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Extremos de SP mudam pouco em 10 anos
Apesar de evoluírem em qualidade de água, esgoto e energia, bairros periféricos ainda têm áreas carentes de serviços básicos
Em 1998, a Folha visitou os distritos de Brasilândia, Marsilac, Itaim Paulista e São Miguel, que ainda têm áreas carentes de serviços básicos
LALO DE ALMEIDA
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
FERNANDO BARROS DE MELLO
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem carregava balde
para ter água em casa, caminhava em total escuridão e levava uma muda de roupa extra
caso caísse no lamaçal antes de
chegar ao serviço, a vida melhorou. Mas o que o poder público
veio oferecendo nos últimos
dez anos nos extremos da cidade ainda está longe de ultrapassar a linha da infra-estrutura
básica.
Em 1998, a Folha visitou
quatro das áreas mais periféricas de São Paulo: os distritos de
Brasilândia, na região noroeste, de Marsilac, no extremo sul,
e de Itaim Paulista e São Miguel Paulista, ambos no extremo leste. Revisitados agora,
dez anos depois, é possível perceber que as redes de água, luz
e esgoto foram ampliadas, mas
ainda há áreas carentes até
mesmo desses serviços básicos.
As mudanças (ou a falta delas) no intervalo entre 1998 e
2008 têm a participação da petista Marta Suplicy, do democrata Gilberto Kassab e do tucano José Serra.
Nesses locais, o que se vê é
improviso -pessoas carregando sacos de lixo porque não há
coleta, "gatos" de fios emaranhados para ter iluminação, carência de serviços médicos e
falta de escolas.
Dos serviços básicos, na média paulistana, 87,2% dos lares
têm esgoto, 98,6% têm água
encanada e 99,8% têm rede elétrica (IBGE 2000).
"É preciso incentivar a habitação nas áreas centrais, que já
dispõem de infra-estrutura e
vêm perdendo população, e assim desestimular a ocupação
periférica", diz Luciana Ferrara, pesquisadora do LabHab
(Laboratório de Habitação e
Assentamentos Humanos) da
FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) da USP.
Em São Miguel Paulista não
há mais jovens surfando em
trens. Mas a estação mais próxima ainda está a 2 km de distância e as pessoas ainda atravessam a linha do trem a pé.
No Itaim Paulista a fiação
elétrica improvisada deu lugar
a uma estrutura mais organizada, mas ainda deficiente. Em
toda a área da subprefeitura
(21,72 km2) a rede elétrica
aprovada em maio era de 1.843
metros, segundo a Secretaria
Municipal de Planejamento.
Já em Marsilac, o único distrito ainda rural, dos 2.114 domicílios, apenas sete estavam
ligados à rede de esgoto em
2000, como aponta o censo do
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
Boa parte da região sul integra uma área de proteção de
mananciais, o que restringe o
uso do solo, mas acaba barateando as terras e atraindo a
população de baixa renda.
O cenário é semelhante na
região noroeste, onde a expansão do distrito da Brasilândia
subiu a serra da Cantareira, outra área de proteção de mananciais e forte candidata a expansão de loteamentos ilegais.
"Há uma questão de quem
mora nesses locais há muito
tempo e que tem direito à moradia", diz Luciana Ferrara. "O
correto é urbanizar e sanear essas áreas, qualificando-as da
melhor maneira possível", afirma a pesquisadora.
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