São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Mais importante é o simbolismo da decisão gaúcha, diz ministra

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Feministas, pesquisadores da USP e da Unicamp, a ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e até a Anistia Internacional dizem repudiar o funk "Tapinha", que, segundo eles, "dói, sim [e humilha]". E aplaudiram a decisão da Justiça Federal gaúcha segundo a qual a letra "banaliza a violência contra as mulheres".
"A música é um grau de liberdade sem limites que associa erotismo e violência contra a mulher. Está na contramão do debate da violência contra as mulheres. Não pode ser defendida como uma expressão artística inocente. O que está em discussão é a responsabilidade cultura e social de um grupo que exerce influência de massa", diz a feminista Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, que desenvolve projetos sobre direitos da mulher.
Para a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, "a decisão da Justiça é muito boa".
"O que é mais importante é o simbolismo [da decisão]. A sociedade vai se acostumando a isso. Então um tapinha não dói nas crianças, um tapinha não dói nas mulheres e isso se vulgariza. É banalizar a violência e a forma de as pessoas se relacionarem", afirmou a ministra.
A socióloga Vânia Pasinato, do Núcleo de Estudos da Violência da USP e pesquisadora da Unicamp, diz que o funk "Tapinha" é discriminatório e reforça a idéia de que a violência contra as mulheres não deve ser combatida.
"A música passa essa mensagem. Tapa de amor não dói? Dói. E muito. A música tem um caráter discriminatório. E [a decisão é] uma medida positiva, que deve servir de alerta para que se promova mais a igualdade e menos a violência. Não se combate a violência só pelo agressor. A maneira mais eficaz é mexer na cultura e na educação", avalia Pasinato.
Em relatório, a Anistia Internacional diz que a letra "Se te bota maluquinha / um tapinha vou te dar / Porque / Dói, um tapinha não dói" é "exemplo de uma grande aceitação cultural da submissão feminina".
"A mídia às vezes estimula a visão de que a violência contra a mulher é aceitável, até sexy", diz o relatório.
Para a ministra, não houve exagero do politicamente correto. "Um tapinha dói, sim. Humilha. Sou mulher e não gosto de ser tratada dessa maneira."


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