São Paulo, sexta-feira, 29 de maio de 2009

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Barragem se rompe, destrói casas e mata 4

80 pessoas se feriram; inundação ocorre menos de uma semana após governo do Piauí descartar possibilidade de rompimento da obra

Exército, Defesa Civil e bombeiros procuram os desaparecidos; vi "um verdadeiro tsunami", disse ontem o governador

Efrém Ribeiro
Equipe de resgate carrega, em uma rede, corpo de garota morta após o rompimento da barragem Algodões 1, em Cocal, no Piauí

MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

O rompimento de parte da barragem Algodões 1, no norte do Piauí, causou a morte de pelo menos quatro pessoas e deixou 80 feridos no município de Cocal (a 282 km de Teresina).
A onda de dez metros de altura espalhou estragos por uma área de 50 km2.
Cerca de 120 casas ficaram destruídas. São 2.000 pessoas desabrigadas e 953 desalojadas. De manhã, o governo do Estado falava em cem desaparecidos. No início da noite, esse número caiu para 11. As buscas foram interrompidas à noite.
Por volta das 16h de anteontem, 10 milhões de metros cúbicos de água represada do rio Pirangi (um quinto da capacidade da obra) vazaram quase que de forma instantânea após o rompimento de um pedaço de concreto da barragem por onde o excedente é escoado.
Há três semanas, o governo retirou cerca de 2.500 famílias da região em razão do risco de rompimento. Um dique foi construído a pedido do projetista da obra, o engenheiro Luiz Hernani, para conter a água. A barragem foi erguida em 2001.
As pessoas só começaram a retornar para casa após um parecer do projetista, na quinta-feira da semana passada, que dizia não haver mais risco.
Com o vazamento de água, que secou a barragem, duas garotas, uma de dez e outra de 12 anos, um homem de 72 anos e uma mulher de 73 anos morreram. O Exército, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros foram mobilizados.
O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), sobrevoou ontem as áreas atingidas e classificou o que viu de "um verdadeiro tsunami". Dias recebeu ontem uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que determinou apoio imediato da Secretaria Nacional de Defesa Civil.

Estragos
No município de Cocal, que tem 26.200 habitantes, postes e animais foram arrastados pela correnteza, pessoas se abrigaram em árvores e um trecho da BR-343 chegou a ser interditado. O fornecimento de energia foi cortado. Apenas um gerador mantém serviços essenciais, como o hospital, além do abastecimento de água.
A chuva que voltou a atingir a região na manhã de ontem deixou a população de Cocal ainda mais apreensiva. Desalojados não paravam de chegar à região central do município (que não sofreu com a enchente). Áreas próximas à barragem ficaram isoladas pela inundação.
Moradores que chegaram aos abrigos, improvisados em escolas, clubes e ginásios, relataram um cenário de destruição nas áreas mais atingidas.
Há relatos também de casas reviradas, geladeiras e fogões em cima de árvores e uma grande quantidade de animais, como bois e porcos, mortos.
A paróquia de Cocal se tornou uma espécie de centro de operações dos trabalhos de resgate. "A água não chegou à cidade, mas as comunidades vizinhas foram devastadas. Há pessoas mortas. O pessoal perdeu tudo. Tem muita gente que conseguiu fugir, que está no mato, nos morros, e terá de ser retirada de helicóptero", disse o pároco Everaldo Ramos.
O uso de abrigos improvisados ocorre também na vizinha Buriti dos Lopes, que, como Cocal, teve comunidades afastadas atingidas pelas águas da barragem. Desde anteontem, cerca de cem famílias foram retiradas de localidades alagadas.
"Estamos com o pessoal isolado, em áreas ilhadas. Há 50 famílias nessa condição. Não temos acesso a esses povoados, já que a água da barragem chegou até lá", disse o tenente-coronel Daniel Pereira da Silva, do Corpo de Bombeiros.


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