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Dom Cândido Padin, vida no São Bento
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo domingo os fiéis do
mosteiro de São Bento ouviam as homilias de dom
Cândido Padin, 92 anos e
muita lucidez. Era aniversário de São Paulo quando ele,
em uma cadeira de rodas, rezou pela última vez.
Nascido Rubens em São
Carlos (SP), veio para São
Paulo estudar no colégio São
Bento. Na faculdade de mesmo nome fez doutorado em
filosofia. E fez ainda direito
na USP, quando já estava política e religiosamente engajado -fundou a Juventude
Universitária Católica e foi
ordenado, em 1946, sacerdote da ordem de São Bento.
Como primeiro reitor da
PUC, lutou pelo ensino religioso na Lei de Diretrizes e
Bases de 1961. E foi do conselho federal de educação
-saiu com o golpe militar.
Seria "das primeiras pedras
no sapato da ditadura". Já
bispo, em 1968, publicou um
documento criticando a Lei
de Segurança Nacional, publicado em jornal.
Polêmico, acompanhou a
Assembléia Constituinte de
1988 e a denunciou por "não
ouvir a voz do povo". Paciente, respondia as centenas de
cartas que enchiam sua escrivaninha, pedindo "de bênçãos a dinheiro". Respondia
a todas. E no escritório ao lado de seu quarto, tinha sete
fotos. Três com o papa Paulo
6º, três com João Paulo 2º e
uma com Bento 16.
Foi bispo de Lorena e de
Bauru, quando se aposentou.
Tinha 75 anos quando decidiu voltar ao claustro do São
Bento. Caminhava com dificuldade, mas celebrava missas e escrevia -publicou até
uma autobiografia batida na
máquina de escrever.
Na sexta acordou às 7h e
foi rezar a celebração da conversão de São Paulo apóstolo, no aniversário da cidade.
Sentiu falta de ar e recolheu-se ao claustro para rezar. Foi
achado morto, horas depois,
sentado na cadeira -o terço
sobre a escrivaninha.
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