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Excluído inventa até asma por dose antigripe
Relatos de doenças inexistentes são feitos em postos para inclusão na campanha nacional de vacinação contra a doença
Conduta é condenada pelo governo porque prejudica estratégia voltada a grupos de risco que mais sofreram com o vírus durante 2009
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Pessoas que foram excluídas
pelo Ministério da Saúde da
campanha de vacinação contra
a gripe suína por não integrarem nenhum grupo de risco estão dando um "jeitinho" de tomar a vacina. Nos postos, elas
inventam doenças como asma,
bronquite e diabetes, aproveitando-se de que os doentes crônicos estão entre os grupos vacinados e que não é necessário
apresentar nenhum atestado.
Assim, além de se imunizar,
evitam pagar cerca de R$ 90 para as clínicas particulares.
A prática é condenada pelo
ministério, já que o número de
doses da vacina é limitado e
pessoas que precisam mais podem ser prejudicadas.
Os grupos de risco da doença
que estão sendo vacinados
-grávidas, por exemplo- estão
entre as principais vítimas de
formas graves da doença. Por
isso, foram escolhidos pelo ministério para a campanha.
A secretária Andrea (que não
quis dar o nome verdadeiro),
46, é uma das que burlaram o
sistema. Ela buscou no fim de
semana a UBS da rua Aura, em
São Bernardo do Campo, na
Grande São Paulo, e conseguiu
vacinas para o filho, de 6 anos, e
a sobrinha, de 12. Disse que as
crianças tinham bronquite. Já
seu irmão alegou sinusite. "Tenho medo que as crianças peguem a gripe", afirmou ela.
Na terça-feira passada, em
São Paulo, uma professora de
44 anos da rede municipal deixava o Instituto Pasteur, na
avenida Paulista, por volta das
16h45 e afirmou à Folha que
não pensou duas vezes para inventar que tinha asma. "Fico
muito exposta, em contato frequente com muitas crianças",
disse, referindo-se à escola.
Na UBS Santa Cecília, centro
de São Paulo, uma atendente
contou à reportagem que várias pessoas que não se enquadram nos grupos de risco foram barradas, mas logo voltavam "com uma doença". "Como vamos provar o contrário?"
Em meia hora, a Folha conversou com quatro pessoas que
foram vacinadas e não estão
nos grupos de risco. Um deles,
o zelador Manoel Silva, 61, nem
sequer foi questionado se tinha
doença. Entrou e recebeu a vacina. "Foi tranquilo. Só perguntaram a idade", afirmou ele.
O Ministério da Saúde pediu
bom senso. "A não exigência de
um atestado médico é um meio
de desburocratizar o acesso
(...). Os grupos convocados são
aqueles que têm um maior risco de desenvolver formas graves da doença ou mesmo morrer", informou a pasta.
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