São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2008

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Extremos de SP mudam pouco em 10 anos

Apesar de evoluírem em qualidade de água, esgoto e energia, bairros periféricos ainda têm áreas carentes de serviços básicos

Em 1998, a Folha visitou os distritos de Brasilândia, Marsilac, Itaim Paulista e São Miguel, que ainda têm áreas carentes de serviços básicos

LALO DE ALMEIDA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
FERNANDO BARROS DE MELLO
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem carregava balde para ter água em casa, caminhava em total escuridão e levava uma muda de roupa extra caso caísse no lamaçal antes de chegar ao serviço, a vida melhorou. Mas o que o poder público veio oferecendo nos últimos dez anos nos extremos da cidade ainda está longe de ultrapassar a linha da infra-estrutura básica.
Em 1998, a Folha visitou quatro das áreas mais periféricas de São Paulo: os distritos de Brasilândia, na região noroeste, de Marsilac, no extremo sul, e de Itaim Paulista e São Miguel Paulista, ambos no extremo leste. Revisitados agora, dez anos depois, é possível perceber que as redes de água, luz e esgoto foram ampliadas, mas ainda há áreas carentes até mesmo desses serviços básicos.
As mudanças (ou a falta delas) no intervalo entre 1998 e 2008 têm a participação da petista Marta Suplicy, do democrata Gilberto Kassab e do tucano José Serra.
Nesses locais, o que se vê é improviso -pessoas carregando sacos de lixo porque não há coleta, "gatos" de fios emaranhados para ter iluminação, carência de serviços médicos e falta de escolas.
Dos serviços básicos, na média paulistana, 87,2% dos lares têm esgoto, 98,6% têm água encanada e 99,8% têm rede elétrica (IBGE 2000).
"É preciso incentivar a habitação nas áreas centrais, que já dispõem de infra-estrutura e vêm perdendo população, e assim desestimular a ocupação periférica", diz Luciana Ferrara, pesquisadora do LabHab (Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos) da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.
Em São Miguel Paulista não há mais jovens surfando em trens. Mas a estação mais próxima ainda está a 2 km de distância e as pessoas ainda atravessam a linha do trem a pé.
No Itaim Paulista a fiação elétrica improvisada deu lugar a uma estrutura mais organizada, mas ainda deficiente. Em toda a área da subprefeitura (21,72 km2) a rede elétrica aprovada em maio era de 1.843 metros, segundo a Secretaria Municipal de Planejamento.
Já em Marsilac, o único distrito ainda rural, dos 2.114 domicílios, apenas sete estavam ligados à rede de esgoto em 2000, como aponta o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Boa parte da região sul integra uma área de proteção de mananciais, o que restringe o uso do solo, mas acaba barateando as terras e atraindo a população de baixa renda.
O cenário é semelhante na região noroeste, onde a expansão do distrito da Brasilândia subiu a serra da Cantareira, outra área de proteção de mananciais e forte candidata a expansão de loteamentos ilegais.
"Há uma questão de quem mora nesses locais há muito tempo e que tem direito à moradia", diz Luciana Ferrara. "O correto é urbanizar e sanear essas áreas, qualificando-as da melhor maneira possível", afirma a pesquisadora.


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