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Permeabilização não evita enchentes, afirma geólogo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A noção de que o aumento da
permeabilização vai ajudar a
reduzir enchentes em São Paulo é um mito, segundo o geólogo
Arnaldo Kutner, 75, que deu
aulas na USP e trabalhou em
obras como o rebaixamento da
calha do Tietê e o parque criado
no mesmo rio. O problema, diz,
é o tipo de solo da cidade, bastante impermeável por causa
do alto teor de argila.
"Aumentar a permeabilização tem uma eficiência muito
pequena, porque só uma casquinha será permeável. Vai ser
como um mataborrãozinho."
FOLHA - Por que a cidade inunda
tão facilmente? É resultado da crescente impermeabilização do solo?
ARNALDO KUTNER - O problema
não é só de impermeabilização
com concreto e asfalto. Os solos
de São Paulo, devido à sua natureza silte-argilosa, têm uma
permeabilidade muito baixa, e
a água tem dificuldade para
atravessá-los. Siltes são materiais mais finos do que a areia, o
que dificulta a passagem da
água.
FOLHA - Já ouvi de engenheiros
que, com as chuvas seguidas, o subsolo de São Paulo está saturado.
KUTNER - Isso é verdade. Com
mais de 20 dias seguidos de
chuvas, o solo acaba se saturando. Para piorar as coisas, o volume de poros no solo é pequeno
e os poros não se comunicam
entre si. Todas as colinas de São
Paulo -a avenida Paulista, Perdizes, a Pompeia- têm essa
composição argilosa, com poros pequenos e isolados.
FOLHA - A prefeitura está construindo calçadas permeáveis e reabrindo córregos que estavam concretados. Isso faz sentido?
KUTNER - Não sou contra essas
medidas, mas o nosso solo não
é grande coisa na capacidade de
absorver água. A eficiência do
aumento da permeabilização
não é o que se espera.
FOLHA - O sr. está dizendo que esse
plano vai fracassar?
KUTNER - Contar com o aumento da permeabilização para resolver o problema das enchentes não faz sentido, porque o
solo embaixo é impermeável.
Aumentar a permeabilização
tem uma eficiência muito pequena, porque só uma casquinha será permeável. Vai ser como um mataborrãozinho numa
pia de granito. Logo, essa camada vai ficar saturada de água.
FOLHA - Qual é a solução?
KUTNER - É preciso fazer piscinões, não vejo outra solução. O
problema é que as chuvas caem
fortes em períodos curtos.
FOLHA - Há algo a ser feito no rio
Tietê para elevar a sua capacidade?
KUTNER - A ideia de afundar a
calha do Tietê já se esgotou,
porque ela atingiu a profundidade dos afluentes. Poderiam
criar paredes verticais para reter a água, em vez de paredes
em forma de trapézio que existem hoje. Com a parede vertical, o rio teria mais capacidade.
Mas o custo dessa construção é
absurdo e resolve só até certo
ponto. O Tamanduateí tem paredes verticais e já está nos limites do esgotamento. O melhor é cuidar dos afluentes do
Tietê, para que a água não chegue tão rapidamente a ele.
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