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MORTE EM EXPOSIÇÃO
Homem foi atropelado por ônibus perto da sede da prefeitura; cena atraiu curiosos durante toda a tarde
Corpo fica por mais de 5 horas em frente ao Teatro Municipal
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O corpo de um homem de 46
anos atropelado por um ônibus
permaneceu ontem por mais de
cinco horas no meio da rua, em
frente ao Teatro Municipal de São
Paulo e a menos de 300 metros da
sede da Prefeitura de São Paulo.
A presença da vítima, que ficou
estendida num dos cartões-postais da capital paulista, atraiu uma
multidão de curiosos durante toda a tarde. Guardas e agentes de
trânsito tiveram dificuldade para
preservar a área, invadida diversas vezes por crianças e adolescentes que vivem na rua e que
chegaram a brincar com a poça de
sangue.
Agenor Carvalho Filho, 46, foi
atropelado por um ônibus da viação Santa Brígida no cruzamento
da praça Ramos de Azevedo com
a rua Xavier de Toledo, uma das
travessias de maior movimento
em São Paulo, com mais de 6.000
pedestres a cada hora nos picos.
O acidente fatal foi registrado
pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) às 13h34. O
corpo foi retirado pelo IML (Instituto Médico Legal) às 18h50, depois de as imagens da concentração de curiosos serem divulgadas
ao vivo por emissoras de TV. A lavagem da via começou às 19h30.
Não houve transtornos ao trânsito porque a vítima ficou num lugar onde passam mais pedestres
do que carros. Ele foi atropelado
em cima da faixa de travessia,
mas, segundo testemunhas, a indicação de verde do semáforo era
favorável ao motorista do ônibus.
Camelôs da região diziam que
ele teria sido empurrado por um
assaltante, mas três pessoas que
prestaram depoimento à polícia
indicaram que ele se jogou na lateral do veículo que passava.
Uma delas, funcionária de um
pronto-socorro onde ele esteve
poucos minutos antes do acidente, afirmou que a vítima estaria
com transtornos mentais, bastante agitado e teria manifestado a intenção de pular de um prédio.
O corpo foi arrastado pelo ônibus e teve uma parte desmembrada. Apesar da chegada do Corpo
de Bombeiros, da GCM (Guarda
Civil Metropolitana) e da CET logo depois do atropelamento, ele
permaneceu à espera do IML porque a morte foi instantânea, sem
haver a possibilidade de socorro.
Para não ficar totalmente exposto, ele foi coberto, algo que
não evitou a curiosidade dos pedestres que passavam na região.
"Todo mundo queria ver. As
mulheres até passavam mal", disse Maria Lucia, 38, ambulante que
trabalha em frente ao teatro.
"Difícil foi controlar essa molecada", contou a vendedora R.T.,
42, em referência às crianças que
insistiam em brincar ao lado do
corpo, tentando driblar os guardas e os agentes de trânsito.
Às 19h, quando o corpo já havia
sido retirado, três delas aproveitavam a retirada da vítima dez minutos antes para brincar com a
poça de sangue. Molhavam pedaços de madeira e de pano e os jogavam em cima dos colegas.
A brincadeira foi interrompida
minutos depois por dois GCMs,
que se diziam cansados de ter de
afastá-las a todo momento.
Quem trabalha na sede da CET,
da SPTrans (São Paulo Transporte, que gerencia os ônibus municipais) e da Secretaria dos Transportes, cujo prédio tem grandes
janelas de vidro, tinha visão privilegiada do local onde a vítima ficou durante toda a tarde.
Deneval Santana, 49, que trabalha há mais de dez anos numa
banca de jornal diante do cruzamento, afirma já ter presenciado
outros atropelamentos, um deles
há três meses. "Mas nunca demorou tanto para tirarem daqui",
disse ele, que não ouviu nenhum
barulho da colisão. "Só percebi
que tinha alguma coisa de errado
quando começou a juntar muita
gente", afirmou Santana.
A Secretaria da Segurança Pública informou ontem que a ocorrência de atropelamento foi registrada no 3º DP (Santa Ifigênia) e
que "os procedimentos comuns
foram realizados" -como a presença de delegado no local e a separação de testemunhas.
A pasta informou, porém, que a
delegacia vai apurar a causa da
"demora na comunicação ao
IML" para a retirada do corpo.
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