São Paulo, quinta-feira, 29 de abril de 2010

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Excluído inventa até asma por dose antigripe

Relatos de doenças inexistentes são feitos em postos para inclusão na campanha nacional de vacinação contra a doença

Conduta é condenada pelo governo porque prejudica estratégia voltada a grupos de risco que mais sofreram com o vírus durante 2009

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pessoas que foram excluídas pelo Ministério da Saúde da campanha de vacinação contra a gripe suína por não integrarem nenhum grupo de risco estão dando um "jeitinho" de tomar a vacina. Nos postos, elas inventam doenças como asma, bronquite e diabetes, aproveitando-se de que os doentes crônicos estão entre os grupos vacinados e que não é necessário apresentar nenhum atestado.
Assim, além de se imunizar, evitam pagar cerca de R$ 90 para as clínicas particulares.
A prática é condenada pelo ministério, já que o número de doses da vacina é limitado e pessoas que precisam mais podem ser prejudicadas.
Os grupos de risco da doença que estão sendo vacinados -grávidas, por exemplo- estão entre as principais vítimas de formas graves da doença. Por isso, foram escolhidos pelo ministério para a campanha.
A secretária Andrea (que não quis dar o nome verdadeiro), 46, é uma das que burlaram o sistema. Ela buscou no fim de semana a UBS da rua Aura, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e conseguiu vacinas para o filho, de 6 anos, e a sobrinha, de 12. Disse que as crianças tinham bronquite. Já seu irmão alegou sinusite. "Tenho medo que as crianças peguem a gripe", afirmou ela.
Na terça-feira passada, em São Paulo, uma professora de 44 anos da rede municipal deixava o Instituto Pasteur, na avenida Paulista, por volta das 16h45 e afirmou à Folha que não pensou duas vezes para inventar que tinha asma. "Fico muito exposta, em contato frequente com muitas crianças", disse, referindo-se à escola.
Na UBS Santa Cecília, centro de São Paulo, uma atendente contou à reportagem que várias pessoas que não se enquadram nos grupos de risco foram barradas, mas logo voltavam "com uma doença". "Como vamos provar o contrário?"
Em meia hora, a Folha conversou com quatro pessoas que foram vacinadas e não estão nos grupos de risco. Um deles, o zelador Manoel Silva, 61, nem sequer foi questionado se tinha doença. Entrou e recebeu a vacina. "Foi tranquilo. Só perguntaram a idade", afirmou ele.
O Ministério da Saúde pediu bom senso. "A não exigência de um atestado médico é um meio de desburocratizar o acesso (...). Os grupos convocados são aqueles que têm um maior risco de desenvolver formas graves da doença ou mesmo morrer", informou a pasta.


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