São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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URBANIDADE

Oficina do tempo

Vincenzo Scarpellini
HOTEL CAMBRIDGE Uma visita à recepção e ao bar, onde o tempo, como numa fotografia, parece ter sido drenado para deixar tudo como era 50 anos atrás, leva a uma reflexão: a duração física de um espaço, ligada aos materiais, pode não ser igual à duração social, determinada pela moda e pelo gosto das pessoas. Mármore claro, madeira escura e veludo: o lugar agradaria a David Lynch (VINCENZO SCARPELLINI)

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Júlio Barros nasceu em Ouro Preto e tornou-se andarilho por causa do patrimônio histórico. Formado em restauração na Alemanha, viaja pelas cidades brasileiras para recuperar prédios, fachadas e esculturas -envolveu-se, por exemplo, na reforma do Pelourinho, em Salvador. E agora está desembarcando na avenida São João.
Contratado para salvar a fachada do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, ponto de encontro de intelectuais e de músicos no começo no século 20, na então elegante avenida São João, Júlio Barros vai tentar recuperar também o tempo perdido. Havia um tempo em que a arte do restauro, manejada pelos imigrantes italianos, passava de geração a geração. Mas o elo foi rompido; os mestres desapareceram e não deixaram herdeiros.
Numa parceria do Senai-MG, onde há curso para restaurador, com a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Júlio quer treinar jovens em restauro de prédios históricos -e, a partir desse núcleo, formar permanentemente mão-de-obra especializada para novas encomendas.
Ele quer repetir a experiência que iniciou no Pelourinho. "Nós colocávamos meninos de rua e filhos de prostitutas para trabalhar com obras de arte", conta. Trabalhava-se, ao mesmo tempo, com a história do país e da cidade e com a história individual -numa mistura de possibilidades profissionais e educação com a recuperação da auto-estima.
É um mercado promissor -até porque há incentivo fiscal para quem investir na recuperação de prédios tombados e falta mão-de-obra. Ali mesmo, nas imediações da São João, articula-se um projeto com recursos federais, estaduais e municipais, além de financiamento externo, para dar vida aos antigos cinemas, hoje abandonados ou servindo para exibir pornografia. A idéia é fazer dali uma área para musicais, articulada com os espaços culturais das redondezas (Correios, Masp da praça Patriarca e Centro Cultural Banco do Brasil, além do novo Sesc, no antigo prédio da Mesbla). Com projeto de Paulo Mendes da Rocha, autor da reforma da Pinacoteca do Estado, o prédio do Cine Olido vai receber várias secretarias municipais, entre elas a da Cultura e a do Meio Ambiente.
Alguns jovens matriculados na oficina de restauro já estão mostrando do que são capazes: fizeram murais, expostos na Casa Cor, inaugurada na segunda passada, onde dividem a atenção com os mais requisitados arquitetos e decoradores do país.

E-mail - gdimen@uol.com.br



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