São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Grávida é mantida viva para salvar bebê

Mãe tem quadro clínico irreversível; bebê tem 16 semanas e, para viver fora do útero, precisaria ter 28

JORGE DURAN
DO "AGORA"

Uma equipe médica tenta manter, por meio de aparelhos, as funções vitais da gestante Flávia Silveira da Silva, 25. Tudo para que o feto, hoje com 16 semanas, se desenvolva até viver fora do útero da mãe -na 28ª semana de gestação.
Grávida de quatro meses, Flávia foi atingida na cabeça, no sábado, por uma bala perdida em São Bernardo do Campo (ABC). Segundo os médicos, seu quadro clínico é irreversível, mas a morte cerebral ainda não pôde ser confirmada para não haver risco à criança.
Os médicos do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, pretendem manter a mulher com vida por, pelo menos, mais 12 semanas. Seu quadro ainda não está definido porque, para comprovar a morte cerebral, são necessários vários exames -e um deles consiste em desligar o oxigênio da mãe, o que poderia comprometer a vida do bebê, que não tem pulmões formados.
O caso de Flávia é considerado raro na medicina e, dizem os médicos, há registros de apenas outros dois casos no mundo: um na Espanha e outro no Brasil. No entanto, as outras gestantes estavam em período de gravidez mais avançado e, por isso, os bebês foram retirados.
O neurocirurgião Jorge Pagura explica que esta situação é diferente porque, com apenas quatro meses de gestação, não é possível fazer uma cesárea agora. "A criança pesa atualmente 190 gramas. Para a retirada, são necessários pelo menos 750."
Grávida do primeiro filho, a gestante já havia, segundo os familiares, escolhido o nome do menino: Guilherme. Flávia raramente saía à noite, segunda a família. Ela foi atingida quando voltava de uma quermesse. Os disparos foram feitos durante uma troca de tiros entre um assaltante e um guarda-civil.
A chefe da UTI neonatal do hospital, a pediatra Sandra Gianela, disse que as próximas semanas são cruciais. "A cada semana de sobrevivência, aumenta em 10% a chance de ele conseguir atingir os sete meses para ser retirado do útero."
Para se desenvolver, o bebê depende exclusivamente do oxigênio e da alimentação -agora por meio de sonda.


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