São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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"Choramos de dó e de remorso ao vê-lo se despedir"

Pai conta da humilhação que o filho passou ao pôr uniforme e ser revistado na entrada da Fundação Casa

"Acho que as famílias daqueles que foram mais violentos têm que falar a verdade e acatar o que a Justiça decidir"

DE SÃO PAULO

Depois de levar o filho para a Fundação Casa, onde ficará internado até o julgamento, marcado para 9 de dezembro, o pai de um dos quatro menores agressores conta o que sentiu ao ver o filho entrar por aqueles portões na última sexta-feira. "Meu filho não é marginal, traficante." (ELIANE TRINDADE)


 

Folha - Como foi entregar seu filho à Justiça na sexta-feira?
Foi um dia péssimo. É uma decisão muito difícil de ser tomada. Conversei com ele: "Vamos lá, apresente-se perante o juiz. Quem não deve, não teme". Ele começou a chorar. Não espancou ninguém, jamais faria isso.

O que o senhor sentiu quando o deixou na Fundação Casa?
Foi muito triste vê-lo tirar o cinto, o cadarço, o anel que a namorada deu, trocar de roupa e colocar um uniforme azul. Disse para ele conversar pouco, ser educado. Claro que ele estava nervoso e triste. Eu e a mãe dele também. Choramos ao ver nosso garoto se despedir e entrar por uma porta. Choro de dó, remorso e dor.

Como é imaginar seu filho na antiga Febem?
Péssimo. Espero que de fato eles não fiquem com outros infratores. Fomos bem respaldados lá. Disseram que eles iriam ficar isolados. Meu filho não é marginal, traficante. Com essa coisa de grupo de classe média alta, temia-se pela integridade física deles lá dentro. Não vou dormir tranquilo enquanto ele estiver internado.

Como vai ser a rotina com o seu filho internado?
Espero que seja breve. Que isso dure no máximo uma semana. Não sabemos ainda se nosso advogado vai entrar com habeas corpus. É bom deixar claro que os garotos têm família estruturada, endereço fixo. Meu filho estuda, arrumou o primeiro emprego. Presta serviços em um escritório como office boy.

Como serão as visitas?
Fomos muito bem tratados na Fundação Casa. A diretora nos explicou sobre as visitas. Mas ali nos sentimos como num filme. Aqueles portões enormes se abrindo. Logo depois do episódio, os quatro menores ficaram uma noite internados lá. Tiveram que passar por uma revista. Sei que tem que acontecer mesmo, é a norma, mas foi humilhante. Eles ficaram nus, tiveram que agachar.

Seu filho já fez terapia?
Ele vai precisar de acompanhamento de um psicólogo. Ele é um menino muito sensível, calado. Depois que as imagens da agressão vieram a público, não conversei mais com os outros pais. Acho que as famílias daqueles que foram mais violentos têm que falar a verdade e acatar o que a Justiça decidir. Mas não penso que aqueles meninos devam ser execrados. Será que vai resolver enclausurar aqueles que tiveram atitudes mais violentas? Não vai pirar ainda mais a cabeça desses jovens?

Poderia ter acontecido com qualquer família?
Sim. É um recado para os outros pais também: coloquem mais limites. Daqui a pouco vai acontecer outro episódio. Trabalho com adolescentes e vejo briga direto entre eles. É cultural.


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