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Vereador dribla Cidade Limpa e põe outdoors na divisa de SP
Rodovias próximas de São Paulo exibem mensagens de Adilson Amadeu (PTB)
Amadeu diz que não há incoerência em apoiar a Lei Cidade Limpa, de SP, e usar outdoors; nas estradas, diz ele, não há poluição visual
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O vereador paulistano Adilson Amadeu (PTB) votou a favor da Lei Cidade Limpa, que
baniu outdoors em São Paulo,
mas usa o mesmo tipo de mídia
vetado para fazer propaganda
em estradas após a divisa da cidade -um outdoor na rodovia
Ayrton Senna, colado à marginal Tietê, na zona leste. Por alguns metros, não está em São
Paulo -fica em Guarulhos.
Na rodovia Imigrantes, Amadeu tinha um outdoor em situação similar -ficava em Diadema, a metros da divisa com
São Paulo. Se tudo der certo, o
vereador colocará um outdoor
na rodovia Fernão Dias, também perto da fronteira.
As mensagens da propaganda são parecidas, sempre relacionadas ao trânsito. "Use sempre o cinto de segurança",
anuncia o outdoor na rodovia
Ayrton Senna. "No feriadão, se
beber, não dirija", dizia o que
estava na Imigrantes.
Se tudo der certo, o outdoor
da Fernão Dias pregará: "Não
dirija usando celular".
O vereador diz que não há incoerência em apoiar a Lei Cidade Limpa e usar outdoors. Na
estrada, segundo ele, não há poluição visual. "Lá é diferente. O
outdoor é até uma companhia
para o motorista."
É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha
do que encontrar qualquer coerência na legislação eleitoral
brasileira. "Nada no direito
eleitoral brasileiro tem uma
norma clara", diz o advogado
Alberto Rollo, que tem 43 anos
de experiência na área. "Se me
perguntarem se pode um outdoor como esse, eu digo que pode, mas eu mesmo já tive clientes condenados por mensagens
parecidas."
Segundo ele, para configurar
propaganda eleitoral é preciso
que a mensagem tenha três características: 1) cite o cargo; 2)
apresente os méritos do político; e 3) indique o que ele fará se
for eleito.
Mensagens educativas e de
saudação a alguma data, como o
Natal, não reúnem esse trio de
exigências e, portanto, não podem ser consideradas como
propaganda eleitoral.
Rollo não cita o nome de seu
cliente, mas há um caso famoso
de político condenado por colocar em 37 outdoors mensagens
de apoio ao Dia das Mães em
2006. Aconteceu com o deputado estadual Orlando Morando (PSDB-SP). A mensagem dizia: "Mãe... Não existe palavra
para traduzir sua importância!
Feliz dia das Mães!!!".
Em junho de 2006, Morando
foi condenado a pagar uma
multa de R$ 21.282. O juiz James Siano considerou que houve prática antecipada de propaganda eleitoral.
Um caso que poderia ser interpretado como propaganda
eleitoral mais explícita, porém,
acabou absolvido pelo TSE
(Tribunal Superior Eleitoral).
A instância máxima da Justiça
Eleitoral decidiu que não houve irregularidade em outdoors
assinados pelo deputado estadual Celso Giglio (PSDB-SP)
que diziam: "Celso Giglio pediu. Serra atendeu. Osasco terá
sua Fatec". Para o TSE, trata-se
de promoção pessoal, não de
propaganda eleitoral.
Amadeu considera que os
outdoors que levam seu nome
não são propaganda pessoal
nem eleitoral. "É utilidade pública, é educação para o trânsito. Faço isso há 12 anos, antes
de ser eleito", diz.
O vereador, que é despachante, diz que iniciou esse tipo de
campanha ao perceber a falta
de educação no trânsito: "90%
dos motoristas falam no celular
dirigindo; 50% dirige sem cinto
de segurança", cita.
Quem paga a conta, segundo
ele, é a sua empresa, a Sodesp,
de despachantes. O aluguel do
outdoor da Ayrton Senna consome R$ 2.200 por mês.
Ao ser lembrado pela reportagem da Folha que um aluguel
de outdoor em estrada pode
custar R$ 8.000 por mês, Amadeu disse que esse era o aluguel
que ele pagava pelo outdoor da
Imigrantes. "Paguei seis meses
e não agüentei." Ele diz que, se
tivesse mais dinheiro, colocaria
mais outdoors nas estradas.
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