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São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Médico confessa o assassinato, mas não dá detalhes do crime; para peritos, dissecação do corpo indica surto psicótico

Cirurgião plástico alega "lapso de memória"

Rubens Cavallari/Folha Imagem
O cirurgião plástico Farah Jorge Farah durante seu depoimento


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de esquartejar, o cirurgião plástico Farah Jorge Farah, 53, dissecou por horas, usando bisturi e pinça, partes do corpo da sua paciente Maria do Carmo Alves, 46, como em uma aula de anatomia, segundo peritos do IML (Instituto Médico Legal) que analisaram o cadáver.
Ontem, Farah confessou, em depoimento à polícia, ter matado a paciente, mas disse ter sofrido um lapso de memória em relação aos detalhes do crime, que teria ocorrido na última sexta-feira, em sua clínica em Santana (zona norte de São Paulo).
Peritos do IML avaliam que a dissecação -processo desnecessário se o objetivo era esquartejar a vítima para se livrar mais facilmente do corpo- mostra que o cirurgião plástico agiu como em um surto psicótico.
Partes do corpo de Maria do Carmo foram encontradas anteontem em cinco sacos no porta-malas do carro de Farah. O cadáver estava dividido em nove partes. A polícia ainda não tem explicação para a falta da pele em algumas partes do corpo da vítima e chegou a cogitar a possibilidade de venda da pele ou de outros órgãos -as vísceras da vítima não foram encontradas.
Para o IML, essa tese não faz sentido. O que houve, segundo os peritos, não foi a simples retirada da pele, mas a dissecação de partes do corpo. Essa dissecação consiste na retirada da pele com uso de bisturi e pinça e na limpeza e separação de músculos, como ocorre nos estudos anatômicos dos cursos de medicina.
Isso ocorreu, segundo peritos, em um braço, ombro, rosto, tórax e perna. Esse processo teria demorado horas, o que levou os peritos a crer que o cirurgião tenha agido em um surto psicótico.
As mãos da vítima, que a polícia acreditava estar desaparecidas, foram encontradas pelos peritos nos sacos plásticos que estavam no porta-malas do carro de Farah. Mas o cirurgião cortou a pele das pontas dos dedos para dificultar a identificação das digitais.
O desaparecimento das vísceras, que poderiam mostrar se a vítima foi dopada, dificulta o trabalho dos peritos, que ainda não conseguiram definir os golpes fatais ou se a vítima começou a ser esquartejada antes de ser morta.
No depoimento, Farah disse só se lembrar de Maria do Carmo entrando no seu consultório com uma faca, por volta das 18h30 de sexta-feira. A partir daí, disse ter sofrido um lapso de memória e não se lembrar como esquartejou o corpo da vítima e depois tentou escondê-lo.
O cirurgião plástico disse à polícia que Maria do Carmo não se conformava com o fim do relacionamento entre eles. Disse aos policiais que ela o ameaçava por telefone e em visitas à clínica.
"Ele não acrescentou nada no seu depoimento, mas temos as provas do crime. É difícil acreditar nessa história de que ele não se lembra de nada", disse o delegado Ítalo Miranda Júnior, titular do 13º DP (Casa Verde, zona norte).
Ontem, o cirurgião teve a prisão preventiva decretada por homicídio doloso (intencional), a pedido do Ministério Público. Ele estava preso em flagrante por ocultação de cadáver. Farah divide uma cela do 13º DP com outros cinco presos, entre eles o médico Eugênio Chipkevitch, acusado de molestar jovens em seu consultório.
Segundo a comerciante autônoma Leila Marlene Catuta, 45, que foi ontem à polícia defender o médico, Farah reclamava que Maria do Carmo pedia dinheiro e inventava denúncias de abuso sexual de clientes que não existiam. "Há cinco meses, tentamos montar um flagrante de extorsão na clínica, mas ela percebeu e não deu certo", disse Leila.
A polícia afirmou desconhecer denúncias de extorsão e que Farah só disse que Maria do Carmo o perseguia por causa do fim do relacionamento amoroso.
O porteiro João Augusto de Lima, 45, marido da vítima, afirmou ontem que sua mulher era assediada pelo médico, mas afirmou que eles não eram amantes, diferentemente do que informaram a polícia, outros clientes do médico e o próprio Farah.


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