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ABASTECIMENTO
Documento da empresa orienta funcionários a "minimizarem especulações" sobre racionamento na Grande SP
Sabesp maquia crise no sistema Cantareira
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo) maquia as informações sobre a crise no maior sistema de abastecimento da Grande
São Paulo, o Cantareira.
A Folha obteve documento interno da empresa, intitulado "Estratégia de Comunicação - Posicionamento Atual" e produzido
pela Superintendência de Comunicação, que estabelece orientações para um discurso padrão sobre o racionamento de água.
O texto recomenda "focar (o)
racionamento no sistema Alto
Cotia, até mesmo para minimizar
especulações a respeito do sistema Cantareira" porque "é mais
fácil trabalhar com este universo
(380 mil pessoas)" que são abastecidas pelo Alto Cotia.
Segundo a presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores
em Água, Esgoto e Meio Ambiente), Elisabeth Tortolano, o documento foi distribuído para funcionários de níveis superiores ao
de gerência. "Com a melhor das
intenções, eles estavam dizendo,
por exemplo, que o racionamento
seria inevitável", conta Elisabeth.
Responsável pelo fornecimento
de água para 9 milhões de pessoas
em São Paulo e municípios da região metropolitana (53% da população total), o sistema Cantareira estava ontem com 38,8% de
sua capacidade operacional. O índice é o menor desde 1987 e está
11,2 pontos percentuais abaixo da
capacidade operacional mínima
histórica em março, que é de 55%.
O déficit de chuvas no sistema,
até fevereiro, era de 169 milímetros. Tudo indica que as precipitações de março também ficarão
abaixo do esperado porque, até
ontem, o acumulado era de 140,3
milímetros, quando a média histórica do mês é 197,2 milímetros.
O agravante da situação do
Cantareira está no fato de, em razão de seu grande volume de reservação, ele ter reposição bianual. Isso significa que os seis reservatórios que formam o sistema
levarão dois anos para voltar a encher, em vez de um ano, como
ocorre com os demais.
Em entrevista à Folha na sexta-feira passada, o secretário de Estado dos Recursos Hídricos, Antonio Carlos de Mendes Thame,
afirmou que "o que pode vir a
acontecer é um problema de colapso no Cantareira".
A opinião é compartilhada pelo
professor Aldo Rebouças, pesquisador da área de recursos hídricos
do Instituto de Estudos Avançados da USP. "O problema é seríssimo porque o nível se aproxima
do lastro (limite) do sistema."
Segundo Rebouças, o documento da Sabesp revela uma "estratégia comercial e política de esconder uma bomba prestes a explodir e torcer para que a fumaça
não chegue às pessoas". Para ele,
por seu caráter público e por lidar
com um bem essencial, a empresa
deveria ser mais ética.
"Em vez de estratégia de comunicação, eu chamo isso de estratégia de tapeação", afirmou o deputado estadual Cândido Vaccarezza (PT), que também teve acesso
ao documento da Sabesp.
Anteontem, Vaccarezza protocolou na Assembléia um requerimento de informações à empresa
sobre a real situação dos sistemas
de abastecimento de São Paulo.
O deputado Nivaldo Santana
(PC do B), ex-presidente do Sintaema e funcionário da Sabesp,
considera a atitude da empresa
um "desprezo à opinião pública"
e diz que a situação no Cantareira
é a mais crítica dos últimos anos.
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