São Paulo, sábado, 29 de janeiro de 2011

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BICHOS

VIVIEN LANDO

Comê-los ou não comê-los?


Cerca de 70% dos veganos e vegetarianos o são por convicção, por ética, por amor aos animais


UMA AMIGA RUSSA ouviu o seguinte: quem ama os bichos não os come, e quem os come não pode dizer que os ama. Assunto delicado para botar regra tão impiedosa, ainda mais vindo de um país gelado como aquele e onde a defesa dos animais e da natureza em geral começou a ganhar força apenas após o fim do comunismo.
Quando morei lá fui avisada de que não poderia viver só de bananas (palavras deles) a uma temperatura de menos 15C. Mas persisti. E sobrevivi.
No Brasil o clima é outro, porém a maioria adora uma carne, se possível diária. Curiosamente, desobedecendo as estatísticas mundiais, cerca de 70% dos vegetarianos e veganos daqui o são por convicção, por ética, por amor aos animais e por não querer que suas refeições sejam resultado de chacinas.
É curioso que na dieta koscher, dos judeus, exige-se que os bichos sejam sacrificados sem sofrimento, a fim de que esta dor não seja transmitida para o consumidor. Ou seja, são conhecimentos muito antigos a orientar práticas eternas. De qualquer forma, não deixam de comer carne vermelha e branca.
Esta distinção de cor na verdade só existe quando se fala em termos de preservação da saúde (a humana), pois tanto uma vaca quanto uma galinha ou uma truta são iguais em direito de sobrevivência e dignidade. E quem já conversou com uma avestruz e sua tranquilidade pré-histórica jamais a colocaria num prato. Pelo menos é o que se imagina.
Claro que vão argumentar que os próprios animais se devoram entre si, e aí? Não dá para esquecer que obedecem a uma cadeia alimentar minuciosa e autopreservante, enquanto nós armazenamos em nossos açougues e granjas cadáveres para vários meses.
Numa atmosfera bem de guerra, aliás, como se amanhã de manhã fossem desaparecer, sob a ameaça do aquecimento global, as pastagens infinitas que ajudaram a piorá-lo. Ou como se os galináceos do mundo todo e os patos e marrecos e perus fossem sair por aí bicando um por um quem já os degustou.
E como se os gansos franceses fossem finalmente se recusar peremptoriamente a receber alimento forçado através de um funil goela abaixo para virarem um foie gras daqueles.
Coisa que eles já deveriam ter feito há muito tempo!


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