São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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Jovem morto por tigresa nos EUA era filho de brasileira

"Vida dele foi curta, mas alegre", diz Marilza Sousa, que mora em São Francisco

Carlos Sousa Junior, 17, era estudante do ensino médio e sonhava ser DJ; em um site de relacionamentos, ele dizia ser brasileiro

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

"Eu sou brasileiro, não é, mãe? Olha a minha cor. Isso não é cor de americano", costumava dizer Carlos Sousa Junior, morto aos 17 anos no dia de Natal por uma tigresa de 136 quilos no Zoológico de São Francisco, na Califórnia.
Marilza Ferreira Sousa, 46, brasileira de Piabetá (distrito de Magé, RJ), respondia a todos "orgulhosamente que sim, que ele era bem brasileiro, bem alegre e um excelente filho".
Carlos -nascido em São José, Califórnia, filho de Marilza e de pai português, casal divorciado há três anos- passeava com amigos pelo zoológico quando a tigresa conseguiu escapar de uma cova com 4,2 m de profundidade -protegida por um fosso de 7,5 m de distância da grade dos visitantes.
A polícia diz suspeitar que o animal tenha tido a ajuda de alguém para escapar e também que o grupo de amigos tenha provocado a fera.

Mordida
Segundo testemunhas, a primeira mordida, que foi no pescoço, matou o jovem na hora.
"Eu e o pai dele fomos fazer ontem o reconhecimento do corpo. O rosto estava muito desfigurado, mas deu para ver que era ele. Foi um momento tão difícil! Vai ficar gravado para sempre na vida da gente", diz a mãe, que espera a liberação do corpo na segunda ou na terça para poder enterrar o filho.
"Nosso Ano Novo vai ser terrível", afirma. Marilza viu o filho na véspera de Natal. O garoto havia passado a ceia na casa do pai.
Marilza chegou aos Estados Unidos há duas décadas, com o filho Leonardo, que hoje tem 21 anos. "Deixei a minha filha Beatris [hoje com 28 anos] no Rio de Janeiro, e depois de dois anos ela veio. Chegamos aqui com visto de turista, mas depois resolvi a papelada", afirmou a mãe de Carlos.
Ela trabalha em uma fábrica de componentes de computadores, analisando no microscópio a qualidade de micropeças.

DJ
Calos Sousa Junior era estudante do ensino médio e sonhava ser DJ. "Ele adorava música, adorava rap", conta a mãe.
"A vida dele foi curta, mas foi alegre. Ele era carinhoso. Eu é que o arrumava todo dia para ir para a escola, e fazia o rabinho no cabelo dele, que ele não sabia fazer. Ele falava: não tem comida melhor que a da minha mãe! Comia arroz, feijão preto, ovo frito, comidinha brasileira bem simples."
Carlos só foi ao Brasil uma vez, quando era criança. Em sua página no site de relacionamentos MySpace (espécie de Orkut, com mais recursos), ele escreveu seu perfil ao lado de uma bandeira brasileira: "Hey, e aí? Meu nome é Carlos. Eu sou português e brasileiro. Eu amo a minha vida, mas ela vai melhorar".

Orgulho
"Ele era muito orgulhoso do Brasil e da seleção brasileira de futebol", diz o irmão Leonardo, que criou uma página em homenagem ao jovem no MySpace. O link é www.myspace. com/inmemoryofcarlos sousa. Segundo ele, a família não tem dinheiro para pagar as despesas do funeral.


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