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CONFRONTO NO RIO
Tráfico "emprega" 16 mil no Rio, diz estudo
Análise aponta também que crime fatura até R$ 633 milhões por ano com venda de drogas
Número de "vagas" é igual ao da Petrobras na capital fluminense e arrecadação é como a
do setor têxtil no Estado
PLÍNIO FRAGA
JANAINA LAGE
DO RIO
O tráfico emprega na cidade do Rio 16 mil pessoas, vende mais de cem toneladas de
droga e arrecada R$ 633 milhões por ano, aponta estudo
que dimensionou essa economia subterrânea.
Ou seja, gera tantos empregos quanto a Petrobras na
capital fluminense, arrecada
o mesmo que o setor têxtil no
Estado e vende o equivalente
a cinco vezes mais do que o
total de apreensão anual de
cocaína pela Polícia Federal
em todo o país.
O economista e professor
do Ibmec-RJ Sérgio Ferreira
Guimarães, subsecretário da
Adolescência e Infância da
Secretaria de Estado de Ação
Social, usou pesquisas de
consumo de entorpecentes,
custos médios da venda de
droga no varejo e no atacado
calculados pela ONU e projeções de ocupação de mão de
obra em favelas para fazer
uma contabilidade simulada
do tráfico: faturamento de
R$ 317 milhões (versão mais
conservadora ) a R$ 633 milhões por ano (teto imaginado a partir dos números de
que dispõe).
Esse dinheiro vem da venda de nove toneladas de cocaína, 90 toneladas de maconha e quatro toneladas de
crack, num total de 103 toneladas de drogas por ano, segundo cálculos de consumo
declarado em pesquisas.
O tráfico emprega na cidade um exército de 16 mil pessoas. O pesquisador chegou
a esse número a partir de um
estudo da ONG Observatório
de Favelas sobre a participação no tráfico de jovens residentes em comunidades e
projeções da polícia.
Desde domingo passado, o
Rio vive uma onda de arrastões e incêndios criminosos
que levaram as polícias Civil,
Militar e Federal e as Forças
Armadas a ocupar parte do
Complexo da Penha e a cercar o Complexo do Alemão,
considerados a principal base logística e de venda de
drogas da facção criminosa
Comando Vermelho.
O Complexo do Alemão representa a principal fonte de
renda do mercado de droga
hoje no Rio, com faturamento anual estimado em
R$ 8 milhões pela polícia.
O Estado do Rio gasta com
segurança pública cinco vezes mais do que o tráfico de
drogas fatura na capital.
O governo estadual despendeu com segurança no
ano passado R$ 4,096 bilhões. Calcula precisar de
R$ 4 bilhões a mais para estender o projeto de UPPs
(Unidades de Polícia Pacificadora) das 13 atuais para 40
nos próximos anos.
Em sua análise, Guimarães aponta que, descontando custos como "folha salarial" do tráfico e perdas de
drogas e armas apreendidas,
chega-se a um lucro presumível entre R$ 26 milhões, em
um cenário conservador, e
R$ 236 milhões, em um cenário mais agressivo.
"A oferta de serviços "piratas" por traficantes (gás,
transporte clandestino, etc.)
sugere que a lucratividade do
tráfico não seja tão grande.
Ajuda a explicar a ênfase
dos traficantes em manter o
controle territorial de certas
áreas, onde o crime passa a
controlar serviços que vão da
eletricidade à TV a cabo",
afirma o economista.
O estudo sugere que tornar
a operação do tráfico mais
cara é o caminho para a repressão policial.
"A apreensão de armas
afeta a demanda pela droga,
por aumentar seu preço em
razão do custo adicional que
cria pela necessidade de reposição do arsenal do tráfico.
A ação tende a facilitar a
identificação de fornecedores, restringindo a oferta",
escreve ele. "O aumento do
custo da operação do negócio também reduz o excedente operacional do comércio e
portanto a remuneração dos
que dele participam, diminuindo o estímulo da "carreira" do tráfico."
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