São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009

Próximo Texto | Índice

País tem mais ex-fumantes que fumantes

Pesquisa do IBGE mostra que 25 milhões de brasileiros com mais de 15 anos fumam; vício é maior entre os mais pobres

Para a especialista Vera Luíza da Costa e Silva, é possível dizer que o índice de fumantes caiu pela metade em 20 anos

DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO

Em 2008, 24,6 milhões de brasileiros com 15 anos ou mais de idade eram fumantes. Isso representa 17,6% da população nessa faixa etária. Outros 26 milhões (18,2%) eram ex-fumantes, sendo que cerca de 2 milhões deles tinham largado o cigarro há menos de um ano.
Os dados constam da Pesquisa Especial de Tabagismo, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foram ouvidos 39,8 mil residentes, o que torna a pesquisa a mais abrangente já feita sobre o tema. Outros 13 países realizam o levantamento sob orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Pesquisa feita em 1989 apontava que o país tinha 33,1% de fumantes. Vera Luíza da Costa e Silva, que ocupou a direção de controle de tabagismo da OMS, diz que, apesar da metodologia e da amostra diferente, dá para dizer que o índice de fumantes caiu pela metade em 20 anos.
O índice de 17,6% de fumantes coloca o Brasil ao lado do Canadá, país apontado pela OMS como modelo no combate ao tabagismo. Lá, os fumantes eram 18% no ano passado. Não há dados dos EUA de 2008.
O levantamento mostra que os mais pobres são os que mais fumam. Entre os que não têm rendimento ou ganham menos de 1/4 de salário mínimo, os fumantes são 22,9%. Já na faixa dos que ganham dois salários mínimos ou mais esse índice recua para 13,3%.
"Isso mostra que os mais pobres não têm acesso à informação e ao sistema de saúde", diz Paula Johns, da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo). Esse dado, segundo ela, aponta para a necessidade de políticas específicas para os mais pobres.
A pesquisa mostra que 87,7% dos fumantes usam tabaco diariamente. Mais da metade (60,3%) acende o primeiro cigarro nos primeiros 30 minutos depois de acordar. O consumo predominante é de 15 a 24 cigarros por dia.
Hoje com 19 anos, a universitária Vanessa Pinto começou a fumar aos 13. "Minhas amigas começaram e eu fui na onda".
Assim como ela, a maioria dos fumantes trava contato precoce com o tabaco, em uma idade em que a compra do produto sequer é permitida por lei.
De acordo com o IBGE, 57,3% dos fumantes entre 20 e 34 anos começaram a fumar antes de chegar à maioridade.
Entre os homens, a proporção de fumantes é maior: chega a 21,6%, contra 13,1% entre as mulheres. Elas são mais sensíveis às advertências estampadas nas carteiras de cigarro: pouco mais de dois terços disseram já ter sentido vontade de deixar o vício após ver o alerta.

Prazo para parar
No momento da pesquisa, 57,1% das fumantes e 49,2% dos fumantes diziam pensar em parar de fumar. Só 7,3%, porém, davam os próximos 30 dias como prazo. Para outros 33,5%, o objetivo não aparecia no horizonte de um ano.
Para o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, isso evidencia a necessidade de ampliar a oferta de tratamento para o tabagismo. "Muitas vezes as pessoas desejam [parar de fumar], mas não conseguem um espaço terapêutico para isso", reconhece ele.
Segundo o IBGE, dos fumantes que tinham tentado parar de fumar nos 12 meses anteriores à pesquisa, apenas 6,7% tinham tido acesso a medicamentos e 15,2% a aconselhamento de profissional de saúde, dois dos métodos mais recomendados pelos especialistas.


Colaboraram MARIO CESAR CARVALHO , da Reportagem Local, e FÁBIO GRELLET , da Sucursal do Rio


Próximo Texto: Tabagismo é maior entre os mais pobres
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.