São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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MORTE EM EXPOSIÇÃO

Homem foi atropelado por ônibus perto da sede da prefeitura; cena atraiu curiosos durante toda a tarde

Corpo fica por mais de 5 horas em frente ao Teatro Municipal

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O corpo de um homem de 46 anos atropelado por um ônibus permaneceu ontem por mais de cinco horas no meio da rua, em frente ao Teatro Municipal de São Paulo e a menos de 300 metros da sede da Prefeitura de São Paulo.
A presença da vítima, que ficou estendida num dos cartões-postais da capital paulista, atraiu uma multidão de curiosos durante toda a tarde. Guardas e agentes de trânsito tiveram dificuldade para preservar a área, invadida diversas vezes por crianças e adolescentes que vivem na rua e que chegaram a brincar com a poça de sangue.
Agenor Carvalho Filho, 46, foi atropelado por um ônibus da viação Santa Brígida no cruzamento da praça Ramos de Azevedo com a rua Xavier de Toledo, uma das travessias de maior movimento em São Paulo, com mais de 6.000 pedestres a cada hora nos picos.
O acidente fatal foi registrado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) às 13h34. O corpo foi retirado pelo IML (Instituto Médico Legal) às 18h50, depois de as imagens da concentração de curiosos serem divulgadas ao vivo por emissoras de TV. A lavagem da via começou às 19h30.
Não houve transtornos ao trânsito porque a vítima ficou num lugar onde passam mais pedestres do que carros. Ele foi atropelado em cima da faixa de travessia, mas, segundo testemunhas, a indicação de verde do semáforo era favorável ao motorista do ônibus.
Camelôs da região diziam que ele teria sido empurrado por um assaltante, mas três pessoas que prestaram depoimento à polícia indicaram que ele se jogou na lateral do veículo que passava.
Uma delas, funcionária de um pronto-socorro onde ele esteve poucos minutos antes do acidente, afirmou que a vítima estaria com transtornos mentais, bastante agitado e teria manifestado a intenção de pular de um prédio.
O corpo foi arrastado pelo ônibus e teve uma parte desmembrada. Apesar da chegada do Corpo de Bombeiros, da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e da CET logo depois do atropelamento, ele permaneceu à espera do IML porque a morte foi instantânea, sem haver a possibilidade de socorro.
Para não ficar totalmente exposto, ele foi coberto, algo que não evitou a curiosidade dos pedestres que passavam na região.
"Todo mundo queria ver. As mulheres até passavam mal", disse Maria Lucia, 38, ambulante que trabalha em frente ao teatro.
"Difícil foi controlar essa molecada", contou a vendedora R.T., 42, em referência às crianças que insistiam em brincar ao lado do corpo, tentando driblar os guardas e os agentes de trânsito.
Às 19h, quando o corpo já havia sido retirado, três delas aproveitavam a retirada da vítima dez minutos antes para brincar com a poça de sangue. Molhavam pedaços de madeira e de pano e os jogavam em cima dos colegas.
A brincadeira foi interrompida minutos depois por dois GCMs, que se diziam cansados de ter de afastá-las a todo momento.
Quem trabalha na sede da CET, da SPTrans (São Paulo Transporte, que gerencia os ônibus municipais) e da Secretaria dos Transportes, cujo prédio tem grandes janelas de vidro, tinha visão privilegiada do local onde a vítima ficou durante toda a tarde.
Deneval Santana, 49, que trabalha há mais de dez anos numa banca de jornal diante do cruzamento, afirma já ter presenciado outros atropelamentos, um deles há três meses. "Mas nunca demorou tanto para tirarem daqui", disse ele, que não ouviu nenhum barulho da colisão. "Só percebi que tinha alguma coisa de errado quando começou a juntar muita gente", afirmou Santana.
A Secretaria da Segurança Pública informou ontem que a ocorrência de atropelamento foi registrada no 3º DP (Santa Ifigênia) e que "os procedimentos comuns foram realizados" -como a presença de delegado no local e a separação de testemunhas.
A pasta informou, porém, que a delegacia vai apurar a causa da "demora na comunicação ao IML" para a retirada do corpo.


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