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CLIMA
Em Taboão da Serra, pintor perdeu dois filhos e outros cinco familiares; em Mauá, menina de 3 anos morreu
Deslizamentos de terra matam oito
Willians Valente/Folha Imagem
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Bombeiros trabalham na busca de sobreviventes, após deslizamento de terra que soterrou uma casa, em Taboão da Serra (Grande SP) |
BRUNO LIMA
DAGUITO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
Oito pessoas, entre elas cinco
crianças, morreram soterradas na
madrugada de ontem, na Grande
São Paulo, em deslizamentos causados pela chuva que atinge a região Sudeste há 15 dias.
Por volta da 1h30, sete pessoas
de uma mesma família morreram
quando uma casa desabou no Jardim São Judas, em Taboão da Serra (Grande São Paulo).
Em Mauá (Grande SP), no Jardim Elizabeth, Jéssica Martins da
Rocha, 3, também morreu soterrada. Por volta da 1h, um deslizamento de terra atingiu a parede
do quarto onde ela dormia. Marivânia Martins de Campos, 25,
mãe de Jéssica, e outros três filhos,
José, 5, Jeferson, 2, e Juliana, 5 meses, também estavam na casa e sofreram escoriações leves.
As chuvas fortes começaram na
Grande São Paulo por volta das
21h30 de anteontem. À 0h30 de
ontem, ficaram mais fracas e assim seguiram por toda a madrugada. Foram cerca de 12 horas de
chuva contínua, de acordo com o
Centro de Gerenciamento de
Emergências.
Na casa soterrada em Taboão da
Serra, havia dez pessoas dormindo. Dois filhos, o enteado, a nora e
os três netos -Bruno, 7, Márcio
Júnior, 1, e Tiago, 4 meses- do
pintor José Henrique Ferreira de
Jesus, 40, ficaram sob a terra e não
resistiram. A família vivia no local
havia cerca de seis anos.
O secretário de governo de Taboão, Salvador Grisafi, afirmou
que as visitas da prefeitura ao local são sistemáticas, mas não soube dizer quando a fiscalização esteve no bairro.
Em Mauá, além do local em que
morreu a menina Jéssica, houve
deslizamentos no Jardim Itapark
Novo, onde um barraco foi destruído, e no Alto da Boa Vista, onde os fundos de uma casa desabaram. O local foi considerado de
risco, mas, segundo a prefeitura,
cinco pessoas não quiseram sair.
Até o final da tarde, 21 casas haviam sido interditadas nesses
bairros pela Defesa Civil do município. A prefeitura diz que dará
apoio aos moradores. A área é
ocupada irregularmente. Em Taboão da Serra, pelo menos 15 casas foram interditadas.
Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, também foram
registrados deslizamentos em Itaquaquecetuba e Embu, na Grande
São Paulo. Não houve vítimas.
O número de mortos no país em
decorrência das chuvas já chega a
87 neste ano. Esse dado é referente aos Estados de Minas Gerais
(47), Rio de Janeiro (26), São Paulo (10) e Espírito Santo (4). Os desabrigados e desalojados são mais
de 37 mil. Em São Paulo, foram 17
mortos desde 1º de dezembro, início da Operação Verão da Defesa
Civil. O número supera o total do
verão passado (14).
Entulho
Eram cerca de 11h quando o
pintor Ferreira de Jesus voltou a
casa onde havia perdido sete parentes. "Não ouvi nenhum barulho. Acordei arremessado pela
força da terra", disse. Contou que
ainda tentou salvar o filho Klebson, 17, mas que não conseguiu.
Só ele e os filhos Klícia, 14, e Kleiton, 16, sobreviveram.
Atrás da casa, há um morro
com mato e entulho. "Agora o senhor está feliz?", gritou o pintor
para um vizinho do alto do morro. Para Ferreira de Jesus, a causa
do acidente não foi a chuva, "que
já caiu tantas vezes", mas o entulho jogado pelos moradores de cima. A Folha tentou falar com o vizinho, mas ele saiu de casa.
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