|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
83% dos alunos têm professor insatisfeito, afirma a Unesco
Entre 11 países emergentes, apenas docentes uruguaios estão mais insatisfeitos com os salários, segundo pesquisa
O total de estudantes cujos professores trabalham em mais de uma escola chega a 29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Os professores brasileiros,
com exceção apenas de seus colegas uruguaios, são os mais insatisfeitos com seus salários,
segundo um relatório divulgado ontem pela Unesco, no comparativo entre 11 países em desenvolvimento.
No estudo, 83% dos alunos
do ensino primário (equivalente, no caso brasileiro, aos quatro primeiros anos do ensino
fundamental) estão em classes
cujos docentes se declararam
insatisfeitos com os salários.
O relatório também mostra,
como já evidenciado em outros
estudos da Unesco, que as taxas
de repetência no ensino primário no Brasil destoam, e muito,
das de outros países.
No Brasil, a repetência chega
a 19% dos alunos no ensino primário, mais que o dobro da verificada no segundo país com
maior percentual, o Peru, com
8,8%.
O estudo da Unesco, intitulado "Um Olhar para o Interior
das Escolas Primárias", faz parte do programa WEI (sigla, em
inglês, de Indicadores Mundiais de Educação), que monitora a educação em países em
desenvolvimento.
Duplo emprego
Sobre o alto grau de insatisfação dos professores brasileiros
com seus salários, o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, destaca outro
dado do relatório, que mostra
que o percentual de alunos cujos professores trabalham em
mais de uma escola chega a
29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados.
Não por acaso, os outros dois
países com maiores percentuais nesse quesito são Argentina e Uruguai, onde igualmente
o nível de insatisfação com o salário chega a mais de 80%.
"Todo mundo que trabalha
sabe que uma dupla jornada
afeta o desempenho. Isso tem
certamente impacto em sala de
aula", diz Defourny.
A professora Sandra Aparecida Martins Ferreira, 38, concorda. Ela leciona tanto na rede
estadual quanto municipal na
zona leste de São Paulo. As nove horas e meia de trabalho diárias lhe rendem ao final do mês
R$ 2.200.
"É muito pouco, considerando o desgaste que temos. Os
alunos vêm cada vez mais com
problemas familiares e nós não
conseguimos desenvolver o
que desejamos. É frustrante",
diz Sandra, que dá aulas para
estudantes de 1ª a 4ª séries.
Infra-estrutura
Na maioria das situações
analisadas pelo estudo -como
a infra-estrutura das escolas ou
as condições de oferta do ensino- o Brasil se encontra perto
da média dos países analisados
-não foram analisados dados
de países desenvolvidos.
Os brasileiros, por exemplo,
não se mostraram tão insatisfeitos em relação ao número de
alunos por turma, a participação dos pais de alunos na escola
ou a oferta de material didático.
No caso do número de alunos
por turma, por exemplo, 34%
estudam em classes cujos professores demonstraram algum
grau de insatisfação com a
questão.
A média no ensino primário
brasileiro é de 27 crianças por
sala de aula. A maior relação foi
encontrada na Índia (51 por sala), e a menor, na Malásia (18
por sala).
Colaborou FÁBIO TAKAHASHI, da Reportagem
Local
Texto Anterior: Shopping Cidade Jardim obtém Habite-se Próximo Texto: Frase Índice
|