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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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CLIMA

Em Taboão da Serra, pintor perdeu dois filhos e outros cinco familiares; em Mauá, menina de 3 anos morreu

Deslizamentos de terra matam oito

Willians Valente/Folha Imagem
Bombeiros trabalham na busca de sobreviventes, após deslizamento de terra que soterrou uma casa, em Taboão da Serra (Grande SP)


BRUNO LIMA
DAGUITO RODRIGUES

DA REPORTAGEM LOCAL

Oito pessoas, entre elas cinco crianças, morreram soterradas na madrugada de ontem, na Grande São Paulo, em deslizamentos causados pela chuva que atinge a região Sudeste há 15 dias.
Por volta da 1h30, sete pessoas de uma mesma família morreram quando uma casa desabou no Jardim São Judas, em Taboão da Serra (Grande São Paulo).
Em Mauá (Grande SP), no Jardim Elizabeth, Jéssica Martins da Rocha, 3, também morreu soterrada. Por volta da 1h, um deslizamento de terra atingiu a parede do quarto onde ela dormia. Marivânia Martins de Campos, 25, mãe de Jéssica, e outros três filhos, José, 5, Jeferson, 2, e Juliana, 5 meses, também estavam na casa e sofreram escoriações leves.
As chuvas fortes começaram na Grande São Paulo por volta das 21h30 de anteontem. À 0h30 de ontem, ficaram mais fracas e assim seguiram por toda a madrugada. Foram cerca de 12 horas de chuva contínua, de acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências.
Na casa soterrada em Taboão da Serra, havia dez pessoas dormindo. Dois filhos, o enteado, a nora e os três netos -Bruno, 7, Márcio Júnior, 1, e Tiago, 4 meses- do pintor José Henrique Ferreira de Jesus, 40, ficaram sob a terra e não resistiram. A família vivia no local havia cerca de seis anos.
O secretário de governo de Taboão, Salvador Grisafi, afirmou que as visitas da prefeitura ao local são sistemáticas, mas não soube dizer quando a fiscalização esteve no bairro.
Em Mauá, além do local em que morreu a menina Jéssica, houve deslizamentos no Jardim Itapark Novo, onde um barraco foi destruído, e no Alto da Boa Vista, onde os fundos de uma casa desabaram. O local foi considerado de risco, mas, segundo a prefeitura, cinco pessoas não quiseram sair.
Até o final da tarde, 21 casas haviam sido interditadas nesses bairros pela Defesa Civil do município. A prefeitura diz que dará apoio aos moradores. A área é ocupada irregularmente. Em Taboão da Serra, pelo menos 15 casas foram interditadas.
Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, também foram registrados deslizamentos em Itaquaquecetuba e Embu, na Grande São Paulo. Não houve vítimas.
O número de mortos no país em decorrência das chuvas já chega a 87 neste ano. Esse dado é referente aos Estados de Minas Gerais (47), Rio de Janeiro (26), São Paulo (10) e Espírito Santo (4). Os desabrigados e desalojados são mais de 37 mil. Em São Paulo, foram 17 mortos desde 1º de dezembro, início da Operação Verão da Defesa Civil. O número supera o total do verão passado (14).

Entulho
Eram cerca de 11h quando o pintor Ferreira de Jesus voltou a casa onde havia perdido sete parentes. "Não ouvi nenhum barulho. Acordei arremessado pela força da terra", disse. Contou que ainda tentou salvar o filho Klebson, 17, mas que não conseguiu. Só ele e os filhos Klícia, 14, e Kleiton, 16, sobreviveram.
Atrás da casa, há um morro com mato e entulho. "Agora o senhor está feliz?", gritou o pintor para um vizinho do alto do morro. Para Ferreira de Jesus, a causa do acidente não foi a chuva, "que já caiu tantas vezes", mas o entulho jogado pelos moradores de cima. A Folha tentou falar com o vizinho, mas ele saiu de casa.


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