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Sabesp distribui água imprópria no litoral de SP
Testes encontram coliformes acima do estabelecido pelo Ministério da Saúde
Em Santos, a água foi reprovada em nove de 14 meses; Guarujá teve 18% das amostras reprovadas em fevereiro do ano passado
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sabesp distribui água imprópria para consumo humano
durante a maior parte do ano
na Baixada Santista e em parte
do litoral sul paulista, segundo
testes de potabilidade realizados pela própria companhia.
Os dados mostram que, principalmente durante o verão, a
água chega às torneiras com coliformes fecais (bactérias presentes nas fezes) em índices
acima do estabelecido pelo Ministério da Saúde em uma portaria publicada em 2000.
A legislação só permite que
haja os chamados coliformes
totais (oriundos de matéria orgânica) em no máximo 5% das
amostras analisadas. Em relação aos coliformes termotolerantes, que aponta que houve o
contato da água com o esgoto, a
restrição é total (0%).
Em Santos, por exemplo,
principal cidade do litoral de
São Paulo, com população estimada em 425.677 habitantes,
entre janeiro do ano passado e
fevereiro deste ano, a água foi
reprovada em 9 dos 14 meses.
No Guarujá, em que o problema ocorreu em dez meses, em
fevereiro do ano passado 18%
das amostras apresentaram coliformes totais, índice que caiu
para 15% no mês seguinte.
Cidade em condição ainda
pior, com 11 meses de água em
risco, Bertioga, um pouco mais
ao norte, teve 4% das amostras
com coliformes termotolerantes em fevereiro de 2006.
O problema é maior nos meses de verão, de acordo com a
Sabesp -empresa controlada
pelo governo José Serra
(PSDB)-, porque chove mais, o
que piora a qualidade da água
que chega à estação de tratamento (a estatal promete melhorar o tratamento nos próximos anos com a implantação de
novos sistemas).
"A presença de coliformes na
água indica a possibilidade de
transmissão de doenças", diz
José Luiz Negrão Mucci, 48,
professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo).
Caso algum agente causador
de doenças, como hepatite e cólera, entre em contato com a
água, pode chegar às torneiras.
Os dados disponíveis, porém,
são insuficientes para apontar
ou dissociar os casos de diarréia
aguda com os problemas no
abastecimento de água.
Em 2005, a antiga DIR (Direção Regional de Saúde) de Santos registrou 5.592 casos de
pessoas que procuraram postos
de saúde com sintomas, para
um total de 467.933 no Estado.
Santos, por exemplo, teve 85
casos, enquanto Peruíbe -que
registrou falta de qualidade da
água em oito meses- chegou a
2.631 casos em 2005.
Prevenção
Para evitar riscos, o consumidor deve ferver a água durante
pelo menos 30 minutos, aconselha o professor Mucci, que é
doutor em saúde pública.
A Sabesp, porém, considera
que não há nenhum tipo de risco em consumir a água na Baixada. "As impropriedades,
quando ocorrem, são pontuais.
Não há nenhuma razão para
preocupação. São pontos isolados, e a Sabesp garante absoluta certeza da potabilidade da
água", afirma Umberto Semeghini, diretor de Sistemas Regionais da companhia.
Os relatórios são "preocupantes", diz o professor Léo
Heller, do departamento de engenharia sanitária e ambiental
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "O mais
grave é a presença de coliformes termotolerantes, pois pode haver algum agente patogênico na água", diz.
Para Heller, que considera a
estatal paulista uma das empresas de saneamento mais capacitadas do país, "há problemas no tratamento, e a Sabesp
sabe quais são."
A Baixada Santista é a região
do Estado servida pela Sabesp
- que atua em 366 municípios
paulistas- com os piores indicadores de qualidade da água.
A cidade de São Paulo, por
exemplo, não teve nenhuma
anomalia, como a grande maioria das áreas atendidas pela empresa estatal.
Do total, em 117 cidades houve registros de impropriedades
na água, mas foram episódios
isolados. Somente quatro municípios, com exceção dos localizados no litoral, tiveram acima de quatro meses com registros inadequados.
Ou seja, segundo os especialistas ouvidos pela Folha, a Sabesp conta com tecnologia e
capacitação técnica para melhorar o tratamento da água na
Baixada Santista.
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