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Empresas ajudam a financiar pacificação
Contribuições para UPPs de favelas são feitas com obras e doações; Eike Batista doou R$ 20 mi para fundo
"Favelas se tornaram mercado socialmente atraente", explica a subsecretária de Ações Integradas no Território
ELVIRA LOBATO
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
O Estado do Rio recebe
ajuda financeira de grandes
empresas para expulsar o
tráfico de drogas das favelas.
Coca-Cola, Souza Cruz,
Bradesco Seguros e o grupo
EBX, do empresário Eike Batista, estão entre os doadores
de recursos para a implantação das UPPs (Unidades de
Polícia Pacificadora).
Segundo a Secretaria de
Segurança do Estado, esses
recursos financiam parte da
compra de viaturas e de fardas. As empresas não repassam o dinheiro -compram e
doam os equipamentos.
Segundo a secretaria, as
doações aceleram a implantação das UPPs, já que as empresas não têm a obrigação
de fazer licitações públicas.
A maior doação veio de Eike Batista, segundo a revista
"Forbes" o homem mais rico
do Brasil e o 8º mais rico do
mundo (US$ 7,5 bilhões). Ele
se comprometeu a repassar
R$ 20 milhões anuais, por
dois anos. "Nunca antes houve tanta vontade de consertar o Rio", disse Batista.
Seu dinheiro foi para um
fundo, usado de acordo com
as demandas do Comando de
Polícia Pacificadora.
O coronel Ronal Santana,
comandante interino das
UPPs, diz que não tem contato direto com as empresas.
"Listamos nossas necessidades de estrutura física e de
equipamentos e o gabinete
do secretário [José Mariano
Beltrame] faz o contato."
A parceria começou há
dois meses. A Bradesco Seguros diz ter doado R$ 2 milhões. A Souza Cruz e a Coca-Cola bancaram a construção
da sede da UPP que atende os
5.000 moradores da Ladeira
dos Tabajaras e do morro dos
Cabritos (Copacabana).
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) pagará as
novas instalações da UPP na
Cidade de Deus (zona oeste).
Além das doações, a Firjan
(Federação das Indústrias do
Rio de Janeiro) e a Fecomércio mantêm projetos sociais
nas 12 favelas com UPPs, em
convênios com o Estado.
O Sesi Comunidade investe R$ 11 milhões em atividades esportivas, culturais e
para idosos, que em seis meses atenderam 10 mil pessoas. O Senai oferece cursos
de capacitação profissional.
"Se não ganharmos essa
batalha, nem nossos filhos e
nem nossos netos vão ver o
Rio melhor", diz o presidente
da Firjan, Eduardo Eugenio
Gouvêa Vieira.
A identificação das necessidades em cada favela é feita
em articulação com o programa do governo UPP Social,
presente em quatro das comunidades "pacificadas".
Em assembleias com moradores e por meio de "gestores locais" -jovens doutorandos contratados por R$
3.700-, a UPP Social faz a
conexão entre a população e
os serviços oferecidos pelo
Estado, empresas e ONGs.
ESTRATÉGIA
A antropóloga Silvia Ramos, subsecretária de Ações
Integradas no Território, diz
que a iniciativa das empresas
é "um investimento no futuro, capitalista, mas com sensibilidade social".
"Eles querem conquistar
as classes C, D e E. As favelas
se tornaram um mercado socialmente atraente", diz.
Ela lembra que uma das
primeiras ações da polícia ao
expulsar o tráfico armado é
destruir as ligações clandestinas de luz e TV a cabo.
A Sky fez um pacote mais
barato para as áreas com
UPPs, de R$ 44,90. A Light
está trocando os cabos e instalando relógios novos. "Por
enquanto está investindo
mais do que ganhando, mas
a ideia é que recuperem um
território que tinham perdido", diz Ramos.
Nas duas últimas semanas, o Sindicato de Hotéis,
Bares e Restaurantes (SindRio), que enfrenta carência
de mão de obra, fez três recrutamentos na Cidade de
Deus e no Borel, na Tijuca.
De 262 cadastrados, 139 foram encaminhados para entrevistas de emprego.
O aproveitamento só não
foi maior porque esbarrou
num problema estrutural: a
maioria das vagas exigia segundo grau completo. "É um
afunilamento horroroso",
diz Katia Watts, do SindRio.
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