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Fiscal da linha 4 é acusado de ligação com empreiteira
Gerente do Metrô e empresas são réus em ação civil proposta pela Promotoria
Para o Ministério Público Estadual, funcionário era subcontratado e em troca construía casas para executivos da companhia
Ricardo Nogueira/Folha Imagem
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Prédio da Subprefeitura de Santana, uma das obras da Engemab |
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O gerente de construção da
linha 4 do metrô de São Paulo,
Marco Antonio Buoncompagno, é processado sob a acusação
de ter participado de um esquema ilegal de contratações públicas em parceria com uma
empreiteira do Consórcio Via
Amarela -cujos trabalhos hoje
ele é encarregado de fiscalizar.
A ação civil pública foi proposta pelo Ministério Público
Estadual e ainda não foi julgada
-está em fase de perícia.
Nomeado na gestão Geraldo
Alckmin (PSDB) para controlar
a obra que provocou a maior
tragédia da história do Metrô,
Buoncompagno, para a Promotoria, foi "favorecido" pela Andrade Gutierrez nos anos 90.
Cargo de confiança de Luiz
Carlos Frayze David, presidente do Metrô na gestão de Alckmin e mantido na de José Serra
(PSDB), Buoncompagno comanda os trabalhos de "gerenciamento e de fiscalização" da
construção da linha 4.
Isso significa que passam por
ele quase todas as decisões do
Estado em relação à obra.
A ação tramita desde 1992. O
Ministério Público Estadual
diz que Buoncompagno e a Andrade Gutierrez atuaram num
esquema que teria levado ao
enriquecimento de Antonio
Sergio Fernandes, ex-presidente do Metrô no governo
Orestes Quércia (PMDB).
Segundo a acusação, as construtoras Andrade Gutierrez e
Mendes Jr. eram beneficiadas
por aditivos contratuais irregulares do Metrô no começo dos
anos 90, para que repassassem
parte dos serviços à Engemab,
empresa de engenharia criada
por Buoncompagno em 1989.
Amigo de Fernandes, Buoncompagno, em troca, construiria, sem cobrar, as casas de alto
padrão em Alphaville (Grande
São Paulo) do então presidente
do Metrô e de outros auxiliares,
segundo a Promotoria.
Ela classifica a estratégia de
"ardil" e afirma que os aditivos
contratuais de até 46,5% foram
"atos viciados contraídos pelas
empreiteiras-rés [Andrade Gutierrez e Mendes Jr.] e sua subempreiteira [Engemab], com
sócios [Buoncompagno] incestuosamente vinculados ao ex-presidente do Metrô".
A ação pede a "nulidade dos
contratos" firmados no começo
do anos 90, além da "condenação dos réus a repor ao patrimônio do Metrô" os custos dos
mesmos -em valores nominais, CR$ 3 bilhões, mas cujas
atualizações complexas devem
ser feitas por peritos judiciais.
Os acusados admitem parte
dos fatos relatados, mas negam
que haja ilegalidades.
Numa ação na esfera penal,
Buoncompagno chegou a ser
alvo de uma sentença condenatória por corrupção ativa em
1995, mas conseguiu revogá-la
-e a acusação foi arquivada.
Subcontratação
No processo, todas as partes
citadas reconhecem a subcontratação da Engemab pela Andrade Gutierrez e Mendes Jr.
em obras do Metrô.
Entre elas estão a construção
de edifício da companhia e de
posto da PM na estação Paraíso
e obras da delegacia da Barra
Funda e da Administração Regional de Santana na época
-todas inseridas em contratações do Metrô para a ampliação
das linhas 1-azul e 2-verde.
O Ministério Público Estadual afirma que a Engemab ganhou, na época, US$ 6,2 milhões com as subempreitadas
-a empresa admite ter recebido US$ 2,7 milhões.
Os acusados também admitem a construção da casa do ex-presidente do Metrô pela Engemab -mas negam relação
com a subcontratação e afirmam que os serviços seriam pagos no final da empreitada.
Buoncompagno foi engenheiro do Metrô de 1977 a 1986
e retornou novamente à empresa, na assessoria direta do
presidente David, em 2003.
Entre os motivos da demora
para que a ação seja julgada estão a quantidade de réus com
seus respectivos recursos -22,
fora Buoncompagno-, além do
debate jurídico nos anos 90 sobre a competência do Ministério Público para mover esse tipo de ação e da demora para a
definição da perícia.
Num dos últimos despachos
sobre a ação, em 28 de dezembro de 2006, a Justiça aprovou,
ao custo de R$ 45 mil, a realização de análise pericial dos contratos e dos bens relacionados.
Questionamentos
A acusação de promotores
sobre a ligação de Buoncompagno com uma das integrantes do Via Amarela, consórcio
responsável pelas obras da linha 4 do Metrô, deve agravar os
questionamentos sobre a supervisão pelo Estado do empreendimento, que já teve ao
menos nove acidentes até hoje.
Nos últimos dias, foram encontrados os corpos de sete vítimas engolidas pelo buraco
aberto no dia 12 no canteiro da
futura estação Pinheiros.
Desde então, os contratos e
as obras da linha 4 (Luz-Vila
Sônia) passaram a sofrer as
mais variadas críticas de especialistas -do controle frágil do
Metrô à negligência diante de
indícios de problemas na construção, como rachaduras em
imóveis, além da autorização
governamental para que as empreiteiras adotassem um método construtivo mais arriscado.
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