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DANUZA LEÃO
E agora?
A pergunta que mais se faz
às crianças é: "O que você
vai ser quando crescer?" Mas ninguém nunca pergunta: "O que você vai ser quando envelhecer?"
Em primeiro lugar, não ocorre a
ninguém que isso vá acontecer algum dia; mas o tempo é traiçoeiro, a velhice vai chegando de
mansinho e não poupa ninguém.
Você se defende, claro, começando por se recusar a falar no assunto e usando de todas as possibilidades reais -que felizmente são
infinitas- para ficar bem longe
do tema. Não dizer a idade nem
sob tortura é uma delas, mas não
adianta muito: tem sempre alguém -sempre tem- para lembrar que estiveram juntas na
inauguração de Brasília, e começa a fazer as contas, mentalmente, para lembrar quantos anos você devia ter, com quantos deve estar; erra -para mais, é claro-,
acrescenta três ou quatro anos
perfeitamente dispensáveis, e a
história fica pior ainda. Existem
as radicais, que acham que se deve começar a enganar a idade aos
12, mas para fazer isso só já tendo
uma grande experiência de vida,
o que não é bem o caso aos 12.
Há quem diga, em relação à velhice e a tudo em geral, que já
que ela é inevitável, o melhor é
relaxar e aproveitar; relaxar, sim,
mas aproveitar o quê? A experiência que a vida te trouxe? Ora,
ora.
Mas voltando: que tipo de pessoa você vai ser, quando não for
mais tão jovem? (Assim fica mais
leve). Fazer todos os sacrifícios e
empenhar as alianças de todos os
casamentos, se for preciso, para ficar mais esticadinha, mais lisinha, mais magrinha e com a perna mais durinha, é elementar;
mas existem outras maneiras de
lidar com o problema.
Deixar os cabelos embranquecerem -o chamado assumir- e
passar a cuidar dos netos é uma
delas. Não deixa de ser uma possibilidade, mas essa é uma vocação em extinção; hoje as avós costumam trabalhar e namorar, e,
para essas, passar os fins de semana cuidando das crianças enquanto os filhos vão curtir uma
praia não tem nada a ver. É emocionante ter netos, filhos dos nossos próprios filhos, mas eles não só
dão muito trabalho como são a
prova viva e barulhenta de que o
tempo está passando -o que é
melhor esquecer ou, pelo menos,
não lembrar o tempo todo.
Para as avós mais lúcidas, assumidas ou não, o Natal é a grande
provação. Todas as atenções dos
filhos vão para seus próprios filhos, cujas gracinhas são contadas e recontadas entre risos e beijos; as avós não conseguem abrir
a boca e dizer praticamente nada
-nem devem, pois ninguém está
interessado. Quando a festa acaba e todos vão embora, deixando
a casa em escombros -porque é
na casa delas, as avós, que os Natais acontecem-, existem procedimentos que devem ser seguidos
assim que sair o último convidado. O primeiro é tirar a árvore e
recolher todos os vestígios da data. Quando tiver acabado, mesmo
exausta e para lembrar que ainda
é uma pessoa, faça um grande
uísque com muito gelo (se é que o
gelo não acabou) e faça um brinde a você mesma. Depois, escolha
cuidadosamente um CD, aquele,
e lembre -com saudades, mas
sem saudosismo- de como foi
entrar num motel pela primeira
vez, com aquele homem que pra
você era tudo, ouvindo Roberto
Carlos cantando "Café da Manhã". E quando voltar à realidade (se voltar) lembre, sem nenhuma culpa, que o próximo Natal é
só daqui a um ano, isto é, daqui a
365 dias.
E se o ano for bissexto, 366 -o
que é melhor ainda.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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