São Paulo, terça-feira, 29 de janeiro de 2008

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Dom Cândido Padin, vida no São Bento

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Todo domingo os fiéis do mosteiro de São Bento ouviam as homilias de dom Cândido Padin, 92 anos e muita lucidez. Era aniversário de São Paulo quando ele, em uma cadeira de rodas, rezou pela última vez.
Nascido Rubens em São Carlos (SP), veio para São Paulo estudar no colégio São Bento. Na faculdade de mesmo nome fez doutorado em filosofia. E fez ainda direito na USP, quando já estava política e religiosamente engajado -fundou a Juventude Universitária Católica e foi ordenado, em 1946, sacerdote da ordem de São Bento.
Como primeiro reitor da PUC, lutou pelo ensino religioso na Lei de Diretrizes e Bases de 1961. E foi do conselho federal de educação -saiu com o golpe militar. Seria "das primeiras pedras no sapato da ditadura". Já bispo, em 1968, publicou um documento criticando a Lei de Segurança Nacional, publicado em jornal.
Polêmico, acompanhou a Assembléia Constituinte de 1988 e a denunciou por "não ouvir a voz do povo". Paciente, respondia as centenas de cartas que enchiam sua escrivaninha, pedindo "de bênçãos a dinheiro". Respondia a todas. E no escritório ao lado de seu quarto, tinha sete fotos. Três com o papa Paulo 6º, três com João Paulo 2º e uma com Bento 16.
Foi bispo de Lorena e de Bauru, quando se aposentou. Tinha 75 anos quando decidiu voltar ao claustro do São Bento. Caminhava com dificuldade, mas celebrava missas e escrevia -publicou até uma autobiografia batida na máquina de escrever.
Na sexta acordou às 7h e foi rezar a celebração da conversão de São Paulo apóstolo, no aniversário da cidade. Sentiu falta de ar e recolheu-se ao claustro para rezar. Foi achado morto, horas depois, sentado na cadeira -o terço sobre a escrivaninha.


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