São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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Empresas ajudam a financiar pacificação

Contribuições para UPPs de favelas são feitas com obras e doações; Eike Batista doou R$ 20 mi para fundo

"Favelas se tornaram mercado socialmente atraente", explica a subsecretária de Ações Integradas no Território

ELVIRA LOBATO
CLAUDIA ANTUNES

DO RIO

O Estado do Rio recebe ajuda financeira de grandes empresas para expulsar o tráfico de drogas das favelas.
Coca-Cola, Souza Cruz, Bradesco Seguros e o grupo EBX, do empresário Eike Batista, estão entre os doadores de recursos para a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Segundo a Secretaria de Segurança do Estado, esses recursos financiam parte da compra de viaturas e de fardas. As empresas não repassam o dinheiro -compram e doam os equipamentos.
Segundo a secretaria, as doações aceleram a implantação das UPPs, já que as empresas não têm a obrigação de fazer licitações públicas.
A maior doação veio de Eike Batista, segundo a revista "Forbes" o homem mais rico do Brasil e o 8º mais rico do mundo (US$ 7,5 bilhões). Ele se comprometeu a repassar R$ 20 milhões anuais, por dois anos. "Nunca antes houve tanta vontade de consertar o Rio", disse Batista.
Seu dinheiro foi para um fundo, usado de acordo com as demandas do Comando de Polícia Pacificadora.
O coronel Ronal Santana, comandante interino das UPPs, diz que não tem contato direto com as empresas. "Listamos nossas necessidades de estrutura física e de equipamentos e o gabinete do secretário [José Mariano Beltrame] faz o contato."
A parceria começou há dois meses. A Bradesco Seguros diz ter doado R$ 2 milhões. A Souza Cruz e a Coca-Cola bancaram a construção da sede da UPP que atende os 5.000 moradores da Ladeira dos Tabajaras e do morro dos Cabritos (Copacabana).
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pagará as novas instalações da UPP na Cidade de Deus (zona oeste).
Além das doações, a Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e a Fecomércio mantêm projetos sociais nas 12 favelas com UPPs, em convênios com o Estado.
O Sesi Comunidade investe R$ 11 milhões em atividades esportivas, culturais e para idosos, que em seis meses atenderam 10 mil pessoas. O Senai oferece cursos de capacitação profissional.
"Se não ganharmos essa batalha, nem nossos filhos e nem nossos netos vão ver o Rio melhor", diz o presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira.
A identificação das necessidades em cada favela é feita em articulação com o programa do governo UPP Social, presente em quatro das comunidades "pacificadas".
Em assembleias com moradores e por meio de "gestores locais" -jovens doutorandos contratados por R$ 3.700-, a UPP Social faz a conexão entre a população e os serviços oferecidos pelo Estado, empresas e ONGs.

ESTRATÉGIA
A antropóloga Silvia Ramos, subsecretária de Ações Integradas no Território, diz que a iniciativa das empresas é "um investimento no futuro, capitalista, mas com sensibilidade social".
"Eles querem conquistar as classes C, D e E. As favelas se tornaram um mercado socialmente atraente", diz.
Ela lembra que uma das primeiras ações da polícia ao expulsar o tráfico armado é destruir as ligações clandestinas de luz e TV a cabo.
A Sky fez um pacote mais barato para as áreas com UPPs, de R$ 44,90. A Light está trocando os cabos e instalando relógios novos. "Por enquanto está investindo mais do que ganhando, mas a ideia é que recuperem um território que tinham perdido", diz Ramos.
Nas duas últimas semanas, o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio), que enfrenta carência de mão de obra, fez três recrutamentos na Cidade de Deus e no Borel, na Tijuca.
De 262 cadastrados, 139 foram encaminhados para entrevistas de emprego.
O aproveitamento só não foi maior porque esbarrou num problema estrutural: a maioria das vagas exigia segundo grau completo. "É um afunilamento horroroso", diz Katia Watts, do SindRio.


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