São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Confronto entre policiais e traficantes aconteceu no morro da Coroa (centro); menina foi baleada dentro da escola

Tiroteio fere 4 e fecha túnel por 1 hora no Rio

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Policiais militares ocupam a rua Itapiru, na base do morro da Coroa (Catumbi, zona central do Rio), onde houve uma troca de tiros


DA SUCURSAL DO RIO

Um intenso tiroteio na tarde de ontem entre policiais e traficantes no morro da Coroa (Catumbi, zona central do Rio) resultou em quatro pessoas feridas a tiros e no fechamento por cerca de uma hora do túnel Santa Bárbara, um dos principais da cidade.
Houve pânico entre os motoristas que passavam pelo viaduto São Sebastião (acesso ao túnel). Muitos voltaram pela contramão ou abandonaram os carros.
A troca de tiros começou por volta das 14h. Após receber a denúncia de que haveria uma bomba no morro da Coroa, policiais do Serviço Reservado do 1º BPM (Batalhão de Polícia Militar) e da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes da Polícia Civil) ocuparam a favela.
Durante a ação, os policiais localizaram um grupo de 20 traficantes do vizinho morro da Mineira, ligados à facção criminosa CV (Comando Vermelho). Na noite anterior, o bando invadira a Coroa, controlada pelo TC (Terceiro Comando).
Armados com fuzis, os criminosos, que estavam escondidos em uma casa, trocaram tiros com policiais. Na fuga, passaram por dentro de uma escola, onde a aluna Ana Luíza do Carmo de Souza, 9, foi baleada.

Correria
Na esquina das ruas Itapiru e Doutor Agra, na base da favela, eles foram surpreendidos por PMs do Getam (Grupamento Tático-Móvel) e do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e houve nova troca de tiros.
Os motoristas que passavam pela Itapiru foram obrigados a voltar de ré para escapar dos tiros. O tiroteio também causou correria e pânico em um posto de gasolina, que ficou sob fogo cruzado. Três pessoas que estavam no posto acabaram baleadas.
Por medida de segurança, a PM, às 14h30, decidiu interditar o trânsito no túnel Santa Bárbara. Parte do morro da Coroa fica em cima do túnel. O tráfego foi liberado às 15h30.
Após o tiroteio, policiais do Bope, do Batalhão de Choque e da Core (Coordenação de Operações Especiais da Polícia Civil) ocuparam os dois morros, mas não conseguiram prender ninguém. Uma granada M-3, de uso exclusivo das Forças Armadas, foi apreendida.
A situação só ficou tranquila no local por volta das 16h30, quando as principais entradas dos morros da Mineira e da Coroa foram ocupadas pela Polícia Militar.

Novo comando
O confronto ocorreu no mesmo dia em que houve troca no comando do 1º Batalhão, encarregado de policiar a área. O novo comandante, tenente-coronel Jorge Braga, negou que os PMs tenham participado do confronto. Segundo ele, foram traficantes rivais que trocaram tiros.
A versão do comandante foi contestada por moradores e até mesmo por policiais sob seu comando, que relataram à Folha o que aconteceu no morro.
Na versão de Braga, 20 criminosos da Mineira, que invadiram a Coroa na noite de anteontem, ficaram encurralados pelo grupo rival, com quem trocaram tiros na fuga. O comandante disse que tiros foram disparados do alto do morro da Mineira em ajuda aos cúmplices encurralados.
Braga afirmou acreditar que pelo menos seis traficantes teriam sido baleados no alto do morro. Ele determinou uma busca por clínicas da região à procura dos criminosos. Até a noite, nenhum deles havia sido encontrado.
Apesar de o morro da Coroa estar ocupado há cerca de um mês pelo 1º BPM, os traficantes da Mineira passaram a madrugada na favela. Durante a invasão, na noite de anteontem, houve tiroteio.
De acordo com Braga, a quadrilha entrou por um ponto da favela onde não existia policiamento. Ele não soube informar o número de policiais que participavam da ocupação no local.
O comandante disse que o objetivo era tomar conta de uma área da Coroa de onde é possível ter uma visão ampla de todo o complexo de oito favelas do Catumbi, Rio Comprido, Estácio e Santa Teresa. O comando da área é dividido entre o CV e o TC.
O secretário da Segurança Pública, Roberto Aguiar, afirmou que vai pedir ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli que faça exames de balística para confirmar se os tiros que feriram as quatro pessoas foram disparados pelos traficantes ou por policiais.
Apesar do pedido, Aguiar disse não acreditar que os policiais sejam os autores dos disparos.



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