São Paulo, domingo, 29 de fevereiro de 2004

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SEGURANÇA

São Paulo e Guarulhos dizem que dados do Infocrim que recebem são insuficientes para uma ação preventiva

Cidades criticam base de dados de crimes

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

As prefeituras de São Paulo e de Guarulhos afirmam que o Infocrim (base de dados informatizada das ocorrências policiais no Estado) não está cumprindo o seu papel de orientar ações municipais de prevenção ao crime.
Segundo as duas primeiras cidades a receber o sistema -outras foram incorporadas depois-, o acesso oferecido pela Secretaria Estadual da Segurança Pública é insuficiente e não traz dados para a elaboração de programas locais contra a violência.
O Infocrim é um sistema informatizado, disponível para as polícias Militar e Civil, que permite mapear crimes com base em variáveis como tipo de delito, horário e local em que foram cometidos e características dos envolvidos. Ele foi criado em São Paulo no final de 2000, mas a promessa é que o sistema seja estendido a todo o Estado.
O sistema começou a sair do papel em 2002, com a liberação de cerca de R$ 400 mil do Fundo Nacional de Segurança para o Fórum Metropolitano de Segurança de São Paulo, que reúne 39 municípios. O sistema é alimentado pelos dados dos distritos policiais e serve de referência para ações da polícia estadual.
Mas o programa também deveria subsidiar ações municipais de prevenção à criminalidade -por isso, a liberação do dinheiro pelo fórum. O convênio já previa que as prefeituras não teriam o mesmo acesso que um distrito policial, mas São Paulo e Guarulhos afirmam que a versão simplificada oferecida aos municípios torna o programa praticamente inútil.

Acesso limitado
"É um acesso extremamente limitado. Não há condições de traçar estratégias para a guarda e para a prefeitura. Com essa versão, é impossível fazer um planejamento estratégico preventivo", afirmou Benedito Domingos Mariano, secretário da Segurança Urbana da cidade de São Paulo.
A Prefeitura de São Paulo, administrada pelo PT, tem acesso ao Infocrim há dez meses.
Os municípios têm acesso a apenas dois mapas do Infocrim, segundo Paulo de Mesquita Neto, secretário-executivo do Instituto São Paulo Contra a Violência e do fórum metropolitano. "Não estou dizendo que o governo rompeu o convênio, mas, realmente, as informações são poucas", disse.
De acordo com ele, o primeiro mapa traz a concentração de crimes por regiões. O segundo retrata as ruas com maior ocorrência de crimes, só que não informa os números absolutos. Divide as ruas por faixas -onde são informados o mínimo e o máximo de ocorrências por região.
Segundo Mariano, o acesso restrito impede a formulação de um programa de segurança nas escolas municipais baseado em dados estatísticos. "Montamos o serviço com a ajuda de professores. Com o Infocrim, poderíamos confirmar se estamos agindo no lugar certo", afirma.
Mariano diz que vai submeter essa questão ao fórum, que tem uma reunião marcada para o começo de março. "Em New York e em Londres, a população consegue saber dados criminais de seu distrito pela internet [em São Paulo, apenas da cidade]. Isso prova que essas informações não comprometem em nada a ação policial", diz Mesquita Neto.

Ineficaz
Para Rubens Isquierdo Marques Gonçalves, secretário para Assuntos de Segurança de Guarulhos, município administrado pelo PT, o acesso disponibilizado do Infocrim é ineficiente. "Na prática, para o serviço ao qual se dispõe, mostrou-se ineficaz. Até agora, o Infocrim teve pouca valia." O município tem acesso ao Infocrim há cinco meses.
Ele diz que a prefeitura precisa ter acesso a dados absolutos, e não por faixas, e necessita de uma identificação mais exata do local do crime. "Dependendo da cidade, existem muitos cruzamentos em uma área delimitada. Precisamos de uma localização precisa para colocarmos a nossa guarda nos piores cruzamentos", explica.
O consultor para assuntos de segurança pública de Mogi das Cruzes, último município a ter acesso ao Infocrim, Isidoro Dori Boucault Netto, informou, por meio da assessoria da prefeitura, que "qualquer modificação no sistema para dar mais precisão aos mapas será bem-vinda".
O município administrado pelo PSDB -mesmo partido do governo estadual- tem acesso ao sistema de dados há dois meses. Na nota, Boucault Netto afirma que o Infocrim foi uma conquista para a cidade, mas não comentou se os dados disponíveis até agora são suficientes para atingir o objetivo do programa.

Outro lado
Questionada sobre o problema, a assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou apenas que cumpriu o que previa o convênio entre o governo e as prefeituras. Não comentou, por exemplo, se haveria possibilidade de aumentar o acesso aos municípios da região metropolitana.



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