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"Choramos de dó e de remorso ao vê-lo se despedir"
Pai conta da humilhação que o filho passou ao pôr uniforme e ser revistado na entrada da Fundação Casa
"Acho que as famílias daqueles que foram mais violentos têm que falar a verdade e acatar o que a Justiça decidir"
DE SÃO PAULO
Depois de levar o filho para a Fundação Casa, onde ficará internado até o julgamento, marcado para 9 de
dezembro, o pai de um dos
quatro menores agressores
conta o que sentiu ao ver o filho entrar por aqueles portões na última sexta-feira.
"Meu filho não é marginal,
traficante."
(ELIANE TRINDADE)
Folha - Como foi entregar seu
filho à Justiça na sexta-feira?
Foi um dia péssimo. É uma
decisão muito difícil de ser
tomada. Conversei com ele:
"Vamos lá, apresente-se perante o juiz. Quem não deve,
não teme". Ele começou a
chorar. Não espancou ninguém, jamais faria isso.
O que o senhor sentiu quando
o deixou na Fundação Casa?
Foi muito triste vê-lo tirar o
cinto, o cadarço, o anel que a
namorada deu, trocar de roupa e colocar um uniforme
azul. Disse para ele conversar pouco, ser educado. Claro
que ele estava nervoso e triste. Eu e a mãe dele também.
Choramos ao ver nosso garoto se despedir e entrar por
uma porta. Choro de dó, remorso e dor.
Como é imaginar seu filho na
antiga Febem?
Péssimo. Espero que de fato eles não fiquem com outros infratores. Fomos bem
respaldados lá. Disseram que
eles iriam ficar isolados. Meu
filho não é marginal, traficante. Com essa coisa de grupo de classe média alta, temia-se pela integridade física
deles lá dentro. Não vou dormir tranquilo enquanto ele
estiver internado.
Como vai ser a rotina com o
seu filho internado?
Espero que seja breve. Que
isso dure no máximo uma semana. Não sabemos ainda se
nosso advogado vai entrar
com habeas corpus. É bom
deixar claro que os garotos
têm família estruturada, endereço fixo. Meu filho estuda, arrumou o primeiro emprego. Presta serviços em um
escritório como office boy.
Como serão as visitas?
Fomos muito bem tratados
na Fundação Casa. A diretora
nos explicou sobre as visitas.
Mas ali nos sentimos como
num filme. Aqueles portões
enormes se abrindo. Logo depois do episódio, os quatro
menores ficaram uma noite
internados lá. Tiveram que
passar por uma revista. Sei
que tem que acontecer mesmo, é a norma, mas foi humilhante. Eles ficaram nus, tiveram que agachar.
Seu filho já fez terapia?
Ele vai precisar de acompanhamento de um psicólogo. Ele é um menino muito
sensível, calado. Depois que
as imagens da agressão vieram a público, não conversei
mais com os outros pais.
Acho que as famílias daqueles que foram mais violentos
têm que falar a verdade e acatar o que a Justiça decidir.
Mas não penso que aqueles
meninos devam ser execrados. Será que vai resolver enclausurar aqueles que tiveram atitudes mais violentas?
Não vai pirar ainda mais a cabeça desses jovens?
Poderia ter acontecido com
qualquer família?
Sim. É um recado para os
outros pais também: coloquem mais limites. Daqui a
pouco vai acontecer outro
episódio. Trabalho com adolescentes e vejo briga direto
entre eles. É cultural.
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