Paula Johns, da ACT (Aliança
de Controle do Tabagismo). Esse dado, segundo ela, aponta
para a necessidade de políticas
específicas para os mais pobres.
A pesquisa mostra que 87,7%
dos fumantes usam tabaco diariamente. Mais da metade
(60,3%) acende o primeiro cigarro nos primeiros 30 minutos depois de acordar. O consumo predominante é de 15 a 24
cigarros por dia.
Hoje com 19 anos, a universitária Vanessa Pinto começou a
fumar aos 13. "Minhas amigas
começaram e eu fui na onda".
Assim como ela, a maioria
dos fumantes trava contato
precoce com o tabaco, em uma
idade em que a compra do produto sequer é permitida por lei.
De acordo com o IBGE, 57,3%
dos fumantes entre 20 e 34
anos começaram a fumar antes
de chegar à maioridade.
Entre os homens, a proporção de fumantes é maior: chega
a 21,6%, contra 13,1% entre as
mulheres. Elas são mais sensíveis às advertências estampadas nas carteiras de cigarro:
pouco mais de dois terços disseram já ter sentido vontade de
deixar o vício após ver o alerta.
Prazo para parar
No momento da pesquisa,
57,1% das fumantes e 49,2%
dos fumantes diziam pensar
em parar de fumar. Só 7,3%, porém, davam os próximos 30
dias como prazo. Para outros
33,5%, o objetivo não aparecia
no horizonte de um ano.
Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, isso evidencia a necessidade de ampliar a oferta de tratamento para o tabagismo. "Muitas vezes
as pessoas desejam [parar de
fumar], mas não conseguem
um espaço terapêutico para isso", reconhece ele.
Segundo o IBGE, dos fumantes que tinham tentado parar
de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa, apenas 6,7% tinham tido acesso a medicamentos e 15,2% a aconselhamento de profissional de saúde,
dois dos métodos mais recomendados pelos especialistas.
Colaboraram MARIO CESAR CARVALHO , da
Reportagem Local, e FÁBIO GRELLET , da Sucursal do Rio
Próximo Texto: Tabagismo é maior entre os mais pobres Índice
|