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Obra em córregos não reduz enchentes
Após reformas feitas pela prefeitura, locais continuam alagando; outros, que não inundavam, passaram a transbordar
A Folha visitou 13 córregos que foram reformados e encontrou problemas em dez deles; em caso mais grave, obra estreitou o rio
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Criança em parque ao longo do córrego Cruzeiro do Sul-Mirim, na zona leste de São Paulo; canalização não dá conta do volume de água
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Córregos reformados pela
Prefeitura de São Paulo na gestão Gilberto Kassab (DEM)
com o objetivo de reduzir as
inundações não ajudaram a resolver o problema das enchentes. A Folha visitou 13 obras recentes do projeto Córrego Limpo, feito em parceria com a Sabesp, e constatou que, em alguns locais, a situação até piorou: casas que antes não alagavam agora passaram a inundar.
Para a urbanista que estuda
políticas públicas para rios, Luciana Travassos, projetos têm
pouco verde e muito concreto.
Canalização da água também
favorece as enchentes, diz.
O córrego Rio das Pedras, na
Capela do Socorro (zona sul),
ficou mais estreito no ano passado para dar lugar a um parque com pouco verde e muito
concreto. O parque deveria
funcionar como área de lazer e
"barrar" a água do córrego que
eventualmente transbordasse.
Mas agora, quando chove
mais forte, ele não suporta toda
a água, que invade as casas.
"Nunca vi isso aqui. Desde que
eles diminuíram o córrego, alaga sempre", diz Geraldo Egídio,
54, que tem um bar na rua Virgínia Maria da Conceição -um
dos 68 novos pontos de alagamentos divulgados pela Folha
no início deste mês.
Só em janeiro, quando houve
recorde de chuvas fortes, os
imóveis da rua inundaram seis
vezes -a última no sábado.
Na zona leste, campeã de
chuvas no ano passado, as
obras do córrego Cruzeiro do
Sul-Mirim (em São Miguel
Paulista) também estão prejudicando a população. Uma parte dele foi canalizada, mas a tubulação não dá conta durante
as chuvas mais intensas e a
água vaza, com muita força, por
tampas que ficam nas calçadas.
A área no entorno do córrego
ganhou calçadas novas, quadras e uma pista de skate. O
cheiro de esgoto também diminuiu por causa das ligações feitas pela Sabesp. Mas na chuva
da última terça, a casa da fotógrafa Nadir Lima, 46, foi invadida pelas águas, que atingiram
um metro de altura. Anteontem, ela decidiu aterrar a entrada da casa para deixá-la
mais alta e dificultar a inundação. "Nunca houve isso aqui.
Por fora está tudo lindo, mas
por dentro está tudo errado",
diz. "Melhor era deixar tudo
aberto, que a água ia embora."
A canalização de parte do
córrego do Sapé, no Butantã
(zona oeste), também trouxe
dores de cabeça para os moradores. O cano que passa debaixo de uma praça não aguenta a
água, que agora extravasa pelas
bocas de lobo. Anteontem, em
uma nova enchente, o auxiliar
de manutenção Fernando Pacheco, 39, fazia as contas do
prejuízo causado pela chuva da
última terça. "Perdemos estante, guarda-roupas, meu carro
não funciona mais", listava.
Muito concreto
"A ideia de fazer parques nas
margens dos córregos é muito
boa. Eles têm a função de reter
a água. Mas quando o parque
mal tem vegetação não resolve.
É como construir uma avenida", diz Luciana Travassos, ex-pesquisadora do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole), da USP, especialista
em parques lineares. A canalização, diz ela, é outro problema. "O córrego vira um tubo
grande embaixo da rua. Chove
muito, ele enche, a água faz
pressão e volta pelo bueiro."
Os bueiros também se tornaram um problema depois da reforma do córrego Ponte Rasa,
em Ermelino Matarazzo (zona
leste). Lá não foi feito parque,
mas duas bocas de lobo que levavam a água da rua para o córrego foram tapadas. A água da
calçada não consegue mais escoar e invade ruas e imóveis.
A prefeitura também tapou a
saída de outro bueiro, que passava embaixo de uma casa. Resultado: o solo ruiu e levou a
parte dos fundos da residência.
Dos 13 córregos visitados pela Folha, dez tinham problemas, incluindo esgoto irregular, falta de manutenção e muros de contenção baixos -tudo
isso contribui para enchentes.
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