São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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CONFRONTO NO RIO

Tráfico "emprega" 16 mil no Rio, diz estudo

Análise aponta também que crime fatura até R$ 633 milhões por ano com venda de drogas

Número de "vagas" é igual ao da Petrobras na capital fluminense e arrecadação é como a do setor têxtil no Estado

PLÍNIO FRAGA
JANAINA LAGE
DO RIO

O tráfico emprega na cidade do Rio 16 mil pessoas, vende mais de cem toneladas de droga e arrecada R$ 633 milhões por ano, aponta estudo que dimensionou essa economia subterrânea.
Ou seja, gera tantos empregos quanto a Petrobras na capital fluminense, arrecada o mesmo que o setor têxtil no Estado e vende o equivalente a cinco vezes mais do que o total de apreensão anual de cocaína pela Polícia Federal em todo o país.
O economista e professor do Ibmec-RJ Sérgio Ferreira Guimarães, subsecretário da Adolescência e Infância da Secretaria de Estado de Ação Social, usou pesquisas de consumo de entorpecentes, custos médios da venda de droga no varejo e no atacado calculados pela ONU e projeções de ocupação de mão de obra em favelas para fazer uma contabilidade simulada do tráfico: faturamento de R$ 317 milhões (versão mais conservadora ) a R$ 633 milhões por ano (teto imaginado a partir dos números de que dispõe).
Esse dinheiro vem da venda de nove toneladas de cocaína, 90 toneladas de maconha e quatro toneladas de crack, num total de 103 toneladas de drogas por ano, segundo cálculos de consumo declarado em pesquisas.
O tráfico emprega na cidade um exército de 16 mil pessoas. O pesquisador chegou a esse número a partir de um estudo da ONG Observatório de Favelas sobre a participação no tráfico de jovens residentes em comunidades e projeções da polícia.
Desde domingo passado, o Rio vive uma onda de arrastões e incêndios criminosos que levaram as polícias Civil, Militar e Federal e as Forças Armadas a ocupar parte do Complexo da Penha e a cercar o Complexo do Alemão, considerados a principal base logística e de venda de drogas da facção criminosa Comando Vermelho.
O Complexo do Alemão representa a principal fonte de renda do mercado de droga hoje no Rio, com faturamento anual estimado em R$ 8 milhões pela polícia.
O Estado do Rio gasta com segurança pública cinco vezes mais do que o tráfico de drogas fatura na capital.
O governo estadual despendeu com segurança no ano passado R$ 4,096 bilhões. Calcula precisar de R$ 4 bilhões a mais para estender o projeto de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) das 13 atuais para 40 nos próximos anos.
Em sua análise, Guimarães aponta que, descontando custos como "folha salarial" do tráfico e perdas de drogas e armas apreendidas, chega-se a um lucro presumível entre R$ 26 milhões, em um cenário conservador, e R$ 236 milhões, em um cenário mais agressivo.
"A oferta de serviços "piratas" por traficantes (gás, transporte clandestino, etc.) sugere que a lucratividade do tráfico não seja tão grande.
Ajuda a explicar a ênfase dos traficantes em manter o controle territorial de certas áreas, onde o crime passa a controlar serviços que vão da eletricidade à TV a cabo", afirma o economista.
O estudo sugere que tornar a operação do tráfico mais cara é o caminho para a repressão policial.
"A apreensão de armas afeta a demanda pela droga, por aumentar seu preço em razão do custo adicional que cria pela necessidade de reposição do arsenal do tráfico. A ação tende a facilitar a identificação de fornecedores, restringindo a oferta", escreve ele. "O aumento do custo da operação do negócio também reduz o excedente operacional do comércio e portanto a remuneração dos que dele participam, diminuindo o estímulo da "carreira" do tráfico."


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